Lula manda dizer a empresários que não revogará reforma trabalhista

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Foto: Vanessa Carvalho / Estadão Conteúdo

Alexandre Padilha é deputado e médico. Mais recentemente tem sido o enviado especial de Lula para encontros com empresários — todos eles sedentos por qualquer migalha (se possível muito mais) de informação sobre a política econômica que Lula pretende implantar, se vencer em outubro.

Ontem à noite em São Paulo, Padilha participou de mais um desses compromissos.

Num jantar promovido pela Esfera Brasil, diante de uma penca de empresários e executivos de mercado financeiro relevantes, Padilha adotou um tom conciliador na conversa e, em alguns pontos, chegou a demonstrar alguma contrariedade em relação à versão preliminar do programa de governo do PT divulgada recentemente.

Perguntado, por exemplo, sobre privatização da Eletrobras, cujo processo foi concluído justamente ontem, Padilha disse Lula não irá rasgar contratos.

A prévia do plano de governo do PT prevê, por exemplo, propostas polêmicas como o fim do teto de gastos e a revogação da reforma trabalhista. Disse Padilha:

— O presidente Lula nunca falou a palavra revogar a reforma trabalhista.

Ele admitiu, no entanto, que a expressão foi usada por muitas pessoas do partido e consta no esboço do programa do PT, elaborado pela Fundação Perseu Abramo.

O que Lula defende, segundo Padilha, é uma abertura de negociação entre governo, empresários e trabalhadores para discutir direitos trabalhistas. Mesmo assim, Padilha afirmou que esse debate ainda precisa passar pelo Congresso Nacional.

Sobre o teto de gastos, Padilha disse que o que já está previsto é se fazer uma revisão da lei em 2026, dez anos após a sua criação. A ideia do PT seria a de se antecipar esse debate para 2023, três anos antes, portanto, do previsto.

De acordo com Padilha, muitos fatos, decorrentes principalmente da pandemia, justificam antecipar esse debate em três anos.:

— A situação social do país e a queda dos investimentos públicos justificam antecipar essa discussão. Não considero nenhum absurdo se fazer isso três anos antes do previsto.

Ainda assim, Padilha disse que não há nenhuma proposta concreta neste momento. Nestes dois temas, caros ao mercado financeiro, Padilha mostrou-se uma espécie de médico do Corpo de Bombeiros — apesar de algumas indefinições, o discurso é de injetar calma e mostrar-se aberto ao diálogo.

Padilha fez também uma espécie de mea culpa pelos resultados fiscais do primeiro governo Dilma. Segundo ele, houve uma expansão de alguns programas que não precisavam ter sido na dose que foram feitos.

Ressaltou, no entanto, que a “tragédia fiscal” daquele período tem mais a ver com a queda da receita por conta do erro de cálculo da desoneração do que com a expansão dos investimentos públicos. Ele também responsabilizou o Congresso por esse “erro de cálculo” da política de desoneração:

— Chegou um pônei (no Congresso) e voltou um dromedário.

Padilha deu muita ênfase à chapa Lula-Alckmin, que, segundo ele, reúne o melhor que tem no PSDB e o melhor do PT, e aos oitos anos do governo Lula, numa clara distinção aos anos Dilma.

— Os oito anos do governo Lula foram os únicos marcados por três coisas: crescimento, responsabilidade fiscal e redução da desigualdade. O presidente Lula não é um ET, não é uma figura desconhecida.

Deixou claro também que Lula não irá rasgar contratos, ao ser perguntado a respeito do processo de privatização da Eletrobras.

E quem Lula colocará na cadeira de ministro da Economia, se vencer? Arriscou Padilha:

— Se tivesse que apostar, eu diria que não será ninguém com uma tese própria que irá querer confirmar sua tese no governo.

Para ele, ainda por hipótese, será alguém com disposição de construir a política econômica junto com diversos atores.

Apesar de a economia ter dominado os interesses na maior parte do encontro, o tema corrupção também foi abordado. Neste momento, Padilha foi mais enfático:

— Se Lula e Alckmin ganharem as eleições, você pode ter certeza que o diretor da Polícia Federal não vai ser trocado porque quer investigar o filho do presidente da República. O mundo vê o país mais corrupto do que no governo do PT.

O Globo