Aliados veem Bolsonaro com imagem de mau perdedor

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Foto: Alan Santos/PR

A crise na área de comunicação tumultuou a largada das pré-campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lideram as pesquisas e vêm polarizando a disputa pela sucessão presidencial. Mas, enquanto o comando da campanha lulista fez ajustes na equipe para sanar o problema, o time bolsonarista identifica impactos negativos do comportamento do presidente na comunicação.

Ao monitorar interações nas redes sociais, auxiliares de Bolsonaro vêm captando que a cruzada do presidente contra o sistema eleitoral tem sido percebida por parte dos eleitores como um “discurso antecipado de derrota”. Essas observações sugerem que as manifestações têm servido para afugentar “eleitores-pêndulo”, que votaram em Lula no passado e migraram para Bolsonaro em 2018.

As redes ratificam, assim, uma tendência apontada há semanas em pesquisas qualitativas feitas pela campanha bolsonarista.

Mas a postura a ser adotada por Bolsonaro divide Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), ambos filhos do presidente. Flávio – que integra a cúpula da campanha juntamente com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira – defende uma certa moderação e a profissionalização da campanha. Já Carlos, que segue comandando as redes sociais, é favorável ao “Bolsonaro raiz”, mais agressivo.

O vereador levou ao Twitter o embate com o marqueteiro do PL Duda Lima. Em 2 de junho, ele criticou o filme de 30 segundos criado e produzido por Lima, expondo a divergência interna.

Sem citar nominalmente o marqueteiro, Carlos ironizou o slogan levado ao ar, com uma estética moderada do presidente: “Sem pandemia, sem corrupção, com Deus no coração, ninguém segura esta nação”. E escreveu: “Vou continuar fazendo o meu aqui e dane-se esse papo de profissionais do marketing Meu Deus!”. A postagem foi seguida de uma sequência de emojis com gargalhadas.

Na avaliação do vereador, o marqueteiro não captou o estilo indignado de Bolsonaro que teria conquistado o eleitor em 2018.

Uma fonte que atua na pré-campanha, porém, crê que Bolsonaro continuará oscilando entre agressividade e moderação, de acordo com a circunstância.

Segundo ela, o presidente, como todas as pessoas, passa por momentos em que precisa ser mais incisivo, firme. Também há instantes em que Bolsonaro é mais “leve, descontraído”, diz.

No gesto mais ostensivo até agora relacionado à crise, Bolsonaro confirmou, em conversa com a imprensa no dia 13, que convidou o ex-secretário de Comunicação Social (Secom) Fabio Wajngarten para integrar a campanha.

Wajngarten deixou o governo em março de 2021, por suspeita de conflito de interesses ao gerir suas empresas e exercer a função pública simultaneamente. Ele reforça o time como um quadro com bom trânsito com os filhos do presidente. Empresário do setor de mídia, retorna para atuar na relação institucional e com a imprensa e na interlocução com emissoras de TV.

Uma das missões do ex-Secom será agendar entrevistas para Bolsonaro em programas populares de auditório, papel que ele já exerceu quando assumiu a função no governo, em 2019. A ideia é ampliar a visibilidade do presidente, para além das agendas oficiais e das conversas com apoiadores.

Mas, sem dominar a internet, ficará ainda mais difícil reverter a vantagem de Lula sobre Bolsonaro nas pesquisas, avalia um aliado. Por isso, causam preocupação na campanha do presidente sinais positivos para Lula nas redes.

Um vídeo produzido pela vereadora Laura Sito (PT), de Porto Alegre, viralizou no Instagram do líder petista. No material, Sito cola papéis com dizeres “Tá caro, Culpa do Bolsonaro” ao lado dos preços de produtos nas gôndolas de um supermercado. Ao fundo, um funk diz que “o arroz tá caro, o feijão tá caro, traz de volta o Lula e manda embora o Bolsonaro”.

O vídeo teve até ontem mais de 10,8 milhões de visualizações e 766 mil curtidas no perfil de Lula.

O PT, além disso, deu sinais de superação da crise que afastou o ex-ministro Franklin Martins da coordenação da comunicação da campanha lulista, e levou à substituição do marqueteiro.

Em fevereiro, Franklin havia feito uma concorrência para escolher o marqueteiro da campanha, e a vencedora foi a agência MPB, do publicitário Augusto Fonseca. Entretanto, em meio a fissuras na relação entre Franklin e petistas ligados à equipe do secretário de Comunicação da sigla, Jilmar Tatto (SP), no fim de abril o partido divulgou nota confirmando a troca do marqueteiro, “por razões administrativas e financeiras” que inviabilizaram a contratação da MPB.

Com intervenção direta de Lula, ficou decidido que o deputado Rui Falcão (PT-SP) e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, dividiriam atribuições da coordenação de comunicação. Para o lugar de Augusto Fonseca foi contratado o publicitário baiano Sidônio Palmeira, responsável pelas campanhas vencedoras de Jaques Wagner e Rui Costa na Bahia, entre 2006 e 2018.

Valor Econômico