PSDB de SP pode se aliar a Bolsonaro

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Foto: Reprodução TV Globo

Foi com a votação no Estado de São Paulo (8.626.583) que, em 2018, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu anular a diferença (8.093.891) que os quatro Estados mais petistas (Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco) deram em favor de Fernando Haddad.

É este histórico que move setores das campanhas do presidente Jair Bolsonaro e do governador paulista Rodrigo Garcia (PSDB) a buscar aproximação. O tema foi tratado numa conversa entre o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlos Pignatari (PSDB), e o próprio presidente em 9 de julho, feriado da revolução constitucionalista que trouxe Bolsonaro à capital paulista.

A conversa, inicialmente prevista para acontecer em Campos do Jordão, não resultou em acordo e é cercada de controvérsias. Confirmada por uma fonte tucana e outra bolsonarista, é categoricamente negada tanto por Pignatari (“Nunca encontrei o presidente pessoalmente”) quanto pelas campanhas do presidente e do governador, que, por meio de sua assessoria, informou não ter controle sobre a agenda do presidente da Assembleia nem de quaisquer dos seus 93 deputados.

Naquele feriado de 9 de julho, o presidente chegou a discursar na “Marcha para Jesus” sem citar Tarcísio Freitas (Republicanos), seu candidato. A omissão teria sido motivada não apenas pela relutância do ex-ministro em citar Bolsonaro como pela necessidade de deixar uma porta aberta para futuro acordo.

O xadrez paulista ainda se complica pela posição do PSD. Freitas tem o apoio, em São Paulo, do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que é um adversário local de Garcia.

Nas conversas entre PSDB e Bolsonaro há reticências de parte a parte. O presidente desconfia da proximidade entre o governador e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. E, apesar de saber o quanto a votação em São Paulo pode ser decisiva para a existência de um segundo turno, ainda hesita em avançar na aproximação. Suas desconfianças são alimentadas pelo Republicanos, partido ao qual está filiado o ex-ministro Tarcísio de Freitas.

Do lado de Garcia também sobram argumentos contrários à essa aproximação. Os tucanos reconhecem que uma eleição nacional liquidada no primeiro turno em favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liberaria o ex-presidente para mergulhar na campanha paulista em favor de Haddad.

O exemplo do ex-governador Márcio França (PSB) em 2018 é trazido à mesa para dissuadir qualquer acordo nesse sentido. Com a desincompatibilização de Alckmin para disputar a Presidência, foi França quem assumiu o governo e enfrentou João Doria (PSDB). Sua passagem para o segundo turno é, em grande parte, atribuída à neutralidade com a qual se conduziu na campanha.

Foi Doria, no entanto, que ganhou aquela eleição com o Bolsodoria, como ficou conhecida a dobradinha entre João Doria e Bolsonaro em 2018. Desta vez, diz um tucano, a dobradinha não seria facilmente reproduzida dada a rejeição de Bolsonaro no Estado.

Rodrigo Garcia foi alertado ainda que uma aliança com um candidato à Presidência que prega, abertamente, um golpe contra as instituições da República traria prejuízos ao seu futuro político.

No PT, alimenta-se a expectativa de que um acordo, ainda que informal, do gênero, afastaria o PSDB de Garcia, um neo-tucano egresso do DEM, hoje União Brasil. Em 2020 o PT fez apenas quatro prefeituras no Estado e precisa se aproximar do centro para vencer.

Para vencer as resistências mais conservadoras do eleitorado paulista, que, pela primeira vez, desde 2002, mantém dois petistas (Lula e Haddad) à frente nas pesquisas para os governos federal e estadual, o PT busca um vice próximo do PSDB.

Um acordo do gênero contribuiria para azedar, de vez, a relação de Garcia com o PSDB. Subsiste, no partido, quem atribua a Garcia o desfecho que levou Geraldo Alckmin a deixar a legenda. Hoje candidato a vice de Lula, Alckmin foi preterido por Doria no apoio a Garcia para a disputa estadual.

Em entrevista ao “Roda Viva”, Haddad disse preferir enfrentar Garcia, que chamou de a “direita democrática”, no 2º turno. No PT, porém, a percepção é que o centro do qual Haddad depende seria mais facilmente atraído se a disputa se der contra Tarcísio Freitas.

Valor Econômico