Flagelo de professores, e x-governador do PR tenterá ser deputado
Foto: Ricardo Almeida / ANPr
Após três prisões desde 2018, quando despontava como nome favorito ao Senado pelo Paraná, o ex-governador Beto Richa (PSDB) está de volta à vida pública e deve concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados neste ano. “Foi um momento terrível, nunca esperei passar por aquilo. Peguei o ápice do ativismo judicial. Foi perseguição mesmo, de membros do Ministério Público, eu falaria horas sobre todos os processos, acusações falsas e levianas que fizeram contra mim e minha família”, disse Richa, que governou o Paraná entre 2011 e 2018, ao Estadão.
O tucano, que voltou à presidência estadual do PSDB no Paraná neste ano, disse que não considerou concorrer novamente ao governo do Estado por ter avaliado que uma disputa majoritária teria “muita maldade”. “Sair para deputado federal era o mais apropriado no momento. Mano-a-mano vem muita maldade. Eu até encaro, não tenho receio, mas não queria submeter a minha família a isso relembrando o sofrimento”, disse.
A estratégia, para o cientista político Bruno Bolognesi, foi inteligente diante da dificuldade que seria disputar para governador ou senador. Ele explicou que Richa foi bem avaliado como prefeito de Curitiba, de 2005 a 2010, e nos dois mandatos de governador e que, mesmo com as prisões e processos, na corrida para a Câmara o tucano precisa convencer parcela menor da sociedade. “Vai precisar de 150 mil a 200 mil votos, e a expectativa é de ser o mais votado”, disse.
A primeira prisão de Richa ocorreu na manhã de 11 de setembro de 2018, quando o ex-governador era o favorito em pesquisas na eleição ao Senado. No dia, ele foi preso pela Operação Rádio Patrulha, do Ministério Público do Paraná (MP-PR), que investigou suspeitas de corrupção em um programa de recuperação de estradas rurais. No mesmo dia, ele também foi alvo da 53.ª fase da Operação Lava Jato, então força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF). Com a detenção, ele abandonou a candidatura.
“Nunca na minha vida passou pela cabeça que seria preso”, recordou-se Richa. “(Na terça, dia 11 de setembro de 2018) tive a porta da casa esmurrada 6 horas da manhã.”
Em janeiro de 2019, Richa voltou para a prisão na deflagração da 55.ª fase da Lava Jato, na Operação Integração, que apurou indícios de corrupção em contratos das concessionárias de pedágio.
Ele ainda foi preso mais uma vez em março daquele ano por causa da Operação Quadro Negro, do MP-PR, que investigava desvios de dinheiro público na construção e reformas de escolas estaduais. As três prisões somaram 30 dias na cadeia.
Na esfera criminal, Richa se tornou réu em oito ações penais, por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, de quatro investigações: as operações Piloto e Integração (1 e 2), do Ministério Público Federal (MPF), oriundas da Lava Jato, e as operações Rádio Patrulha e Quadro Negro, do MP-PR.
A Justiça Eleitoral arquivou os processos da Integração e da Rádio Patrulha, que foram julgadas como suspeita de caixa dois em campanha. Ainda tramita na Justiça Eleitoral um processo da Operação Piloto, que investiga suspeitas de corrupção no contrato de duplicação da PR-323, no qual Richa é réu por fraude a licitação, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Por fim, quatro ações da Quadro Negro passaram pela Justiça Eleitoral e retornaram para a Justiça comum, mas estão paradas por força de liminares do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Quiseram carimbar corrupção na minha testa. Não cola. Governo corrupto não deixa o Estado como eu deixei, um canteiro do obras. Costumo exibir o extrato da conta do governo que deixei com R$ 6,7 bilhões”, disse Richa.
Segundo o professor da PUC-PR Flávio Pansieri, especialista em direito público e constitucional, a inelegibilidade ocorre quando há condenação, ao menos, em segundo grau. “No caso do ex-governador, não existem, desses quatro anos de denúncias, quaisquer condenações nem em primeiro grau”, explicou.
O MP-PR e o MPF não comentaram as críticas de Richa.
Amigo do ex-governador, o deputado estadual Luiz Claudio Romanelli (PSD), continua com Richa. “Tenho uma verdadeira admiração por ele, fez uma ótima gestão à frente do Estado. Sempre foi muito correto. Eu o conheço desde muito jovem, fui até ao casamento dele no início dos anos 1980″, contou.
Para o deputado, que foi líder do governo Richa na Assembleia Legislativa e secretário do Trabalho, as investigações contra o tucano foram “uma grande injustiça” e “fruto de armação política”, a exemplo “de outras que ficaram comprovadas na Lava Jato, no sentido de destruir reputações”.
“Eu fui, ao lado de tantos outros, incentivador do retorno do Beto para a política disputando a eleição para a Câmara dos Deputados nesse primeiro momento”, disse o deputado.