Prefeito de SP mantém homenagem a político da ditadura
Foto: Bruno Santos – 17.jan.2022/Folhapress
O prefeito de SP, Ricardo Nunes (MDB), vetou um projeto de lei que alterava o nome da praça ministro Alfredo Buzaid, localizada no Itaim Bibi, para praça Lourenço Carlos Diaféria. O espaço hoje homenageia o ministro que ocupou a pasta da Justiça durante o governo Médici, na ditadura militar (1964-1985).
Buzaid também é lembrado por seu apoio ao AI-5, ato institucional que inaugurou o período mais repressor do regime. No lugar de seu nome, o vereador Eliseu Gabriel (PSB) propôs que o espaço homenageasse Diaféria, escritor que foi preso pelos militares após criticá-los em coluna publicada na Folha.
Em seu veto, Nunes diz reconhecer a iniciativa, mas afirma que a mudança de nome de vias e logradouros públicos só é possível se a autoridade for condenada por crimes de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos. Não é o caso de Alfredo Buzaid, afirma o prefeito.
O chefe do Executivo ainda diz que o nome do cronista não consta no banco de referências em direitos humanos para nomeação de logradouros —embora Diaféria já tenha sido agraciado com o Prêmio Vladimir Herzog, dedicado ao tema.
O veto frustrou a família de Diaféria. “Sinto que atravessamos um momento em que não se diferencia uma ditadura de uma democracia, e a manutenção da democracia pressupõe a luta pela preservação da memória de quem lutou para conquistá-la”, afirma a psicóloga Celina Diaféria, filha do cronista.
A prisão do escritor ocorreu em 1977, após a publicação do texto “Herói. Morto. Nós”, em que criticava o patrono do Exército, Duque de Caxias. “O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”, escreveu. Em protesto contra sua prisão, a Folha publicou o espaço da coluna em branco.