No Rio, gestão Castro tem 178 mortes em 39 chacinas

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Foto: JOSE LUCENA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

Em apenas um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL) no Estado do Rio de Janeiro foram registradas 181 mortes em 39 chacinas, segundo levantamento feito em conjunto pelo Instituto Fogo Cruzado e o Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos), grupo de estudos sobre a violência da UFF (Universidade Federal Fluminense). As pesquisas na área de segurança pública consideram como chacina todas as ações com ao menos três mortes.

Levando em conta o massacre com 25 pessoas mortas, ocorrido na terça-feira (24) em uma ação policial na Vila Cruzeiro, zona norte da capital carioca, o governo Castro acumula as duas maiores chacinas em operações policiais da história do Rio, aponta o estudo (confira a lista abaixo). A ação de maio de 2021 na favela do Jacarezinho, que deixou 28 óbitos, é apontada como a mais letal da história do Rio. A de ontem passou a ser a segunda com as novas mortes divulgadas hoje.

Em nota, a Polícia Civil afirma que “na atual gestão, todos os mortos por tiros de policiais civis disparados durante operações foram de criminosos que entraram em confronto com os agentes”. A Polícia Militar e o governo do Estado do Rio de Janeiro também foram acionados, mas não se posicionaram até a publicação da reportagem. O espaço está aberto para manifestações.

Das 39 chacinas sob a gestão Cláudio Castro, 31 ocorreram em operações policiais, indica o levantamento.

Ainda de acordo com o estudo, ações com a intervenção das forças de segurança do Estado provocaram 165 mortes, o equivalente a 91% dos assassinatos. Só neste ano, foram registradas 85 mortes em 16 massacres no Estado do Rio de Janeiro.

É inaceitável o que vem acontecendo ao longo dos últimos meses. A gestão Cláudio Castro não tem nenhum comprometimento com o principal problema de Segurança Pública no Rio, que é a letalidade policial. O governo do Rio apresentou um plano de redução por força de decisão judicial que é absolutamente protocolar”Daniel Hirata, pesquisador do Geni-UFF

Só em 2021, policiais do Rio de Janeiro mataram 1.356 pessoas, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública). “Isso equivale a 22% das mortes por intervenção policial do ano passado [em todo Brasil], colocando as polícias cariocas entre as mais letais do país”, afirma Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A Polícia Civil afirmou que desconhece os dados do estudo e trabalha com informações oficiais do ISP, que, segundo a corporação, mostram queda de 30% nas mortes por intervenção de agentes do estado no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Um outro estudo do Geni-UFF, que leva em consideração as ações policiais entre 2007 e 2021, aponta que a presença de unidades especiais torna as ações “mais propensas a resultarem em chacinas”.

De acordo com a análise, a presença em conjunto da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) da Polícia Civil e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar aumenta em até seis vezes a probabilidade de chacinas. A Core participou da ação de maio de 2021 no Jacarezinho. Já o Bope esteve na ação desta terça na Vila Cruzeiro.

“As operações do Jacarezinho e da Vila Cruzeiro se enquadram nas características típicas das chacinas policiais, com a presença das unidades especiais e em ações emergenciais, que tendem a ser mais violentas do que as planejadas”, compara Hirata.

Maiores chacinas em ações policiais no Rio

Jacarezinho (maio de 2021) – 28 mortos

Vila Cruzeiro (maio de 2022) – 25 mortos

Vila Operária, em Duque de Caxias (janeiro de 1998) – 23 mortos

Complexo do Alemão (junho de 2007) – 19 mortos

Senador Camará (janeiro de 2003) – 15 mortos

Fallet (fevereiro de 2019) – 15 mortos

Complexo do Alemão (julho de 1994) – 14 mortos

Complexo do Alemão (maio de 1995) – 13 mortos

Vidigal (julho de 2006) – 13 mortos

Catumbi (abril de 2007) – 13 mortos

O MPF (Ministério Público Federal) abriu procedimento para apurar possíveis violações na conduta dos agentes envolvidos na ação desta terça-feira na Vila Cruzeiro.

Segundo o MPF, o órgão foi avisado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) de que a ação policial seria realizada para “eventual cumprimento de mandados de prisão e de desarticulação de organização criminosa”.

Em nota, Eduardo Benones, procurador da República, lembrou que o mesmo local foi palco de operação com oito mortos durante outra ação da PRF em fevereiro deste ano.

“O Brasil é signatário de tratados e acordos internacionais que nos obrigam a investigar e punir violações de direitos humanos. [As mortes] não podem ser investigadas como se fossem simples saldo de operações policiais”, disse.

O Ministério Público disse que a justificativa da ação policial foi a movimentação de criminosos do CV (Comando Vermelho) da Vila Cruzeiro para a Rocinha. Já a Defensoria Pública criticou a operação que “jamais seria tolerada em bairros nobres” do Rio.

O núcleo de defesa dos direitos humanos e a ouvidoria da Defensoria estiveram no Complexo da Penha acompanhando a ação. “Até o momento, se está apurando a legalidade da operação e a proporcionalidade do uso da força”, informou o órgão.

De acordo com a corporação, “criminosos começaram a fazer disparos de arma de fogo na parte alta da comunidade”. Os tiros na região da Penha começaram por volta de 4h20. Moradores relatam momentos de terror durante a ação policial.

Uol