Bolsonaro e Castro defendem chacina no Rio

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Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

O presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), saíram ontem em defesa da operação policial que matou, na véspera, 25 pessoas na Vila Cruzeiro, zona norte da capital. Numa sequência de seis publicações, à noite, em seu perfil do Twitter, Bolsonaro politizou as críticas à violência da operação – ao dizer que representantes da esquerda “demonizam policiais e suavizam criminosos” – e afirmou que a morte de uma inocente, a cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, teria sido culpa de bandidos.

“É preciso entender de uma vez por todas que os maiores responsáveis pelas duras consequências às comunidades em operações são os próprios bandidos. São eles que decidem enfrentar a lei e colocar a própria vida em risco, bem como a de inocentes, para não pagarem por seus crimes”, publicou Bolsonaro.

A operação da Polícia Militar (PM) contou com parceria incomum com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e é a segunda mais letal da história no Rio, depois da ocorrida na favela do Jacarezinho, no ano passado, quando se registrou o recorde de 28 pessoas mortas. Ambas ocorreram sob a gestão de Castro, no mandato há 21 meses.

Diante da repercussão negativa, o governador não deu declarações em entrevistas mas também recorreu ao Twitter para defender a operação. “Apostar contra a polícia é fazer o jogo da bandidagem!”, escreveu.

Na véspera, Bolsonaro e Castro já haviam comentado a operação policial. “Parabéns aos guerreiros do Bope e da @PMERJ que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa”, publicou Bolsonaro, que disse ainda lamentar “pela vítima inocente”.

O tom predominante de comemoração, no entanto, deu lugar ontem a uma linha mais defensiva. “Àqueles que, no conforto de suas casas insistem em inverter os valores e criticar as forças de segurança por todo o mal que acontece, sugiro que experimentem visitar uma área dominada pelo crime organizado fardado como um policial”, publicou Bolsonaro. Para o presidente, cuja carreira política é marcada pelo rechaço aos direitos humanos, “querem te convencer que marginais (…) jamais abririam fogo covardemente contra agentes de segurança”.

Apesar de politizar o assunto ao se referir aos adversários da esquerda, Bolsonaro – e também Castro – não fizeram coro ao discurso do secretário da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, que logo após a operação culpou o Supremo Tribunal Federal (STF) pela suposta migração de criminosos para o Rio.

Em reação, o ministro da Corte Edson Fachin afirmou em nota ver “com muita preocupação” a realização de mais uma operação policial violenta no Rio. Fachin é o relator da ação no âmbito da qual o plenário do STF determinou, em 2020, a elaboração de um plano, com restrições à política de segurança pública do Rio, para reduzir a letalidade policial em comunidades.

O magistrado disse ter conversado ontem sobre a chacina com o procurador-geral de Justiça fluminense, Luciano Mattos de Souza. O ministro afirmou ao chefe do Ministério Público do Rio (MPRJ) que ficou preocupado com “mais uma ação policial com índice tão alto de letalidade”, mas que soube da “pronta atuação” do MPRJ. Ainda de acordo com a nota, Fachin disse ter “confiança de que a decisão do STF será cumprida, com a investigação de todas as circunstâncias da referida operação”.

Para o ex-chefe do Estado-Maior da PM do Rio, Robson Rodrigues, a declaração do secretário da PM – ao responsabilizar o STF pela necessidade da operação – reflete recente e inédita instrumentalização da polícia. Ele lembra que fala de mesmo teor já havia sido lançada, pela Polícia Civil, após a chacina no Jacarezinho. “Não bastassem as lambanças de ordem técnica e jurídica da operação, há o ingresso nessa seara perigosa. São discursos parecidos e estranhos, com método preocupante. É uma desculpa não cabível. Isso é muito novo. Não cabe à polícia se imiscuir em questões políticas”, disse.

Valor Econômico