Redes sociais de assassino implicam Bolsonaro

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

As redes sociais do agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho, que matou o guarda municipal e tesoureiro petista Marcelo Arruda, neste sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR), são uma grande caixa de eco dos discursos e declarações de Jair Bolsonaro. O crime ocorreu após Guaranho invadir a festa de Arruda, que tinha as cores do PT e imagens de Lula, e discutir com o anfitrião por política.

Por mais que o presidente da República tenha tentado se desvencilhar do episódio, tuitando, neste domingo, que “dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores”, foi ele quem espalhou a seus seguidores que o Brasil precisar passar por uma “limpeza” de petistas.

E, ao que tudo indica, Guaranho absorveu bem essa intolerância. Um exemplo é a ideia de “limpar” o Brasil do PT. O agente postou o seguinte em outubro de 2018 em sua conta no Facebook:

“Vamos todos juntos nessa luta para limpar o Brasil do PT, limpar o país desses corruptos que só buscam perpetuação no poder as custas do bem da maioria. O Brasil é lindo é rico e não pode ser essa chacota que se tornou em saúde, educação, segurança etc. Viva o Brasil!”

Isso é semelhante aos discursos de Bolsonaro na época. Como, por exemplo, em um ato eleitoral em São Paulo, do qual ele participou via teleconferência:

“A faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser que ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão pra cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria.” E também disse: “Será uma limpeza nunca vista na história do Brasil”.

Outro ponto em que há influência é o ataque ao sistema eletrônico de votação. Desde a eleição de 2018, Jair Bolsonaro fala de fraude eleitoral, Guaranho também.

No dia 16 de setembro de 2018, o então candidato atacou as urnas eletrônicas, afirmando que “a grande preocupação não é perder no voto, é perder na fraude. Então, essa possibilidade de fraude no segundo turno, talvez até no primeiro, é concreta”.

Em outubro daquele ano, Guaranho publicou no Facebook: “Depois da fraude, claro que ia ter segundo turno. Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Fraude! Não terá fraude no 2”. E também: “Estão tentando de todas as formas fraudar o Bolsonaro. Não vamos permitir! 16:30 estarei indo fotografar os boletins de urna”.

Não houve fraude, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, mas os seguidores do presidente não acreditam nisso por conta das acusações de Bolsonaro.

O compartilhamento de postagens de Guaranho em seu Twitter sobre fraudes nas urnas eletrônicas se tornou mais frequente nos últimos dois anos quando o presidente intensificou os ataques ao TSE. Pelas publicações, constata-se que ele é um entusiasta do voto impresso.

São apenas dois exemplos. Analisando suas contas nessas duas redes sociais é possível constatar a autoridade do presidente sobre o agente penitenciário federal em uma série de temas.

Ele atacava com frequência jornalistas, como Miriam Leitão e Ricardo Noblat; artistas críticos ao presidente, como Luísa Sonsa e Zélia Duncan; ex-aliados, como o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e o ex-juiz Sergio Moro; e ministros do STF e TSE, especialmente Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

O padrão é o mesmo do presidente. Até o Papa Francisco se tornou alvo, e mais de uma vez.

Também defendeu uma ruptura através das Forças Armadas, foi misógino com mulheres na política e fez troça com o suicídio de um adolescente que sofria bullying dizendo que era apenas “seleção natural”.

Bolsonaro pediu, neste domingo (10), que “as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 horas por dia”. Está irritado por ser apontado or muitos como responsável pela violência cometida por seus seguidores.

Ele não manda ninguém cometer esse tipo de crime. Contudo, a sobreposição de seus discursos ao longo do tempo, fomentando ódio contra políticos, magistrados, jornalistas, entre outros, distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna a agressão “necessária” para tirar o país do caos e extirpar o “mal”, alimentando a violência.

Por conta disso, o presidente vi ser cobrado para que se manifeste de forma mais incisiva, indo além de dizer que “dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores”.

O que significa, por exemplo, evitar o complemento que ele fez: “A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos”. Pois isso, nada mais é, do que reforçar os discursos que fomentam o ódio contra seus críticos e adversários.

Uol