Ibama bolsonarista pratica assédio moral e perseguição a servidores
Foto: Fernanda Sakamoto/Ibama / Divulgação
O Ibama, órgão federal responsável pela gestão ambiental, volta a ser alvo de uma série de denúncias envolvendo assédio moral e perseguição contra servidores, além de uso político do órgão. Desta vez, os casos ocorrem na superintendência de Goiás e em sua matriz, no Distrito Federal.
Em Goiás, o chefe do Ibama no Estado, Bruno Pinheiro, foi alvo de denúncias por suposto assédio moral. Os servidores relataram situações frequentes de tratamento rude e grosseiro, além de protagonizarem, com frequência, “cenas com berros e murros na mesa”. Em muitas ocasiões, funcionários relataram ter deixado reuniões aos prantos, segundo a denúncia.
Os servidores também alegam que há suposto uso de madeira apreendida para favorecimento político do presidente do PP em Goiás, o ex-deputado Alexandre Baldy, que pretende concorrer a uma vaga para o Senado neste ano. O partido dele integra a base do governo Bolsonaro. Baldy nega as acusações.
No Distrito Federal, o analista ambiental Roberto Cabral Borges, que atua na Coordenação de Operações de Fiscalização, está sendo removido, sem justificativa técnica e contra a sua vontade, para uma área burocrática ligada à Coordenação de Controle e Logística de Fiscalização. Reconhecido pela atuação que há anos desempenha em defesa da fauna, Borges encaminhou uma nota informativa à chefia geral do Ibama, na qual afirma que a “remoção ocorre à revelia e, tampouco, possui meu interesse ou anuência”.
No caso das denúncias de Goiás, estas foram levadas à Corregedoria da sede do Ibama. O órgão afirmou que abriu um processo para investigar o caso, procedimento que é tomado em situações como essa, e declarou que Pinheiro não se manifestara sobre o assunto.
No documento enviado à Corregedoria, os servidores de Goiás afirmam que Bruno Pinheiro, que assumiu o a chefia do órgão no Estado em setembro de 2020, sempre declarou que chegou ao posto por indicação e influência política de Alexandre Baldy, além de ser ligado a “políticos de projeção nacional e que tem livre acesso aos altos escalões da Polícia Militar de Goiás”.
Na denúncia, os servidores afirmam que é clara a “deterioração do ambiente de trabalho na Superintendência do Ibama em Goiás, uma vez que os servidores têm sido submetidos à pressão e ameaças anormais”, desrespeitando normas e procedimentos internos do Ibama. Devido à situação no ambiente de trabalho, alegam que “diversos servidores têm apresentado problemas de saúde, como insônia, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, dentre outros, afetando o rendimento profissional e comprometendo o convívio familiar”.
A respeito do uso político da madeira apreendida por agentes de fiscalização, os denunciantes afirmam que parte dessa madeira recolhida tem sido direcionada a determinadas prefeituras do Estado, escolhidas para fortalecimento político da família Baldy, contrariando regras de destinação previstas pelo órgão federal.
Segundo a denúncia, Bruno Pinheiro, desde que tomou posse, estabeleceu procedimentos para que ele próprio decida quais serão as instituições que receberão as madeiras apreendidas pela fiscalização do Ibama. Pelo regimento do órgão, a competência para doar sumariamente as madeiras apreendidas pela fiscalização ambiental é do agente ambiental, que o faz durante a ação fiscalizatória, quando detectado o risco de perecimento do material. No entanto, alega a denúncia, esse processo teria sido alterado, para que os agentes ambientais doassem as madeiras às instituições indicadas por Pinheiro.
“Com a justificativa de que a população de todo o Estado de Goiás está sendo beneficiada com doações do Ibama, o superintendente Bruno Pinheiro vem utilizando a máquina pública para fazer propaganda política para a família Baldy”, afirma a denúncia, que traz publicações de fotos em redes sociais, onde o parlamentar aparece em situações de doações no Estado.
Alexandre Baldy negou que seja o responsável pela indicação de Bruno Pinheiro ao cargo no Ibama ou que tenha orientado doações de madeira para municípios de seu Estado. “A maior beneficiada com a madeira apreendida é a população de pequenos municípios de Goiás. A madeira é fruto de um sério e eficiente trabalho de fiscalização por parte do Ibama, que resultou na entrega de obras em escolas públicas, casas populares e pontes em área rural”, declarou em nota.
No caso de Brasília, dezenas de servidores do Ibama emitiram uma carta contra a remoção do analista ambiental Roberto Cabral Borges. O servidor tem coordenador de ações de fiscalização nacionais e regionais de grande relevância, como o caso das ações que configuraram os maus-tratos às girafas importadas pelo Zoológico do Rio de Janeiro, ainda não concluídas.
Cabral também é responsável pelo planejamento, desenvolvimento, coordenação e execução de diversas operações de fauna já estabelecidas no Plano Nacional Anual de Proteção Ambiental (Pnapa). ”Sua retirada implica em prejuízos ao trabalho, considerando-se além de sua expertise, a reduzida equipe do Comitê Permanente de Operações de Proteção à Fauna Silvestre”, afirmam os servidores. “A referida remoção não ocorre em benefício da administração e sim para cumprir vontade pessoal dos gestores. Esse cenário demonstra que o interesse público e de proteção ambiental não tem sido priorizado pelo CGFis nesse caso.”