
Michelle Bolsonaro mostra ser semianalfabeta em dois idiomas
Foto: Reprodução
Em uma publicação em vídeo nas redes sociais na noite de domingo (15), a primeira-dama Michelle Bolsonaro abraça uma imagem do presidente ao som de risos e aplausos. Na legenda, ela escreveu: “Olha quem apareceu… My ‘rusband'”.
Olha quem apareceu…. 🥰🥰
My rusband ❤️ pic.twitter.com/0w7uNnKKoe— Michelle Bolsonaro (@MiBolsonaro) May 16, 2022
O deslize ortográfico em “husband”, marido em inglês, lembrou internautas de outro político ligado ao governo Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil).
Rusband é conge em inglês? pic.twitter.com/cqx6Lh5COw
— Greengo Dictionary (@greengodict) May 17, 2022
Em 2019, o então ministro da Justiça e Segurança Pública falava na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara a respeito de violência doméstica. Na explicação, engoliu algumas sílabas e trocou a palavra cônjuge por ‘conje’.
O vídeo viralizou e Moro até hoje é chamado de “conje” nas redes.
O sociolinguista Marcos Bagno afirma logo na introdução de seu estudo “Preconceito Linguístico” que “a língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele”.
Nessa perspectiva, a língua é um fenômeno vivo, sempre em transformação, e aquilo que a norma padrão considera “errado” é frequentemente assimilado pelos falantes. Por exemplo: em português brasileiro raramente (para não dizer nunca) utilizamos o pronome “vós” no dia a dia, substituindo-o por “vocês”, embora a gramática normativa não reconheça como “correta” essa variação.
E, assim, o “conje” de Moro perdura até hoje, nem sempre em interações de deboche com o ex-juiz. O deslize, em certa medida, foi incorporado na linguagem informal, aquela do cotidiano, ao menos na internet.
a gente realmente vai adotar rusband, que nem conje. podemos estar mortos por dentro mas a língua continua viva.
— sundrying (@thaystonteando) May 17, 2022
Eu sou 100% emocionada no meu relacionamento. Se o conje vai fazer uma prova e eu não, eu arrumo a mochila, coloco 40 canetas extra, coloco remédio pra dor de cabeça, enjoo e diarreia, levo até o uber e fico dando tchauzinho assim: 🥺🥺🥺
— Júlia Molusco (@juliamolusco7) May 15, 2022
Melhor parte de viajar é ficar grudada no conje 24h igual um carrapato
— cami (@umakmi) May 16, 2022
vida de recém casado: soltei um pum mto fedido no escritório e sai correndo. conje vai entrar em reunião e não pode nem fazer careta hihihihi
— sussu 🌷 (@reclamecomsussu) May 17, 2022
Assim, tirar sarro ou menosprezar alguém por desvios gramaticais incorre naquilo que Bagno chama de preconceito linguístico, muito mais baseado no elitismo do que numa suposta valorização da norma padrão.
Mas, uma coisa é uma coisa, e outra é outra, lembram internautas, e o preconceito linguístico tem um componente social, que não se aplicaria a Michelle Bolsonaro e Sergio Moro, afirmam alguns.
Mta gente falando de preconceito linguístico. Pra esclarecer:
Uma coisa é menosprezar pessoas com pouco acesso à educação formal por errarem certas palavras, regras de concordância ou flexões verbais.
Outra coisa é, p.ex., debochar de juiz que fala “conje”.
Espero ter ajudado.
— geovani 🌵🧜🏽♀️🧬☕ (@giggiohd) May 15, 2022
Vi um povo falando de preconceito linguístico aí esses dias. Na moral, pra mim, não é preconceito se uma pessoa com amplo acesso ao estudo comete erros primários de português em situações corriqueiras.
— Fred, filho de Garcez (@FredGarcez) May 17, 2022
proibido problematizar quem está zoando o “rusband” da micheque na frente das crianças..
sujeito a paulada
— Dersu Uzala 🏴 (@UzalaAntifa) May 17, 2022
Eu estou me coçando pra rir disso.
Mas vou respeitar o 11° mandamento:
“Não cometerás preconceito linguístico” https://t.co/bdnqgPvEXw— Pedro Augusto (@pedroaugusstoh) May 17, 2022
Contudo, como diz a regra, “a internet não perdoa”. Com o “rusband” que ecoa o “conje”, a primeira-dama virou meme.
Eu: Po, acho feio zoar brasileir@s que n sabem inglês direito
Eu também: KKKKKKKKKKKKK RUSBAND KKKKKKKKKKKKKKKKK https://t.co/3N8ZIg5Mk3— Tubarão-Martelo🦈🔨 (@gzerkalo) May 16, 2022
Traduções?
Rusband é conje em inglês.
— Arrikitown (@MayosDavis) May 17, 2022
Em africâner, rusband quer dizer Rússia. Seria mensagem subliminar ao Putin? pic.twitter.com/wI0IWlGBUr
— hannasarah (@anashalonyeshua) May 17, 2022
Sai o conje, entra o rusband. Isso aqui, o Brasil, não tem a menor chance de dar certo pic.twitter.com/FxuxtxTrOQ
— Mariliz Pereira Jorge 🇧🇷 (@marilizpj) May 17, 2022
Vamos fazer tradução?
🇵🇹MEU CONJE
🏴MY RUSBAND— Gauche en avant🚩 (@GaucheenAvant) May 17, 2022
Etimologia?
O “rusband” de Micheque foi um ato falho. Ela juntou “ruse” (trambiqueiro) + “bandit” (bandido). Ficou “rusband”.
— Alexandre, o Grande (@daselvalima) May 17, 2022
Parte do léxico?
Mais uma do dicionário romântico de direita.
Dos mesmos produtores de CONJE, vem aí: RUSBAND pic.twitter.com/DpuIB8ri64
— misscomunista (@bemfeitona) May 17, 2022
#Análise.
Por trás do erro banal do “rusband” de Michelle Bolsonaro há uma característica curiosa desse novo patriotismo neopentecostal da Barra da Tijuca: uma vontade imensa de renegar o Brasil nas mínimas coisas combinada com a capacidade intelectual de, ao menos, saber que coisa é essa
— Alégico à Cloroquina (@meirabarreto) May 17, 2022
Aulas.
I’m bery rappy uip mai rusband 🇧🇷😇 pic.twitter.com/kSHEwKHudr
— William De Lucca (@delucca) May 17, 2022
Uma homenagem?
E se ela quis dizer ‘rusbad’ ao invés de ‘rusband’, em homenagem a Michael Jackson?
— Bruno Tadeu (@brunotadeu) May 17, 2022