Empresários veem manifesto como melhor arma contra Bolsonaro

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Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O empresário Horácio Lafer Piva acredita que a mobilização da sociedade, por meio de manifestos que começaram a proliferar, é a melhor arma para combater os ataques do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral, às instituições e à democracia do país. E mesmo que, inicialmente, atinjam um estrato da sociedade, essas manifestações, diz ele, têm o poder de convencer toda a população “a não se render apenas ao discurso populista”.

Piva, que é membro do conselho da Klabin, está entre os cerca de 3 mil que já assinaram o manifesto em defesa da democracia, divulgado ontem pela Faculdade de Direito da USP. “Nesse momento não tem empresário, jurista ou artista, é a defesa de todos, das pessoas que começam a prestar mais atenção e perceber que as coisas estão transbordando”, destaca.

Não é a possibilidade de um golpe militar o que mais preocupa o empresário. “As Forças Armadas estão na linha de provar qual será a sua posição nos próximos dois meses”, afirma. O que o amedronta são os riscos de confusões, de mortes – “que seja apenas uma” – e de confrontos físicos que a polarização alimenta, além da perda de credibilidade das instituições.

Para ele, a despeito do “pacote de bondades” do governo federal, que reduziu os preços dos combustíveis e amplia programas sociais, entre outros benefícios, “a defesa do presidente tornou-se inconsistente”. Os riscos à democracia, segundo o empresário, superam o que se ganhou com medidas como a reforma trabalhista ou o esforço do ministro Paulo Guedes na Economia. “Além disso, os episódios de corrupção e mentiras derrubaram o que era um ativo deste governo”, completa.

Para o economista Luiz Fernando Figueiredo, outro signatário do documento, o que motivou as mais de 3 mil assinaturas foi a necessidade de a sociedade civil mostrar que não concorda com as frequentes ameaças à democracia e ao processo eleitoral.

No ano passado, Figueiredo, que ocupou a diretoria de Política Monetária do Banco Central até 2001, assinou outro manifesto, organizado pelo Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP). Ele também diz que acredita na força de mobilizações como essas. Figueiredo, que chegou a manifestar seu apoio à candidatura do ex-ministro Sergio Moro à Presidência, lembra que o Brasil é elogiado mundialmente por ter um processo eleitoral crível e ágil. “Ter qualquer dúvida sobre isso é ruim”, destaca. “Sem fazer juízo de valor sobre um outro candidato, a democracia tem que seguir o seu curso. Vamos seguir com o que o Brasil tem conquistado”.

Piva sugere que, independentemente das distintas siglas partidárias, os candidatos à Presidência que se preocupam com as insinuações do presidente de desacato ao resultado das eleições deveriam, pelo menos nesse ponto, “assumir um discurso unificado em prol da democracia”. “Os chefes de campanha deveriam se reunir e fazer um pacto em torno disso, nem que esse pacto dure uma única semana”.

Para Piva, a sociedade brasileira não deveria, neste momento, se preocupar com o que pensam os investidores estrangeiros. “Este é o momento de lidarmos com nós mesmos; de ter ação e coragem”, afirma. Para ele, em geral, o investidor estrangeiro costuma olhar uma série de coisas no país e perturbações políticas são vistas por ele como “um susto que depois vai passar”. Apesar disso, para o empresário, nesse atual cenário, o Brasil perde a grande oportunidade de atrair mais dinheiro do exterior.

Para outro signatário do manifesto ligado ao mercado financeiro mas que preferiu não ser identificado, o que moveu os apoiadores do documento não é a defesa do atual Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas sim dessas instituições em uma dimensão mais estrutural.

Segundo esse executivo, as preocupações com o clima tenso que tem resultado das declarações a respeito das eleições estão espalhadas pelo Brasil. “O documento não é uma defesa deste STF, que fala por si, mas espelha um posicionamento mais institucional”, diz. Para esse executivo, as brigas públicas passaram do ponto. São “ruídos que têm um efeito paralisante sobre a economia real”.

Para a economista Ana Carla Abrão, da consultoria Oliver Wylman, o que chama a atenção no manifesto é o fato de o documento reunir assinaturas de pessoas de diferentes setores e posicionamentos, com maior e menor grau de engajamento político, mas que têm em comum a preocupação com a democracia. “É a convergência da sociedade para defender o valor que nos une”, afirma. “Somos um país democrático, trilhamos esse caminho a duras penas, e a sociedade não tolera, nem tolerará, que nos seja tirada essa conquista.”

Valor Econômico