Ciro pode não conseguir palanque nem no Ceará

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Foto: Jorge William / Agência O Globo

Em meio ao impasse do PDT para a definição do nome que concorrerá ao governo do Ceará, o presidenciável Ciro Gomes assumiu nos últimos dias a articulação que tenta garantir um palanque exclusivo, em seu principal reduto eleitoral, para sua candidatura ao Palácio do Planalto. O risco de rompimento da aliança pedetista com o PT cearense, que diverge da condução de Ciro, fez com que seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), desponte como opção para a disputa. Cid, que vem negando esta possibilidade, tem relação próxima com o ex-governador Camilo Santana (PT), que o sucedeu no governo em 2014.

A relação entre Ciro e Camilo, pré-candidato ao Senado, se deteriorou após o petista defender a atual governadora Izolda Cela (PDT), sua antiga vice, como candidata à sucessão. Izolda, que recebeu apoio também de siglas da base governista como PP e MDB, é o nome visto como mais próximo ao PT, com chance de abrir palanque ao ex-presidente Lula. Ciro, por sua vez, apontou preferência pelo ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), considerado o mais alinhado ao pedetista, e declarou em maio que não se submeteria “ao lado corrupto do PT”.

Embora viesse poupando Camilo até então, Ciro criticou o ex-governador em entrevista ao podcast Avesso, na última quinta-feira, e disse não saber se ele “era ou é nosso aliado”. Anteontem, após participar de uma reunião do PDT em Fortaleza, Ciro declarou que a unidade do partido tem sido “insultada” e “agredida”. Cid, que costuma conduzir as articulações estaduais, não foi ao encontro.

— A relação entre PT e PDT aqui sempre foi tensa, mas creio que o bom senso prevalecerá para não haver rompimento — afirmou o ex-deputado Domingos Filho (PSD), cotado como vice na chapa pedetista.

Domingos, vice de Cid Gomes em sua reeleição como governador do Ceará em 2010, frisou que cabe unicamente ao PDT definir seu candidato, mas reconheceu ter simpatia ao nome do senador. Embora lideranças do PDT afirmem reservadamente que Cid tem se mantido afastado das articulações por problemas particulares, e que já reiterou não ter desejo de concorrer ao governo, seu nome passou a ser visto, de acordo com outro cacique partidário, como o que tem mais chances de agradar simultaneamente ao PT e a Ciro.

— Se assim fosse, seria até uma predileção minha, já que fui vice dele. Mas vamos respeitar as instâncias partidárias — disse Domingos.

O afastamento de Cid das articulações coincidiu com a escalada das desavenças entre PT e PDT, que busca impulsionar a campanha de Ciro. Com 8% das intenções de voto, segundo o Datafolha, Ciro tem visto estremecimentos palanques estaduais em estados como Rio e Maranhão, onde pré-candidatos pedetistas se aproximaram, respectivamente, de blocos de apoio a Lula e ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

O risco de rompimento da aliança cirista no Ceará é tido como vantajoso para o pré-candidato da oposição, Capitão Wagner (União), que tem apoio do bolsonarismo. Em 2020, Wagner perdeu uma disputa apertada pela prefeitura de Fortaleza, por 3% dos votos, para o pedetista Sarto Nogueira, que teve ampla aliança.

— Mesmo que o nome seja Cid, é importante que seja uma decisão tomada pelo PDT. Nosso posicionamento é pela continuidade da aliança — disse o presidente do PSB cearense, Denis Bezerra.

Além de Izolda e Cláudio, o deputado federal Mauro Benevides Filho e o presidente da Assembleia Legislativa cearense, Evandro Leitão, estão colocados como pré-candidatos do PDT. Na segunda-feira, o partido fará nova reunião para buscar um consenso.

O Globo