Mais sertanejos entram na mira das autoridades

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Foto: Alex Carvalho/TV Globo

O vereador de São Paulo Toninho Vespoli (PSOL) protocolou junto ao Tribunal de Contas do Estado de SP uma representação em que pede a investigação de gastos de prefeituras do interior paulista com shows de duplas sertanejas entre 2018 e 2021.

Um desses eventos ocorreu em Colina, cidade localizada a cerca de 405 km de São Paulo e com cerca de 18 mil habitantes. A administração municipal gastou R$ 1,1 milhão para contratar os cantores Matheus e Kauan (R$ 200 mil), Bruno e Marrone (R$ 223 mil) e Jorge e Mateus (R$ 425 mil), além do DJ Alok (R$ 275 mil), para a 41a Festa do Cavalo, em 2018.

Procurada, a prefeitura diz que “as contratações dos artistas foram realizadas de acordo com as leis vigentes” e que os shows “foram realizados conforme contrato, bem como os valores pagos eram os valores médios de mercado à época”.

O documento também cita uma apresentação da dupla Zé Neto e Cristiano em Atibaia, no mesmo ano. Eles receberam R$ 220 mil para fazer um show no evento de aniversário da cidade —que fica localizada a 70 km da capital paulista e tem uma população de 145 mil.

No mês passado, Zé Neto debochou da cantora Anitta e da Lei Rouanet durante um show em Sorriso, no Mato Grosso. Apesar do ataque ao incentivo público cultural, o próprio cantor recebeu um cachê de R$ 400 mil da prefeitura para se apresentar no local.

O episódio desencadeou uma série de críticas ao músico, mas também revelações sobre o uso de verba pública em megaeventos de sertanejos.

O documento enviado por Toninho Vespoli lista ainda outro caso envolvendo Zé Neto e Cristiano. A Prefeitura de Sebastianópolis do Sul contratou a dupla para o 23º Rodeio da cidade. O evento estava previsto para abril deste ano, mas foi cancelado devido à pandemia.

Segundo publicação no Diário Oficial, a dupla receberia um cachê de R$ 403,5 mil. Entre as atrações previstas também estavam shows de Bruno e Barreto (R$ 85 mil) e Maiara e Maraisa (R$ 200 mil).

A cidade fica a cerca de 500 km de São Paulo e tem população de 3,5 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A prefeitura de Sebastianópolis do Sul diz que nenhum valor foi pago, mas que o contrato com os artistas “ainda será cancelado”. Segundo a administração, o extrato de cancelamento “está sendo providenciado” e, em seguida, publicado no Diário Oficial do município.

A dupla Matogrosso e Mathias também foi contratada para tocar no Réveillon de Sebastianópolis do Sul, no dia 31 de dezembro de 2021.

Todos shows foram contratados sem licitação —uma prática comum quando se trata de apresentações municipais. “Por mais que estas contratações sem inexigibilidade de licitação sejam revestidas de legalidade”, diz o documento enviado por Vespoli, “não é defensável uma prefeitura com graves problemas em áreas como saúde ou educação gastar grandes somas de dinheiro na contratação de artistas famosos”.

O parlamentar pede que o tribunal averigue “se as contratações dos artistas mencionados observaram a lei, uma vez que é mínimo desarrazoável que estes municípios […] empenhem recursos públicos em eventos que são únicos e que não estimulam a economia de maneira contínua”.​

Procurada, a prefeitura de Atibaia não respondeu.

Folha