Lula não falará em política fiscal agora

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Nelson Almeida/AFP

Depois de defender a antecipação da revisão das regras do teto de gastos de 2026 para 2023, o deputado federal e ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP), um dos principais auxiliares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua pré-campanha para volta à Presidência, disse ser contra um anúncio antecipado de qual será a política fiscal do petista caso eleito.

“É possível dizer hoje qual será a âncora fiscal [de um eventual governo Lula]? Eu defendo que não é possível dizer”, afirmou.

Segundo Padilha, há duas razões que impedem um anúncio desse tipo. A primeira, argumentou, é a forma “irresponsável” com que o governo Jair Bolsonaro vem lidando com o tema. Como exemplo, ele citou o “desespero” do presidente para gastar em pouco meses, com subsídios aos combustíveis, o valor arrecadado com a privatização da Eletrobras.

“Qualquer discussão de âncora hoje pode morrer daqui a um mês”, disse. “Qual é o grau de deterioração que acontecerá na economia do país até o fim do ano?”

A segunda razão, afirmou, é que “você só constrói isso [uma política fiscal] quando está no governo”.

As declarações ocorreram ontem durante conferência com empresários e investidores promovida pelo Citi, em São Paulo.

No evento, Padilha se apresentou como “um dos escalados” por Lula para o diálogo com agentes econômicos. “Tenho feito esse papel desde o fim do ano passado. Tem sido um diálogo positivo”, explicou.

Ao argumentar que uma política fiscal consistente e confiável só pode ser construída após assumir o governo, o deputado citou como exemplo a experiência do teto de gastos criado pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles no governo Michel Temer.

Ele lembrou que o teto de gastos não era mencionado no documento “Ponte Para o Futuro”, divulgado por Temer inicialmente como plano para o pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, depois não apareceu no discurso de posse de Temer e nem no de Meirelles. A proposta surgiu, reforçou, um ano e meio após a divulgação da “Ponte Para o Futuro”.

“Para [uma proposta de política fiscal] ser crível, você tem de estar com as contas na mão e tem de estar no governo para construir esse diálogo”, afirmou.

Em mais de uma ocasião, Padilha exaltou e parceria de Lula com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), falou da necessidade de diálogo e invocou o desempenho do petista durante seus oito anos de mandato como garantia de que não haverá irresponsabilidade em caso de vitória. “Farra fiscal não é característica do Lula nem do Alckmin”, afirmou.

O deputado voltou a falar de Meirelles ao defender a antecipação da revisão do teto de 2026 para 2023. Na sua avaliação, mudanças significativas no cenário justificariam essa medida. Muita coisa “não estava prevista na época de quem criou [o teto]”, afirmou. “Em 2016, Meirelles não sabia que iria ter pandemia, governo Bolsonaro, esse conjunto de irresponsabilidades [do atual governo]”.

Pré-candidato a deputado, Padilha disse acreditar que o nome do ministro da Fazenda num eventual governo Lula será definido ao longo da campanha, mas dificilmente será anunciado com antecedência pelo ex-presidente.

Valor Econômico