Bolsonaro “descobre” pobreza do povo tarde demais
Foto: Hora do Povo
A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, que mostra diferença de 14 pontos entre Lula e Bolsonaro, aponta que não há nada de aleatório no pacote de bondades que Jair Bolsonaro de forma engenhosa “emprenhou” no Congresso, e cujos frutos espera colher a tempo do primeiro turno.
O conjunto de medidas ataca diretamente os dois principais problemas e as duas principais motivações de voto captadas pela pesquisa: a economia e as questões sociais, que são, na verdade, indissociáveis e respondem por 61% das respostas nesses quesitos.
Mesmo antes da aprovação final das medidas e, portanto, de sua chegada na ponta, a pesquisa mostra um conhecimento razoável por parte da população de sua discussão, mas não é animadora quanto à possibilidade de que seus efeitos resultem necessariamente em ganhos eleitorais para o presidente.
A boa notícia para ele, melhor até que a do mais recente levantamento do Datafolha, é que, aqui, Bolsonaro não apenas estancou a deterioração de sua intenção de votos, mas apresenta recuperação em alguns dos segmentos mais críticos para ele — de novo, antes mesmo das medidas eleitoreiras.
Eis um dado que deveria acender um enorme sinal amarelo na oposição que, de forma tão graciosa, vai entregando a Bolsonaro mais de R$ 40 bilhões livres de amarras legais para serem injetados na veia do eleitor no curto espaço de tempo que nos separa da urna.
Sem reajustar o Auxílio Brasil para R$ 600 (50% a mais) e incluir mais 1,4 milhão de beneficiários, o presidente já deu um salto em relação a junho no Nordeste: de 15% para 22% das intenções de votos. Lula, ainda muito forte na região, despencou de 68% para 59% em um mês sem um fato que explique a curva.
O presidente experimenta uma recuperação numérica também no populoso Sudeste, passando de 30% para 33%.
Na contramão das boas notícias para o Planalto, chama a atenção a queda de Bolsonaro no Centro-Oeste, seu principal enclave geográfico de votos: foi de 44% em maio para 35% agora.
Embora inflação e outros fatores econômicos continuem determinando o mau humor do eleitorado com o governo e com Bolsonaro, há uma estabilidade na avaliação dos entrevistados quanto à capacidade de pagar contas ou o impacto da crise nas suas vidas. O pior momento, nesse aspecto, se situa entre março e maio.
Se o quadro nacional, descontadas oscilações segmentadas de um e de outro, se manteve praticamente estável, há na leitura dos dados da pesquisa a constatação de que a chance de Lula liquidar a fatura no primeiro turno não está dada e há espaço para alterações no cenário: 34% ainda admitem mudar de voto.
Pelos dados da rejeição, Bolsonaro ainda é inelegível: 59% dizem não votar no presidente de jeito nenhum. Mas isso é variável, a depender das armas com as quais o presidente vai contar, e elas são muitas e foram dadas de bandeja pela oposição.
Esses dados deveriam suscitar no PT e no restante da oposição mudanças na estratégia de deixar o presidente jogar sem marcação para depois não dizerem que nunca imaginaram que, depois de um governo tão mal avaliado, Bolsonaro chegaria forte à reta final da eleição.