
PT e Senado vão pilotar manifesto contra golpismo bolsonarista
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Um novo manifesto em defesa da democracia reunindo empresários, instituições do Legislativo e do Judiciário, governadores, prefeitos, partidos e sindicatos foi pactuado na semana passada numa reunião entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o ex-governador do Piauí, candidato ao Senado e um dos coordenadores da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Wellington Dias.
A proposta de manifesto surgiu de uma visita de Dias a Pacheco no dia 10 deste mês. O ex-governador estava acompanhado do senador Rogério Carvalho (PT-SE) e disse falar em nome de atuais e ex-governadores. Dias estima que o ato possa ocorrer na primeira quinzena de junho. Pacheco, que ficou encarregado, na condição de presidente do Congresso, de capitanear a iniciativa, não confirma a data.
O senador deve procurar as confederações patronais. Dias diz ter acenos da Fiesp e de empresários do setor da agropecuária e da indústria. O PT quer dissociar o manifesto tanto do PSD de Pacheco quanto do PT de Lula para vinculá-lo, sim, a uma iniciativa do presidente do Congresso. Ao contrário de outros manifestos do gênero, porém, este parte da política, particularmente do emissário de um candidato, para a sociedade.
“A preocupação é com a ameaça contra a democracia não apenas sobre as instituições mas também sobre a expectativa do investimento”, diz Dias. “É uma boa ideia, que avança para dar concretude à reiterada defesa da democracia que temos feito”, diz Pacheco.
No PT, a expectativa é de que um documento do gênero reflita, no ambiente doméstico, os sinais que têm chegado de investidores estrangeiros de aumento de insegurança jurídica com mais quatro anos de governo Jair Bolsonaro. Uma parte dessas preocupações foi externada ao senador Jacques Wagner (PT-BA), em encontros recentes nos Estados Unidos, com grupos privados e no Departamento de Estado americano.
É um jogo de ganha-ganha num momento em que PT e PSD se aproximam em Minas Gerais, Estado mais crucial para a relação entre os dois partidos com as tratativas para que o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) desista do Senado para que o partido indique um nome para vice do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), candidato ao governo, liberando o apoio do PT à postulação do senador Alexandre Silveira (PSD-MG) à reeleição.
A iniciativa do manifesto tanto firmaria Pacheco como eixo da reação institucional às ameaças autoritárias do presidente Jair Bolsonaro quanto retomaria a ideia de frente pela democracia que embalou a incorporação do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à chapa de Lula.
Desde então, a prometida amplitude da chapa lulista não tem se efetivado. É a velha guarda petista que tem dado as cartas na pré-campanha. Isso começaria a mudar, segundo Dias, a partir da próxima semana, quando os presidentes dos sete partidos da aliança (PT, PSB, PSol, PCdoB, Solidariedade, Rede e PV) se reunirão com Lula e Alckmin para a distribuição de tarefas da campanha, inclusive a coordenação do programa de governo, hoje informalmente nas mãos do presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante.
A avaliação, no PT, é de que uma boa parte da vantagem alcançada por Lula em São Paulo, Estado em que o ex-presidente sempre teve dificuldades eleitorais, se deve à presença de Alckmin na chapa. O ex-governador também estaria a abrir portas junto a igrejas e setores empresariais como o de saúde.
O PT investe em duas frentes. Na aproximação com o empresariado tem recorrido a velhos aliados, como o ex-governador do Mato Grosso, ex-ministro da Agricultura e megaempresário da soja, Blairo Maggi, para costurar pontes para Lula no Centro-Oeste, região em que Bolsonaro tem franca dianteira sobre o ex-presidente.
Interlocutores como Dias modulam ainda o discurso de Lula em temas como o fim do teto de gastos com o compromisso de que a elevação de gastos, como aquele do funcionalismo público, estará condicionado à volta do crescimento econômico.
Emissários junto ao setor empresarial, como Dias, custam, porém, a encontrar um discurso para diferenciar o ex-presidente do atual no que diz respeito à Petrobras, visto que ambos se dizem contrários ao atrelamento do preço dos combustíveis à variação do mercado internacional.
O eixo da proposta petista, diz o ex-governador petista, é o aumento da capacidade de refino pelo Brasil. A ampliação não necessariamente se daria pela Petrobras, visto que o Cade já se posicionou pela venda das refinarias da estatal. Só não está claro qual seria a atratividade do investimento privado em refinarias frente à proposta do PT de nacionalizar os custos de produção, inclusive o preço do petróleo, por vezes, importado.
A outra frente em que o PT investe é no alerta sobre os riscos de convulsão social durante a campanha, depois das eleições ou em 2023. A avaliação do partido é de que 25 milhões de pessoas estão vulneráveis. O partido quer mobilizar uma “ação de solidariedade” semelhante àquela que, no início da pandemia, colocou entes subnacionais e agentes privados lado a lado no provimento da subsistência de milhões de pessoas que perderam sua fonte de renda.
É nesta ideia de “emergência nacional” que o PT espera embalar a largada de um eventual governo Lula. “São anos duríssimos que nos esperam. Muito mais difíceis do que aqueles que encaramos a partir de 2003”, diz Wellington Dias.
Este discurso empacotaria as “medidas duras” que teriam que ser tomadas para recolocar o país na rota do crescimento. Não estariam incluídos, num primeiro momento, elevação de impostos – “a carga tributária já está no limite”, diz o ex-governador. Entre as medidas porém, não está descartada a mudança na titularidade do investimento público do Brasil, hoje concentrado no Legislativo.
Segundo Dias, estudos em mãos do PT estimam que o investimento da União chegou ao mais baixo patamar desde 1940. O ex-governador acredita que a discrepância na alocação das emendas de relator será suficiente para desacreditar o “orçamento secreto” dentro do próprio Congresso. Ainda não está claro como os parlamentares vão abrir mão da alocação de recursos no patamar que alcançaram, sem prestação de contas, para voltarem a ser sócios minoritários do Executivo.