Guedes diz que “às vezes” Bolsonaro se excede
Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o presidente Jair Bolsonaro “às vezes” comete excessos e é alertado por pessoas próximas que o comportamento dá a entender que ele quer aplicar um golpe de Estado. O relato foi feito ontem pelo ministro durante evento promovido pela Arko Advice e pelo Traders Clube.
“Pessoas atravessam a linha. De vez em quando um ministro fica brincando lá, todo mundo vê que ele está pelado e o coloca para dentro de novo”, disse Guedes. “O presidente às vezes pisa do outro lado, o pessoal [fala]: ‘Presidente, está pegando mal esse negócio, parece que o senhor quer dar o golpe’. Ele [fala]: ‘Opa, não, não, não”, relatou Guedes.
O ministro não se referiu diretamente à atual crise entre Poderes, cujo episódio mais recente foi o pedido, feito por Bolsonaro, de abertura de notícia-crime contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Mas relatou que Bolsonaro se queixou de estar sendo “perseguido” e que, por isso, recebeu a sugestão que apresentasse a notícia-crime.
Para Guedes, os ataques de Bolsonaro ao Judiciário, que muitos veem como risco institucional, seriam apenas lutas por território que representam a “essência da democracia”. O ministro afirmou que o presidente tem “maus modos”. “Ele é assim mesmo, xinga, chuta lata”, disse. “É torcedor do Palmeiras.” Mas defendeu que é preciso “baixar a bola” e “evitar bolhas de ódio” no debate nacional.
Ele repetiu, como vem fazendo desde 2019, que a democracia brasileira é resiliente, e contou o que tem dito a estrangeiros.
“Se a moça que era terrorista, jogava bomba, assaltava banco, pode ser presidente, porque houve uma anistia, é claro que o capitão, que fazia continência, que não jogou bomba em ninguém, pode ser presidente também”, afirmou. O ministro não citou nomes, mas referia-se à ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que foi presa e torturada na ditadura. Dilma não jogou bombas e nem assaltou bancos. Para Guedes, Bolsonaro teria ganho as eleições porque o país optou por romper o que chama de “ciclo de social-democracia no poder.” Nesse caso, é natural que “quem ficou 30 anos” no poder reclame. Ao mencionar este prazo, Guedes mistura no mesmo conjunto os governos de Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. “Agora reclame dentro das regras democráticas. Não é chegar lá fora e falar: ‘A democracia brasileira está em risco’. Que golpe? Cadê o golpe?”.