Deputado que queria pôr “cabresto” em colega pede desculpas

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O vice-presidente da Assembleia Legislativa de SP (Alesp), deputado Wellington Moura (Republicanos), usou sua fala na Casa nesta terça (24) para pedir desculpas à deputada Monica Seixas (PSOL), a quem disse que colocaria um “cabresto” na boca para não importunar o plenário. Monica, porém, afirmou que não o perdoa e que só quer falar com ele na comissão de ética da Casa e na Justiça.

“Não há malabarismo que faça as pessoas acreditarem que não há violência naquela fala que foi ao microfone. Eu não perdoo. Não perdoo a humilhação, não perdoo a violência, não perdoo a agressão e não perdoo o senhor zombar da minha condição de adoecimento mental”, disse ela ao microfone no plenário.

A deputada estadual Monica Seixas (PSOL)
A deputada estadual Monica Seixas (PSOL) – Ronny Santos/Folhapress

Na semana passada, Moura alegou que Monica importunou o plenário durante a fala de um deputado. “É o que vossa excelência faz. Sempre. Várias vezes”, disse ele. “Mas num momento que eu estiver ali [presidindo a sessão], eu vou sempre colocar um cabresto na sua boca porque não vou permitir que vossa excelência perturbe a ordem”, emendou.

Por causa dessa fala, a deputada protocolou uma representação contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Alesp pedindo a cassação do colega. Segundo ela, houve racismo e machismo em sua manifestação. Ela também registrou um boletim de ocorrência sobre o episódio.

Na tarde desta terça (24), Moura usou o púlpito do plenário para pedir desculpas para Monica e para “todas as pessoas que se sentiram ofendidas por qualquer excesso que cometi ao utilizar a expressão cabresto”.

Ele disse que não teve a intenção de cometer injúria racial ou machismo. Segundo o vice-presidente da Alesp, a sua intenção foi de aplicar a palavra com o sentido de “algo que controla a fala que perturbe ordem dos trabalhos da sessão legislativa”.

Moura argumentou ainda que “não faz sentido algum” ele “ser apresentado como racista ou machista”, usando como argumento que sua avó era negra e que ele é pastor e atuou em projetos que ajudam no combate à violência contra a mulher.

“Inclusive na Igreja a grande parte dos fieis é de origem negra. Em meu gabinete a maioria dos assessores são mulheres e grande parte é de ascendência negra. Então como eu poderia me dirigir desta forma a uma mulher?”, questionou ele. “Não há fundamento de eu ser considerado ‘racista’ ou ‘machista’.”

​Monica não estava presente no momento em que Moura discursou. Ele disse que tentou contata-la por Whatsapp e em seu gabinete antes de discursar, para conversar pessoalmente sobre o assunto, mas que ela não quis recebe-lo nem responder-lhe. “Acredito que ela esteja magoada comigo.”

Monica compareceu ao plenário passado um tempo da fala de Moura. Ela pediu a palavra para responder ao deputado, dizendo que não o perdoa e que ele só está pedindo desculpas pelo que falou ao microfone, e não por outras agressões que, segundo ela, ele fez fora do púlpito.

“O que vazou no microfone não mostrou coisas pela qual o senhor não se desculpa, como o círculo de homens ao final daquela sessão, em torno de mim, todos gritando que iam fazer o quê? Me cassar? Me colocar no conselho de ética? Dizendo: ‘Vai tomar o seu tarja preta'”, questionou ela.

No ano passado, Monica Seixas ficou 120 dias afastada para cuidar da saúde mental.

“Eu tomo [remédio] tarja preta por causa de senhores como o senhor”, respondeu. “Não quero que me ligue, não quero que vá ao meu gabinete. E o senhor só vai conversar comigo no conselho de ética respeitando a doutora [a deputada] Maria Lúcia Amary, que é presidente [do colegiado], e na Justiça”, emendou.

Moura pediu a palavra novamente depois da fala de Monica, lamentando a decisão da deputada. “Se a deputada não me perdoa, não tenho o que fazer”, disse ele. “Mas, novamente, espero que o dom do arrependimento possa entrar no coração de vossa excelência em relação à minha pessoa.”

Folha