Ciro Gomes está cada vez mais fraco

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Foto: GZH/Reprodução

A pouco mais de três meses para as eleições, a estagnação do ex-governador cearense e presidenciável Ciro Gomes (PDT) nas pesquisas e a acentuada polarização do quadro eleitoral afetou seu partido nos Estados. Mapeamento feito pelo Valor indica que a sigla só disputará governos estaduais com candidaturas competitivas no Ceará, Rio de Janeiro e Maranhão.

Com exceção do Ceará, principal base eleitoral de Ciro, os nomes postos fazem acenos diretos ao petista Luiz Inácio Lula da Silva. No Rio de Janeiro, por exemplo, o pré-candidato do PDT ao governo estadual, Rodrigo Neves, já declarou discordar dos ataques frequentes do pedetista a Lula. O PDT fluminense tentava a composição de uma chapa com o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD), mas as negociações não avançaram. O palanque de Lula é o do deputado Marcelo Freixo (PSB).

No Maranhão, o senador Weverton Rocha (PDT) se classifica como o “amigo de Lula” no Estado. No início do ano, o parlamentar esteve com Lula em São Paulo. O encontro foi bastante explorado nas redes sociais do senador pedetista. Foram publicadas várias fotos ao lado de um Lula sorridente. Ali, o palanque oficial do petista deve ser o do governador Carlos Brandão (PSB), que assumiu o governo com a desincompatibilização de Flavio Dino (PSB), que concorrerá ao Senado.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o pré-candidato do PDT, Elvis Cezar, ex-prefeito de Santana do Parnaíba, que apoiou o presidente Jair Bolsonaro em 2018, tem aparecido com desempenho pífio em pesquisas eleitorais. O nome dele foi lançado apenas para Ciro Gomes ter um palanque no Estado.

Em Minas Gerais, Estado que congrega o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, Ciro causou desconforto ao atacar o pré-candidato do partido ao governo estadual, Miguel Correa Junior, que havia elogiado o ex-presidente Lula. “Esse cidadão que se apresenta como candidato do PDT em Minas Gerais, não é do PDT e não será candidato. Inclusive, é inelegível, porque tem ficha suja”, disse em entrevista à CNN. Miguel Correa havia comparado Lula ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, morto em 2013.

A dura reação de Ciro Gomes provocou uma crise. O presidente do PDT em Minas Gerais, deputado Mário Heringer, chegou a anunciar a renúncia do cargo, mas desistiu após conversa com o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi.

Na Bahia, Ciro Gomes tentava ter o palanque do ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), que lidera a corrida pelo governo do Estado. O PP ficou com a vaga do Senado e o PDT ainda tenta indicar a vice, mas as chances são remotas. O mais provável é que o Republicanos componha a chapa majoritária no lugar do PDT.

A situação de Ciro é ainda pior em regiões onde o presidente Jair Bolsonaro é mais forte. No Norte, no Centro-Oeste e no Sul, o pedetista tem que optar entre se espremer em palanques de bolsonaristas ou lançar candidaturas próprias com pouquíssimo apelo eleitoral.

Nem mesmo no Amapá, único Estado governado pelo seu partido, o ex-ministro conseguiu um palanque competitivo. O atual governador, Waldez Góes, rompeu com o vice e vai apoiar o ex-prefeito de Macapá Clécio Luís (Solidariedade), que não deve prestar apoio a nenhum presidenciável, em uma estratégia para não comprometer seu arco de alianças.

No Pará, o PDT apoia o governador Helder Barbalho (MDB). Com um palanque repleto de bolsonaristas e simpatizantes de Lula, ele deve anunciar um apoio “pro forma” à candidata do seu partido, a senadora Simone Tebet.

No Acre, o PDT local faz questão de reforçar que integra a base de apoio do governador Gladson Cameli (PP), bolsonarista ferrenho. Nos demais Estados do Norte, a tendência é de lançamento de candidaturas próprias ao governo, a maioria em chapa “puro-sangue” tanto na vaga de vice como na disputa pelo Senado.

Outra região com forte presença do bolsonarismo, o Centro-Oeste também não apresenta um cenário animador para Ciro. A tendência atual é de candidaturas próprias no Mato Grosso, com um vereador pouco conhecido. No Mato Grosso do Sul e em Goiás, os pedetistas devem apoiar candidatos de outros partidos ao governo, todos mais simpáticos a Bolsonaro. A melhor situação é no Distrito Federal, onde o partido conta com a candidatura de Leila do Vôlei, senadora, relativamente bem posicionada em uma disputa onde o governador Ibaneis Rocha (MDB) é favorito para se reeleger.

Na região Sul também há pouca expectativa de um palanque competitivo. Até recentemente, havia uma movimentação para que o deputado Gustavo Fruet concorresse ao Senado na chapa de Roberto Requião (PT), que tentará voltar ao governo e que vai apoiar Lula.

Em Santa Catarina, o partido filiou recentemente o ex-prefeito de Lages Fernando Coruja, que deve disputar o governo em chapa puro-sangue. No Rio Grande do Sul, após as dificuldades para uma aliança com Beto Albuquerque (PSB), foi anunciada a pré-candidatura de Vieira da Cunha ao governo.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, minimizou a fragilidade dos palanques regionais do partido que poderia potencializar a pré-candidatura de Ciro Gomes. “A gente, quatro anos após as eleições, continua se mantendo como terceiro lugar frente a tantos nomes que sucumbiram pelo caminho. Estamos resistindo”, diz.

Lupi disse acreditar no fortalecimento do palanque para Ciro no Rio Grande do Sul. “Lançamos a pouco mais de 15 dias o Vieira da Cunha. Candidato tem. Estamos nos fortalecendo”, apontou. Fez diagnóstico semelhante sobre São Paulo e apontou que há terreno para subida do pré-candidato pedetista. “Nas nossas pesquisas internas, o Elvis Cezar já aparece com 4%”, afirmou.

Valor Econômico