Bolsonaro demitiu ministro da Defesa que não quis golpe

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Carolina Antunes/PR

A demissão do general Fernando de Azevedo e Silva do Ministério da Defesa, em 29 de março de 2021, ocorreu após o militar se recusar a cumprir uma ordem de Jair Bolsonaro: pôr o Exército nas ruas nos estados que, devido à explosão da Covid naquele mês, haviam decretado lockdown.

A revelação foi feita pelo próprio Bolsonaro ao ministro José Dias Toffoli, numa conversa na biblioteca do Palácio do Alvorada, em maio de 2021, e está reconstituída em “Sem máscara”, livro que o jornalista Guilherme Amado lança pela Companhia das Letras, hoje, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, a partir das 19h.

Amado reproduz na obra a conversa entre Bolsonaro e Toffoli, conforme o trecho abaixo. Bolsonaro pretendia chamar a medida, segundo ele disse ao ministro, de “estado de emergência do bem”.

Veja o trecho:

“Bolsonaro julgava natural demitir Azevedo e Silva em decorrência de sua recusa em ordenar que o Exército fosse às ruas. Um mês e meio depois da saída do general, o presidente relembraria o episódio em uma conversa com Dias Toffoli, que fora ao Alvorada a convite do presidente. Foi recebido na biblioteca. Era a primeira oportunidade que Toffoli tinha desde aquele 29 de março, para, a sós com Bolsonaro, perguntar ao presidente por que demitira o ministro. Alguns momentos da conversa foram interrompidos por um garçom e um ajudante de ordens. O general não contara a Toffoli o motivo da demissão, fiel a uma postura discreta que, ao sair da assessoria do ministro do Supremo para o Ministério da Defesa, avisou que teria em relação aos temas de governo.

“Por que o senhor demitiu o general Fernando?”, perguntou Toffoli.
“Queria fazer um estado de emergência do bem e ele não quis.”
“Como assim, presidente? O que seria isso?”, perguntou um espantado Toffoli.
“Queria colocar o Exército nas ruas para abrir as lojas e abrir os estados e municípios porque os governadores e prefeitos fecharam tudo. Então eu queria abrir, tentar manter o emprego e a economia funcionando”, detalhou Bolsonaro, como se descrevesse algo trivial.

O presidente explicou a Toffoli que o Brasil não aguentaria mais um ano com “tudo fechado”. Disse saber que, “com a pandemia e a economia fechando”, seu governo seria impactado. Teria um preço a pagar pela economia estagnada, sem crescimento.

“Presidente, isso não tem cabimento. Para de exagerar, para com essa coisa”, aconselhou Toffoli, reeditando a postura que em diferentes ocasiões havia adotado na presidência do STF. Bolsonaro ouviu, não contra-argumentou, e a conversa naturalmente mudou para outro assunto.”

O Globo