Bolsonaristas-raiz são só 15%

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Foto: Ivan Martínez-Vargas

A menos de três meses para o primeiro turno das eleições, as pesquisas de intenção de voto não deixam dúvidas de que o ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está na dianteira sobre seu adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição. A diferença entre os dois varia, principalmente quando pesquisas feitas a partir de contatos telefônicos e presenciais são comparadas, alvo de reportagem recente do Pulso.

Uma pergunta, no entanto, continua em aberto: é a constante investigação, por acadêmicos e especialistas em opinião pública, sobre o tamanho do chamado de “núcleo duro” do eleitorado do presidente. Ou seja, não apenas os que rejeitam o PT ou Lula, ou que simpatizam com certos apelos de Bolsonaro, mas os eleitores com alta aderência a posicionamentos políticos mais radicais do pré-candidato à reeleição e menos potencial de rejeição aos seus discursos.

Não há consenso entre especialistas e também há diferentes formas de investigar o tamanho desse núcleo, como a análise de segmentações do eleitorado, mas a última edição da pesquisa “A cara da democracia” ajuda a mapear essa fatia: com possíveis variações para cima ou para baixo, até pela margem de erro total da pesquisa, de 1,9% ponto percentual, o núcleo-duro bolsonarista pode ser estimado, hoje, em cerca de 15%.

A partir do cruzamento de seis perguntas e respostas do questionário de mais de 50 itens da pesquisa, essa parcela começa a ficar clara. Somam 15% os que concordam com a afirmação de que “em algumas circunstâncias, uma ditadura pode ser preferível a um governo democrático”, pauta que costuma aparecer em protestos mais radicais pró-Bolsonaro, que cobram o fechamento de instituições como o Supremo Tribunal Federal. Os que respondem “confiar muito” na atual Presidência da República são, nas entrevistas feitas em junho, 16%, ou seja, não demonstram nem um pouco de desconfiança em Bolsonaro, uma vez que havia opções como “confia mais ou menos”, “pouco” e “não confia” no questionário.

Em uma escala de 1 a 10, na qual 1 representa “não gosta de jeito nenhum” e 10, “gosta muito”, 13% escolheram o número 10, ou seja, em linha com essa fatia da população que demonstra alta fidelidade ao capitão. Isso não quer dizer que a base bolsonarista gira em torno de 15%, uma vez que o último Datafolha, feito em junho, mostra Bolsonaro com 25% na pesquisa espontânea (10 pontos percentuais a mais) e 28% na estimulada (quando são apresentadas as opções dos pré-candidatos).

De volta ao núcleo-duro, a percepção sobre corrupção dá outro sinal de que esse grupo tem um tamanho claro: 15% responderam que a corrupção “diminuiu muito” durante os últimos quatro anos, no governo Bolsonaro. O meio ambiente também dá essa pista. Apesar de 83% dos entrevistados concordarem com a afirmação de que “o desmatamento da floresta deve ser proibido em todas as circunstâncias”, somam 13% os que escolheram a frase “a extração de madeira na floresta amazônica é necessária para reduzir a miséria na região”, em linha com pautas de Bolsonaro, que também defende o garimpo contra o que considera ameaça estrangeira em busca da riqueza da região. Por fim, 14% consideram o STF “nada importante” para o funcionamento da democracia no Brasil, outro sinal em linha com discurso do bolsonarismo mais radicalizado que, muitas vezes, exige nas ruas o fechamento da Corte.

A pesquisa “A cara da democracia” foi feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC), com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual, e o índice de confiança é de 95%. A pesquisa reúne as universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj, com financiamento de CNPq e Fapemig, e está registrada no TSE (BR-08051/2022).

O Globo