Lira avisa Bolsonaro que Nordeste é Lula

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Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados

Principal responsável pela articulação que garantiu a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) das Bondades, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acredita que o avanço do projeto não representa um passaporte para que o presidente Jair Bolsonaro derrote o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Nordeste, região em que uma fatia considerável do eleitorado será contemplada com benefícios destravados a partir da aprovação do texto.

Para o chefe da casa legislativa, o voto do eleitor do Sudeste deve ser decisivo para o resultado da corrida presidencial.

O diagnóstico foi repassado a interlocutores após a aprovação da PEC que dribla a legislação e permite ao governo conceder uma série de benefícios sociais às vésperas da disputa pelo comando do Palácio do Planalto.

Membros da oposição avaliam que a articulação política encabeçada por Lira para garantir a aprovação da PEC tem por objetivo beneficiar Bolsonaro nas urnas. A leitura é que, com novos benefícios, o presidente pode encurtar a distância que Lula vem sustentando nas pesquisas de intenção de voto.

Em conversas reservadas, Lira admitiu a aliados que o texto pode ajudar Bolsonaro a melhorar seu desempenho no Nordeste, mas vê poucas chances de o atual mandatário conseguir superar o petista na região.

Segundo apurou o Valor, o presidente da Câmara avalia que Lula ainda detém apoio de cerca de dois terços dos beneficiários do Auxílio Brasil que vivem no Nordeste. Bolsonaro, por sua vez, já abocanharia uma parcela maior do eleitorado em relação a eleições anteriores, como aconteceu em 2018.

Para ele, a corrida nacional será resolvida no Sudeste, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Pesquisas mostram Bolsonaro e Lula praticamente empatados nos dois primeiros e o petista vencendo em Minas Gerais.

A aliados, Lira rebateu as acusações feita por parlamentares da oposição de que tenha mudado as regras durante o jogo. Ele defendeu que as decisões tomadas foram feitas com o regimento debaixo do braço.

Após problemas técnicos no sistema de votação – por rompimento na fibra ótica – que impediram que parlamentares participassem da apreciação da PEC remotamente na terça-feira, o deputado do PP publicou ontem dois atos para permitir que parlamentares pudessem registrar presença mesmo sem estar nas dependências do Congresso. A manobra foi criticada pelos deputados da oposição.

Em caráter reservado, Lira disse a interlocutores que a oposição estaria “com medo por R$ 200 a mais no Auxílio Brasil” e que os parlamentares da oposição transformaram a apreciação da PEC em “uma briga eleitoral”.

A Câmara também deve avaliar até o fim do ano uma ideia, levada a Lira pelo grupo empresarial que comprou a refinaria de Mataripe, na Bahia, de mudar a tributação da venda de combustíveis da Petrobras para refinarias dentro do Brasil. Segundo as informações repassadas a Lira, que relatou o assunto a interlocutores, a estatal cobra da fábrica brasileira o mesmo valor do petróleo cru que vende para a China refinar, embutindo dentro os custos de frete e seguros necessários para levar o produto até o outro lado do globo. Haveria também uma questão tributária, sobre a revenda para distribuidoras, que afastaria investidores e que ele pretende tratar na volta do recesso parlamentar.

Valor Econômico