Campanha de Lula vai começar abordando propostas para economia

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Foto: Evaristo Sá/AFP

Apesar de Luiz Inácio Lula da Silva ter dito à revista Time que “não discute política econômica antes de ganhar as eleições”, o Partido dos Trabalhadores definiu que os temas econômicos serão o “centro da gravidade” da nova estratégia de comunicação do ex-presidente.

Sob condição de reserva, um dos principais nomes envolvidos na atual fase do marketing político do petista disse que as propagandas de Lula no horário eleitoral trarão sim propostas para combater a fome, o alto custo de vida e a inflação.

“O problema é que foi uma fala um pouco descontextualizada, a entrevista foi feita lá atrás (no fim de março)”, diz esse interlocutor, incorporado à equipe depois da da entrevista à publicação americana, na reviravolta feita pela direção do PT no marketing político de Lula.

Pressões internas derrubaram o marqueteiro Augusto Fonseca, que produziu peças publicitárias criticadas por dirigentes e militantes da legenda, e o coordenador de comunicação da campanha, Franklin Martins.

Como parte do pacote de mudanças, o slogan “se a gente quiser, a gente pode!” das primeiras peças publicitárias dará lugar a mensagens que falam “reconciliação”, união e de um “amanhã” de esperanças.

As mudanças já fazem parte da linha mestra encomendada pelo PT ao novo marqueteiro de Lula, Sidônio Palmeira. Segundo nomes ligados ao ex-presidente, as futuras inserções deverão explorar intensamente a imagem do companheiro de chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), que o enfrentou nas urnas em 2006.

A ideia é convencer o eleitor que ainda não está fechado com o petista de que sua presidência não será revanchista e buscará unir o país em uma eventual era pós-Bolsonaro, sem rancores.

Lula também prometerá “dialogar com os sonhos” e explorar o legado social de seus dois governos como a promessa de dias melhores, diante do cenário de carestia, perda do poder de compra e salários engolidos pela inflação.

Os eixos dessa nova etapa da comunicação da candidatura lulista foram desenhados antes mesmo da oficialização da nova coordenação da comunicação da campanha. Se nada mudar nos próximos dias, a tarefa ficará sob o comando de Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara (SP).

O petista deverá se licenciar da gestão da cidade e substituir Franklin Martins, que colecionou desgastes com a Executiva do PT e responsável pela contratação de Augusto Fonseca, marqueteiro demitido pelo partido após divergências envolvendo o conteúdo das inserções na TV e o valor do contrato.

Como mostrou o blog, a preocupação de dirigentes críticos ao trabalho de Fonseca e de Franklin Martins se agravou com o crescimento de Jair Bolsonaro nas pesquisas. Também havia desconforto com a fraca participação de Lula nas redes sociais e com a interlocução de Franklin com a grande mídia, considerada inexistente.

Desde então, Lula anunciou que criará perfis nas redes sociais TikTok e Kwai, onde Bolsonaro soma 1,4 milhão e 66,7 mil seguidores, respectivamente.

Outra etapa no planejamento do PT é a concessão de entrevistas de Lula à grande mídia, o que deve ocorrer a partir de junho. Desde que retomou os direitos políticos após o STF anular o processo do triplex, o petista decidiu por conta própria se concentrar inicialmente na mídia estrangeira e em emissoras de rádio.

Na sequência, como nos últimos meses, dedicaria sua atenção aos blogs, sites e podcasts da órbita petista ou que não confrontariam de forma dura o ex-presidente.

Posteriormente, Lula passou a falar a rádios do interior e se mostrou pessoalmente entusiasmado com o resultado e da capilaridade atingida. Em uma entrevista a uma emissora de Campina Grande (PB), ele chegou a ser acompanhado por 300 mil ouvintes.

A exposição em etapas não foi por acaso. Liderando as pesquisas com certa folga, Lula não quis comprar desgaste antes da hora e preferiu preservar sua imagem.

A partir de junho, quando pretende falar às maiores emissoras e jornais do país, poderá falar com mais tranquilidade sobre o cenário político: o quadro partidário estará mais claro, às vésperas das convenções das legendas.

O Globo