Candidatos de todos os lados apelam a vaquinhas virtuais
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Pré-candidatos, da esquerda à direita, têm aproveitado a pré-campanha para lançar vaquinhas virtuais com o objetivo de mobilizar o eleitorado e colocar o “bloco” nas redes sociais. Em somente duas das 12 plataformas autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já são mais de 500 pré-candidatos com campanhas de financiamento ativas, com arrecadação de cerca de R$ 700 mil até a última sexta-feira.
Na Democratize, da rede de contabilidade eleitoral Essent Jus, o montante arrecadado já é três vezes maior que o do mesmo período de 2018. Ao todo, 390 pré-candidatos em 26 estados movimentaram até o momento R$ 500 mil. Mais de 70% das doações é feita com pagamento por PIX, uma novidade nas transações eleitorais deste ano. Já as 168 campanhas virtuais no ar na plataforma Vaquinha Eleitoral somam mais de R$ 200 mil.
CEO da Essent Jus, Guilherme Sturm avalia que a procura pelo financiamento coletivo não está ligada apenas à expectativa de arrecadação:
— É uma maneira de começar a divulgar a pré-campanha na internet com mais segurança jurídica. É também uma oportunidade para validar a base de apoio. Uma coisa é prometer apoio, outra é colocar grana.
Luciano Antunes, CEO da Vaquinha Eleitoral, também vê a estratégia como explicação para a alta demanda pelo serviço:
— Com a campanha, os pré-candidatos já podem colocar seu bloco na rua, antecipar sua exposição de ideias e propostas. A vaquinha tem duas finalidades claras: arrecadação e engajamento.
Esta será a terceira eleição com em que o financiamento coletivo (crowdfunding) poderá ser usado como forma de arrecadar recursos para as campanhas. É também o pleito que terá o maior fundo eleitoral destinado aos partidos: R$ 4,9 bilhões — em 2020, foi de R$ 2,034 bilhões. A expectativa entre as plataformas é que o uso do crowdfunding cresça ao longo do pleito pela segurança que fornece na identificação de doadores para a prestação de conta com a Justiça Eleitoral. Outro chamariz é o modelo de microarrecadação, com pequenas doações.
Os recursos arrecadados só poderão ser usados quando a candidatura for oficializada. Se ela não se efetivar, o dinheiro deve ser devolvido. Não é permitido usar plataforma para pedir votos.
O ex-secretário de Saúde do Rio Daniel Soranz (PSD), que disputará uma vaga na Câmara, é um dos pré-candidatos que apostam na arrecadação de recursos na pré-campanha. A meta é levantar R$ 100 mil. Até a última sexta-feira, ele já tinha chegado aos R$ 70 mil. Ele conta que a transparência do modelo de financiamento e o engajamento gerado com a campanha contribuíram para sua adesão ao crowdfunding.
— A alta adesão que tenho tem relação com a causa específica que defendo, que é o Sistema Único de Saúde (SUS). São apoiadores que já militam nessa área.
Pré-candidatos ao Congresso como Deltan Dallagnol (Podemos-PR), Guilherme Boulos (PSOL-SP), Kim Kataguiri (União-SP) e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) são alguns dos nomes que têm mobilizado seu eleitorado com vaquinhas. Estreante nas urnas, Dallagnol deu início à campanha de financiamento coletivo, na última terça-feira, com a meta de atingir R$ 300 mil. Em três dias, o ex-procurador da Lava-Jato já havia arrecadado R$ 70,5 mil, montante semelhante ao já movimentado por Boulos. O psolista, que ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2020, tem tradição em campanhas do gênero. No pleito passado, ele recebeu mais de R$ 2,5 milhões em doações. No caso de Kataguiri, a decisão de iniciar a vaquinha passa pela proposta de não usar recursos do fundo:
— Acredito que, ao combater no Parlamento a existência do fundo, eu possa dar exemplo de que é possível fazer campanha apenas com recursos daqueles que partilham da mesma visão política.