Aliados de Bolsonaro acham que golpismo afasta eleitores

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Foto: DCM

O discurso em tom exaltado do presidente Jair Bolsonaro, com novos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e às urnas durante solenidade no Palácio do Planalto na terça-feira aumentou a preocupação de integrantes da coordenação da campanha com a postura incendiária do postulante à reeleição.

A avaliação interna entre os principais aliados do presidente é de que esse comportamento, combinado com os reiterados questionamentos ao sistema eleitoral, não atrai votos. Ao contrário, tem contribuído para ampliar a rejeição do eleitorado ao presidente, segundo sondagens qualitativas que circulam entre lideranças dos partidos aliados.

Ainda na terça-feira, poucas horas antes da manifestação de quase meia hora, em que renovou ataques ao presidente do TSE, ministro Edson Fachin, e ao vice-presidente da Corte, Alexandre de Moraes, Bolsonaro ouviu de integrantes da coordenação de sua pré-campanha que ele deveria suspender o discurso de suposta fraude nas urnas eletrônicas.

Isso porque as pesquisas internas encomendadas pelos partidos aliados indicam que esse tema não atrai o eleitor que Bolsonaro ainda precisa conquistar, o qual estaria mais interessado em respostas para a escalada dos preços dos combustíveis e dos alimentos.

Até o momento, entretanto, esforços de integrantes da pré-campanha bolsonarista por uma trégua com a Justiça Eleitoral têm sido em vão. A avaliação é que o presidente tem uma personalidade obstinada, só faz o que quer e dá ouvidos a poucos interlocutores.

Alguns dos conselheiros mais frequentes continuam sendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na área política, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em relação às redes sociais e, com cada vez mais frequência, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Internamente, atribui-se a Costa Neto, ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e ao marqueteiro Duda Lima a proeza de apresentar um Bolsonaro dialogando em tom afável com jovens nas inserções do PL que foram veiculadas ao longo da programação de rádio e dos canais abertos de televisão. Bolsonaro tem maior rejeição entre jovens e mulheres.

Bolsonaro fez um discurso inflamado no Planalto em reação à decisão da Segunda Turma do STF, que por três votos contra dois, restabeleceu a cassação do mandato estadual Delegado Fernando Francischini, do Paraná, um de seus principais aliados.

O parlamentar teve o mandato cassado por decisão do TSE porque divulgou, em vídeo nas redes sociais, informações falsas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas no primeiro turno do pleito de 2018, no qual Bolsonaro obteve 46% dos votos válidos, contra 29% de Fernando Haddad (PT).

Neste pronunciamento, Bolsonaro ainda voltou a afirmar que não vai cumprir mais decisões do STF. Ele já havia feito a ameaça, anteriormente, ao se referir ao julgamento sobre o marco temporal das terras indígenas. “Fui do tempo em que decisão do Supremo não se discute, se cumpre. Fui desse tempo, não sou mais”, afirmou o presidente. Ele foi efusivamente aplaudido por uma plateia de autoridades, onde se encontravam o ministro do Superior Tribunal de Justiça Humberto Martins e vários parlamentares.

Valor Econômico