Crise mundial dos combustíveis faz reeleição de Bolsonaro empacar

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Foto: ESTADAO CONTEUDO

Na batalha entre Jair Bolsonaro e a Petrobras, os olhos se voltam hoje para a alta de preços. Mas a situação ainda pode ficar mais séria, exigindo do governo medidas mais drásticas para evitar uma crise de abastecimento e manter o presidente no páreo contra Lula.

A raiz do problema não está no Brasil, mas no mercado internacional. Com a guerra na Ucrânia, a Europa tem corrido para escapar da dependência dos combustíveis russos, aumentando enormemente a demanda por diesel nas mesmas regiões de onde o Brasil costuma importar. Importadores brasileiros relatam dificuldades para encontrar fornecedores em um ambiente de acirrada competição: onde antes conseguiam dez ofertas de compra, agora encontram duas.

Bolsonaro enfrenta um enorme desafio: os preços dos combustíveis vêm subindo com força desde o ano passado, e essa tendência ainda pode persistir por meses. A temporada de verão no Hemisfério Norte costuma elevar a demanda por combustíveis, ao mesmo tempo em que furacões podem paralisar refinarias no Oceano Atlântico.

O cenário ainda é muito incerto. Mas, a depender dos desdobramentos da guerra na Ucrânia e das sanções contra a Rússia, podemos ver não só novos aumentos de preços, mas também a falta do produto para o Brasil e outros países.

Bolsonaro ficaria, então, numa encruzilhada: de um lado, a situação poderia exigir o governo a tomar medidas visando a garantia de abastecimento, como a elevação dos estoques; isso, por outro lado, pressionaria ainda mais os preços, justamente no momento em que o governo tenta eliminar impostos sobre o diesel e trocar a diretoria da Petrobras.

Nesse cenário cada vez mais dramático, aumenta a probabilidade de medidas fiscais mais agressivas para baixar os preços na marra. Bolsonaro já se comprometeu a zerar os impostos federais sobre combustíveis. Os impostos estaduais, apesar da briga dos governadores no Supremo Tribunal Federal (STF), também devem diminuir nas próximas semanas. Apesar da resistência da equipe econômica, o governo ainda pode pedir apoio do Congresso para bancar, via Tesouro, parte dos custos de importação de combustíveis ou criar uma bolsa-caminhoneiro.

Quanto mais piora a situação no mercado global, maiores as probabilidades de medidas mais fortes, potencialmente às custas do Tesouro. Dará certo para Bolsonaro? Provavelmente não, dado que o eleitor, na média, já está insatisfeito há muito tempo com os preços elevados, e seria preciso um alívio muito grande para voltar à situação do início da crise. Além disso, as medidas não alcançam os preços de alimentos, que também têm afetado muito os eleitores mais pobres. Mas o governo não vê outra opção a não ser tentar – e torcer por uma queda mais forte nos preços e um retorno mais positivo do eleitorado.

Estadão