Assassino de petista o acusa de ‘embriaguez’

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Foto: Reprodução

A defesa do policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que matou a tiros o guarda municipal Marcelo Arruda enquanto ele comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT alusiva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, solicitou ontem à Justiça do Paraná exames periciais para “constatação de embriaguez” da vítima.

O advogado Daniel Godoy, um dos defensores da família do petista morto no último sábado (9) em Foz do Iguaçu (PR), rebate: “é uma tentativa de criminalizar a vítima, justificar a versão de que se trata de briga de bar e de descaracterizar o crime de ódio por motivação política”, disse, em entrevista ao UOL.

O pedido dos exames foi assinado pela advogada Marise Jussara Franz Luvison, indicada pelo Sindicato dos Agentes Federais de Execução Penal de Catanduvas (PR), onde Guaranho trabalha. No documento ao qual o UOL teve acesso, a defesa solicita imagens de câmeras de vigilância para verificar o consumo de bebida alcoólica pelo aniversariante na festa.

A defesa ainda alega legítima defesa, contrariando o que aparece nas imagens captadas na cena do crime. O vídeo mostra o momento em que Guaranho desce do veículo, atira duas vezes e segue em direção ao salão de festas para matar Arruda.

Contudo, a advogada que representa o policial penal diz que a vítima retira a arma da cintura e aponta em direção ao acusado. “Jorge Guaranho realiza passos para trás e, na busca de se defender, aponta a arma em direção a Marcelo”, cita a advogada no documento.

“As imagens mostram que o acusado Jorge profere algumas palavras, e pelo que indica, pedindo para que a vítima abaixasse a arma, o que é ignorado, e ainda assim, Marcelo contínua indo ao encontro do acusado com a arma em punho apontada na direção de Jorge, obrigando-o a efetuar dois disparos na busca de sua defesa”.

Após atirar em Arruda, Guaranho também é baleado. No chão, é agredido por chutes na cabeça desferidos por dois convidados da festa. Internado na UTI do Hospital Ministro Costa Cavalcante, o policial penal respira com o auxílio de ventilação mecânica e está em estado estável.

O advogado Daniel Godoy contestou a versão de legítima defesa apresentada pela advogada do sindicato da categoria pela qual o policial penal atua. “Guaranho atira duas vezes para dentro. Depois, entrou no local e desferiu mais um tiro quase à queima-roupa. Só depois de atingido e caído no chão é que Marcelo atira”.

Os defensores que representam a família de Arruda se manifestaram no processo contra a atuação do sindicato que representa o policial penal no caso.

“Não existe amparo legal para a atuação do sindicato, que pode atuar em questões de natureza coletiva, que envolvam a categoria. Esse caso diz respeito à prática de um crime”, argumenta Godoy.

O UOL não localizou os representantes do sindicato para que ele pudessem se posicionar.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), Guaranho foi de carro à entrada da festa onde o guarda municipal Marcelo Arruda comemorava o aniversário com uma festa temática sobre o PT. Segundo testemunhas, a esposa do policial penal estava com a filha de 3 meses no banco de trás.

De acordo com a investigação, ele reproduzia uma música em som alto em alusão a Bolsonaro e começou a insultar os integrantes da festa. A ação, flagrada em vídeo, mostra o momento em que Arruda aparenta jogar algo em direção ao veículo.

O bolsonarista então reage, mostrando a arma. O policial penal deixou o local e retornou sozinho depois de cerca de 20 minutos. As imagens mostram o momento em que ele volta ao local e dá dois disparos em direção ao interior da festa.

Um vídeo interno registra Arruda mancando após ter sido atingido na perna. Guaranho então se aproxima, atira na direção da vítima e se afasta. Mas é atingido pelos tiros dados pelo guarda municipal, que reagiu. No chão, o policial penal foi agredido com chutes na cabeça dados por um dos integrantes da festa.

Oito pessoas já foram ouvidas pela Polícia Civil do Paraná. Entre elas, testemunhas e parentes de Guaranho. A reconstituição do crime deverá ser feita nos próximos dias.

O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sediada na capital Curitiba. Foi criada uma força-tarefa com agentes da especializada “para garantir celeridade na apuração dos fatos”, informou a Secretaria da Segurança Pública do Paraná.

A previsão é de que o inquérito seja concluído dentro de uma semana.

Uol