Bolsonaro foca campanha nas mesmas regiões que Lula
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizaram dezenas de viagens como chefes do Executivo nos quatro primeiros meses do último ano dos respectivos primeiros mandatos, marcados pela busca da reeleição.
Lula esteve à frente do Palácio do Planalto pela primeira vez de 2003 a 2006, ano em que foi reeleito para mais quatro anos de governo. Jair Bolsonaro, por sua vez, governa o Brasil desde 2019 e tentará a reeleição em 2022.
Levantamento realizado pela Folha aponta que Lula, como presidente, visitou 51 municípios de janeiro a abril de 2006, o que inclui as repetições de algumas cidades. No mesmo intervalo de quatro meses, só que em 2022, Bolsonaro fez 40 visitas a cidades do país.
Os dados levaram em conta as agendas oficiais de Lula e de Bolsonaro como presidentes da República.
Ambos fizeram uma viagem a cada 4,4 dias de governo nos quatro meses iniciais do último ano do primeiro mandato. O indicador revela um compromisso fora de Brasília ao menos uma vez por semana, em média.
Colagem de imagem com Lula com os dedos próximos ao bigode e à barba e com um olhar de lado e de Bolsonaro com a mão próxima ao queixo e sorrindo com o rosto virado para o lado.
O ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro – Evaristo Sa/AFP
Apesar da diferença pró-Lula no número de visitas, os dois mandatários concentraram suas agendas predominantemente no Sudeste e no Nordeste, os dois maiores colégios eleitorais do país entre as regiões.
Na comparação por regiões, Bolsonaro esteve nas cinco do país, enquanto Lula visitou quatro, deixando de lado o Centro-Oeste naquele período.
Lula foi a 21 cidades do Sudeste (41%), 17 do Nordeste (33%) —região mais forte eleitoralmente para o PT desde 2002, 10 do Sul (20%) e a 3 do Norte (6%).
Já o presidente Bolsonaro também privilegiou o Sudeste (33%) e o Nordeste (28%), com 13 e 11 municípios visitados, respectivamente. O Sul recebeu 13% das agendas presidenciais em 2022, ou seja, cinco cidades.
A região Norte, a maior em extensão territorial, recebeu Bolsonaro sete vezes, 18%.
Enquanto Lula não pisou no Centro-Oeste no primeiro quadrimestre de 2006, Bolsonaro foi à região quatro vezes de janeiro a abril, o equivalente a 10% das ações fora de Brasília.
Assim como ocorreu com as de Lula em 2006, as viagens de Bolsonaro com tom eleitoral têm gerado críticas da oposição no Congresso Nacional. Os adversários acusam o mandatário de usar a máquina pública em prol da busca à reeleição.
Em fevereiro, por exemplo, o ex-senador Magno Malta (PL-ES) pediu voto para Bolsonaro ao microfone durante ato oficial da Presidência em Jardim de Piranhas (RN). Eventos do governo federal são custeados por verba pública.
De acordo com a legislação eleitoral, é proibido declarar candidatura antes da hora e fazer qualquer pedido de voto de forma explícita ou implícita.
As viagens de Bolsonaro em 2022 são marcadas por visitas a obras de infraestrutura e segurança hídrica, além de entrega de títulos de posse de propriedades e cerimônias ligadas a forças militares.
Das 40 visitas de Bolsonaro, 26 foram ao interior dos estados, enquanto 14 aconteceram em cidades de regiões metropolitanas, sendo 8 dessas em capitais: Macapá, Porto Velho, São Paulo, Salvador, Rio Branco, Cuiabá e Rio de Janeiro, onde foi duas vezes oficialmente.
Bolsonaro costuma usar os atos para atacar adversários políticos, como o PT e o ex-presidente Lula, principal adversário na corrida presidencial.
Na maioria dos casos, as agendas oficiais de Bolsonaro contam com a presença de grupos de apoiadores do presidente. Posteriormente, imagens dos atos costumam ser reproduzidas nas redes sociais de Bolsonaro, em defesa do governo e dos seus atos à frente do Executivo.
Por outro lado, as viagens de Bolsonaro não costumam contar com as presenças de governadores em estados cujos chefes do Executivo são da oposição. É o caso, por exemplo, do Nordeste, onde desde 2020 é comum a ausência dos gestores estaduais nas visitas presidenciais.
Em 2006, também um ano eleitoral, Lula costumava convidar e receber governadores de oposição em seus palanques. É o caso, por exemplo, de idas ao Rio Grande do Sul, que era comandado por Germano Rigotto (MDB).
Uma diferença entre as viagens de Lula e Bolsonaro é que o petista costumava realizar pernoites nas suas visitas, enquanto o atual presidente sai e retorna para Brasília no mesmo dia, na maioria dos casos.
Também constam na agenda oficial de Bolsonaro visitas a eventos como exposições agropecuárias e feiras do agro em interiores de estados como São Paulo e Paraná. Com isso, o presidente tenta catalisar a retomada de votos em estados onde obteve maioria expressiva no segundo turno das eleições de 2018.
Além disso, o mandatário foi a culto da Assembleia de Deus, na tentativa de cristalizar a associação com o segmento evangélico do eleitorado.
Em 2006, quando estava em plena busca pela reeleição, mas ainda não admitia a candidatura, Lula intensificou o ciclo de viagens nacionais do presidente pelo país. Nos discursos, preparando a retórica a ser reforçada nas eleições, o presidente buscava fazer um contraponto ao PSDB.
Os tucanos preparavam, naquele ano, Geraldo Alckmin para ser o candidato ao Planalto contra Lula. O petista, inclusive, teve 13 agendas oficiais no estado de São Paulo de janeiro a abril de 2006. Na maior parte do período, Alckmin ainda era governador de São Paulo.
Para 2022, os dois estão aliados. Alckmin será o vice de Lula. Eles alegam que as divergências do passado devem ser superadas diante da possibilidade de reeleição de Bolsonaro.
Ainda era comum em 2006 o então presidente Lula sair às ruas sob o argumento de fiscalizar o andamento de obras. Naquele ano, um dos focos do Planalto era a ampliação dos campus universitários para cidades do interior dos estados.
O ex-presidente também soltava petardos contra opositores da ocasião, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Quanto à geografia das visitas nas mesorregiões dos estados, os números de Lula são mais equilibrados. Das 51 visitas de Lula, 28 foram ao interior dos estados, enquanto 23 aconteceram em cidades de regiões metropolitanas, sendo 17 delas em capitais.
Como Lula governou o Brasil em uma época com as redes sociais incipientes ou começando a ascender no país, as divulgações das agendas presidenciais eram feitas em propagandas oficiais nas televisões e no programa de rádio do Planalto denominado de “Café com o presidente”.
Folha