Chefão do União Brasil teme pela democracia

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Com um desempenho fraco nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial, o deputado Luciano Bivar (União-PE) afirmou ao Valor que aposta no conteúdo de suas propostas, principalmente a reforma tributária que criará um imposto único, para ganhar competitividade. Ele reconheceu, no entanto, que o período de campanha de apenas 45 dias pode ser curto para romper a atual polarização.

Bivar defendeu o teto de gastos, mas disse que poderia acabar com o Auxílio Brasil depois que a reforma tributária impulsionasse a economia. “Apenas quando a gente vir que a sociedade tem acesso aos insumos básicos garantido por uma economia forte.”

À frente de um partido com bandeiras liberais, defendeu a privatização somente de empresas estatais “deficitárias”. “Não é por sermos liberais que a Petrobras tem que ser privatizada”, apontou.

Em meio às expectativas de que poderia abrir mão da postulação, Bivar nega a possibilidade. Segundo ele, três mulheres estão cotadas para compor a chapa como vice.

Nosso projeto econômico está pronto. Tem o imposto único como base. Esse projeto será a mãe de todas as reformas”

O pernambucano evitou citar nomes que comporiam a equipe econômica, mas revelou que o ex-juiz Sergio Moro, que teve frustrada sua pretensão de concorrer à Presidência pelo partido, está ajudando a desenhar as suas propostas para a área de segurança pública. “O Moro, talvez por nunca ter sido político, imaginou que talvez pudesse levar adiante a campanha dele sem apoios partidários”, disse. A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Valor: O senhor lançou sua pré-candidatura no fim de maio. Como foi a sua jornada até aqui?

Luciano Bivar: A grande dificuldade é que estamos concorrendo com um candidato que esteve no poder durante 13 anos e outro que está na Presidência. É natural que o “recall” deles seja diferenciado dos demais. Esperamos que, quando chegar a propaganda institucional, o nosso conteúdo chegue ao público. Então, acredito que a gente vai alterar sensivelmente esse índice de pesquisa.

Valor: Há projeções que apontam uma melhora?

Bivar: Acreditamos muito em nós, porque temos conteúdo. Temos uma proposta de reforma tributária, que é o imposto único, elaborada por economistas que tem todo cacife dentro da ciência econômica. São pessoas que acreditam que essa nova forma de tributação é a mais viável. Nós temos um time que está entregando algo que tem uma credibilidade muito grande, porque conhecem os principais segmentos da economia. A gente aposta muito no conteúdo. O que precisamos é que isso chegue lá na ponta. Eu não sei se os 45 dias para a propaganda institucional será tempo suficiente para que esse conteúdo chegue ao público.

Valor: Quando o senhor divulgará o plano de governo?

Bivar: Devemos divulgar perto da nossa convenção [prevista para 5 de agosto]. Nosso projeto econômico já está pronto. Tem o imposto único como principal base. Esse projeto será a mãe de todas as reformas. Se você não tiver economia forte, não teremos força nas outras áreas. Tudo depende da força econômica do país e a gente precisa efetivamente viabilizar isso. Não faz sentido fazer uma reforma com o retrovisor. Sou o único candidato que apresenta um projeto contemporâneo.

Valor: Qual é a regra fiscal que seria adotada pelo seu governo? O senhor manteria o teto de gastos?

Bivar: Eu sempre briguei pelo estabelecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e do teto fiscal. Acho importante ser firme com o equilíbrio fiscal, estabelecendo o teto. As variações do teto, a gente até pode discutir no Congresso, mas está estabelecido em lei. Mas eu acho uma insanidade econômica furar o teto. Criar um desequilíbrio fiscal é inaceitável para quem quer uma sustentabilidade econômica para o país. Eu manteria o teto como está. A gente pode discutir um novo teto fiscal amanhã, mas tem que ter um teto.

Valor: Quais reformas estão no radar, caso o senhor seja eleito?

Bivar: A privatização de empresas que sejam efetivamente deficitárias, que servem apenas como cabide de emprego, isso a gente tem que rever. Nós somos liberais, mas isso não significa que a gente vai se apropriar de um bem do Estado. A Petrobras é um bem do Estado. Não é por sermos liberais que a Petrobras tem que ser privatizada. Se ela é rentável, é preciso aproveitar. Agora, tem que colocar um concorrente ao lado dela. O que mira o nosso liberalismo é o consumidor. O monopólio é nefasto para nós e esse processo precisa ser revisto para evitar que algumas estatais distorçam a democracia como uso eleitoreiro.

Valor: O senhor tem planos para algum programa de transferência de renda?

Bivar: Em um primeiro momento, sim. Mas, em um segundo momento, com essa reforma tributária, isso não vai ser necessário.

Valor: Então, o senhor acabaria com o Auxílio Brasil?

Bivar: Apenas quando a gente vir que a sociedade tem acesso aos insumos básicos garantido por uma economia forte. Essa simplificação tributária vai ser mais representativa do que foi o Plano Real para o governo FHC.

Valor: Mas o senhor sabe das dificuldades em conseguir emplacar uma reforma tributária. O senhor tentaria fazer logo no início do governo?

Bivar: A gente vai fazer isso obedecendo os prazos constitucionais no primeiro semestre. É fundamental o destravamento disso. O que estamos trazendo é uma questão de decisão política. O União Brasil vai ter força para isso. A gente vai sair forte dessas eleições, com mais de 60 deputados federais e mais de 10 senadores. Como é uma ideia boa para todos, tenho certeza que haverá esse convencimento.

