Nova presidente da Caixa é braço direito de Guedes

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Foto: Fátima Meira/Futura Press/Folhapres

Em mais um revés a cerca de três meses das eleições, o presidente Jair Bolsonaro substituiu Pedro Guimarães da presidência da Caixa Econômica Federal por Daniella Marques. A troca ocorreu após funcionárias do banco acusarem o executivo de cometer diversos atos de assédio sexual contra elas.

A exoneração, ontem, “a pedido” de Guimarães, foi publicada em edição extra do “Diário Oficial da União”. Bolsonaro não fez nenhum comentário a respeito das denúncias contra o executivo, publicadas na véspera pelo site “Metrópoles” e reiteradas pelo Valor por quatro servidoras da Caixa.

A troca na Caixa ocorre após pressões da ala política do governo e da campanha do presidente à reeleição, que desde as revelações vinham argumentando com Bolsonaro que a situação de Guimarães à frente do banco era “insustentável”. As denúncias de assédio atingem um público já problemático para o presidente, que tem altos índices de rejeição entre as eleitoras mulheres.

Braço-direito do ministro da Economia, Paulo Guedes, Daniella Marques deixa a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), cargo que assumiu em fevereiro. Antes, atuou como chefe da assessoria especial de assuntos estratégicos do ministério.

Ela é graduada em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e tem MBA em finanças pelo Ibmec. Trabalhou por 20 anos no mercado financeiro, na área de gestão independente de fundos de investimentos, e foi diretora de compliance e operações e financeiras (COO e CFO) da Bozano Investimentos. Na Oren Investimentos, foi diretora executiva. E na Mercatto Investimentos, diretora de risco e compliance, sócia e gestora de renda variável.

À frente da Sepec, ela vinha tocando projetos que a equipe econômica corre para implantar ainda neste ano, como a medida provisória (MP) dos semicondutores. Desde o início do governo, ela também tem papel central nas negociações com o Congresso, como foi o caso da proposta de emenda à Constituição (PEC) dos combustíveis.

No governo, a nomeação de Daniella Marques foi vista também como mais uma demonstração de força de Guedes frente ao Centrão, depois de embates em relação à tramitação de propostas no Congresso.

Antes disso, em maio, ele emplacou o ex-chefe da assessoria especial e ex-secretário de Política Econômica Adolfo Sachsida no comando do Ministério de Minas e Energia. No mesmo mês, obteve a indicação do então secretário de Desburocratização, Caio Mário Paes de Andrade, para a presidência da Petrobras.

Um auxiliar da ala política admite que a escolha de Daniella também configura um aceno de Bolsonaro às mulheres. Em paralelo aos atributos técnicos, a escolha de uma mulher para o comando da Caixa também é simbólica.

Mas esse auxiliar faz ressalvas: mais importante do que escolher uma mulher foi concretizar rapidamente a demissão de Guimarães, para passar o recado de que o governo não compactua com esse tipo de comportamento e pune quem infringe essas regras. A segunda observação é de que, antes de tudo, Daniella atende a todos os atributos exigidos para o cargo.

Um integrante da equipe de Guedes observou ao Valor que as recentes indicações de auxiliares do ministro da Economia para cargos estratégicos do governo à frente do setor de óleo e gás, e de bancos públicos, evidencia um aumento da influência da área técnica em setores até então controlados pelos militares e pela ala política. Com Sachsida e Paes de Andrade no MME e na Petrobras, Guedes passou a controlar a política pública sobre óleo e gás, embora ambos tenham tido o aval da ala política do governo, que tem à frente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).

O mesmo aliado de Guedes observa que Pedro Guimarães foi uma indicação pessoal do ministro da Economia para o cargo no início do governo. No entanto, Guimarães, com o tempo, teria abandonado o perfil técnico e se aproximado da ala ideológica do governo, distanciando-se do grupo de Guedes.

Devido à proximidade com o próprio Bolsonaro, Guimarães chegou a ser citado como candidato a alguma cadeira no ministério e até mesmo para a vaga de vice na chapa, posto que será ocupado pelo general Walter Braga Netto.

Ao formalizar o pedido de demissão ao presidente, Guimarães entregou a Bolsonaro uma carta na qual diz ser alvo de “uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”. Segundo ele, as acusações, que constam de inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, não são verdadeiras. “Não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral”, escreveu.

Antes de efetivada a demissão de Guimarães, cinco entidades representativas dos empregados da Caixa Econômica Federal defenderam o afastamento do executivo e pediram uma “apuração rigorosa” do caso. No texto, as associações dizem ter recebido “com perplexidade” os depoimentos das “corajosas mulheres” que, de maneira anônima, relataram à imprensa a conduta de Guimarães.

“As denúncias reiteradas por várias colegas são gravíssimas e expõem a Caixa a indiscutível risco à sua imagem institucional”, disseram as instituições.

Valor Econômico