Valor: O senhor já tem nomes para compor a equipe econômica?

Bivar: Nós não teremos um Posto Ipiranga. Nós teremos um projeto certo de economistas. Seria uma precipitação da gente [indicar alguém agora]. A gente tem muitas mentes brilhantes que estão colaborando com nosso projeto.

Valor: Qual seria o papel de Sergio Moro em seu governo?

Bivar: Moro lançou sua candidatura ao Senado e as pesquisas internas o apontam muito bem. Mesmo fazendo a campanha, está dando subsídios para montarmos nosso plano de segurança pública.

Valor: Mas ele não se desgastou muito nos últimos anos?

Bivar: Ele é filiado ao União Brasil e é candidato ao Parlamento. Tenho admiração por ele. Teve um desprendimento muito grande em abrir mão da sua pré-candidatura à Presidência da República em prol de uma unidade contra polos extremos. Infelizmente, o projeto dele não foi à frente por questões partidárias. Eu tenho convicção de que ele será um grande senador e vai contribuir muito para a sociedade devido a sua integridade moral. Não vejo a democracia sem sistema partidário. O Moro, talvez por nunca ter sido político, imaginou que talvez pudesse levar adiante a campanha dele sem apoios partidários.

Valor: O senhor acha que a candidatura de Simone Tebet vai até o fim?

Bivar: Não acho a candidatura dela firme e forte. Se fosse assim, eu estaria engajado. Temos luz própria, tempo de televisão, apoio logístico conquistado eleitoralmente com o fundo especial de campanha. Tudo isso faz com que o União Brasil não possa ficar atrelado a uma eventual candidatura que a gente não tem a certeza que ela seja homologada.

Valor: Ficou alguma mágoa nessa negociação com PSDB e MDB?

Bivar: Não. O Rodrigo Garcia está nos apoiando em São Paulo. Agora, vamos ter o apoio do candidato do PSDB ao governo do Rio Grande do Sul [Eduardo Leite] e nós também o apoiaremos.

Valor: Mas eles vão dar palanque para a Simone também.

Bivar: No Rio Grande do Sul, você tem uma candidatura do MDB e uma do PSDB. O Rodrigo Leite [quis dizer Eduardo Leite] está nos convidando para formar na majoritária dele. Teremos um palanque importante no Rio Grande do Sul. Temos 13 candidatos ao governo que nos darão espaço para falar sobre nossa candidatura. Todos querem a nossa participação nas convenções.

Valor: O fato de ter muitos recursos o deixa mais confortável para manter a candidatura é o fim?

Bivar: Quando o DEM e o PSL se fundiram, a gente queria trazer uma ideia, um projeto de Brasil. O mais importante é a gente levar as nossas ideias. Seria uma covardia se não apresentássemos esse projeto.

Valor: Mas como o senhor pretende romper a polarização?

Bivar: Nenhum dos dois principais candidatos chega a 50%. Estamos acreditando no desconforto que a gente vê com essa polarização. Se eu não acreditar nisso, eu estou ferrado.

Valor: Caso isso não seja possível, quem o senhor defenderia em um segundo turno entre Lula e Bolsonaro?

Bivar: Eu sou diferente da biologia feminina. É uma caixinha de cada coisa. Eu ainda não tenho a minha caixinha de segundo turno. Minha caixinha só está no primeiro turno. Step by step.

Valor: Quem vai ser candidato a vice? Falam muito no nome da senadora Soraya Thronicke.

Bivar: A senadora Soraya está sendo contemplada na nossa Executiva. É um nome de grande referencial, é uma senadora qualificada e demonstra sua integridade pessoal. Foi eleita para o Senado às custas de sua própria tenacidade e respeito que tem na comunidade. Então, é uma pessoa que está sendo bem apreciada como outras pessoas também dentro do União Brasil. Estamos considerando três nomes femininos para a Vice-Presidência.

Valor: O União Brasil chegou a flertar com a possibilidade de apoiar a candidatura de Bolsonaro?

Bivar: Quando nos distanciamos, foi principalmente por respeito às instituições. Seria cômodo para o PSL ter ficado dentro do governo. Eu tenho muito medo de nossas instituições serem arranhadas. Escreveu o Robinson, o britânico, naquele livro “Por que as nações falecem” [quis dizer “Por que as nações fracassam”, de Daron Acemoglu e James A. Robinson] o quanto suas instituições são frágeis… A gente precisa fortalecer manter acesa a luz da democracia, da liberdade de imprensa e da liberdade econômica. Se não temos isso, podemos comprometer a liberdade individual.

Valor: Há algum arrependimento em relação à estrutura que vocês deram para Bolsonaro em 2018?

Bivar: Vou te responder filosoficamente: a gente se arrepende do que a gente não faz na vida. A gente tinha honestidade, tinha intenção de acertar. Se a coisa não deu certo, paciência. Vínhamos de um governo desastroso que a gente precisava interromper. Quando me aparece uma possível candidatura que a gente poderia interromper aquele processo, nós abraçamos. Fomos de boa fé. Conquistamos uma musculatura ali. Então, dizer que eu estou arrependido seria demagogia. Estou sentido que nosso projeto não tenha ido adiante, mas nos deixou um legado que nos permite recuperar alguma coisa.

Valor: O senhor está preparado para responder sobre as supostas candidaturas de laranjas que o PSL teria tido em 2018?

Bivar: A gente nunca foi indiciado. E os indiciados foram absolvidos agora, porque não houve nenhuma candidatura laranja. O Ministério Público já pediu o arquivamento e todos foram absolvidos.

Valor Econômico