300 empresas do agronegócio defendem democracia
Foto: Wenderson Araujo/Trilux
Sem democracia não há desenvolvimento e sustentabilidade. Sem sustentabilidade não há futuro possível”. Assim termina o manifesto da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento que reúne 300 empresas do agronegócio, indústria e varejo, entidades e organizações ambientalistas, em defesa da democracia e do sistema eleitoral do Brasil lançado ontem.. Também estão representados o setor financeiro e representantes da sociedade civil e da academia.
Estão na Coalizão associações como Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Abiec (das indústrias exportadoras de carnes) e Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), empresas como a JBS, Marfrig, Amaggi, Suzano e Vale, o Itaú Unibanco, Santander e Bradesco, escritórios de advocacia e organizações socioambientais.
O posicionamento da Coalizão segue o movimento iniciado no fim de julho com a carta em defesa da democracia e do sistema eleitoral brasileiro e que será lançada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo no dia 11. Entidades como a Fiesp e a Febraban endossaram o manifesto ou lançaram seu próprio texto. A iniciativa na Faculdade de Direito já contava com 721 mil adesões, registradas no site dos organizadores do manifesto até as 20 horas de ontem. O presidente Jair Bolsonaro tem criticado sistematicamente os signatários dos manifestos pela democracia
A Coalizão costuma se colocar “em prol de uma agenda que alavanque o desenvolvimento sustentável, a economia de baixo carbono, o combate ao desmatamento e às mudanças climáticas, entre tantos assuntos de uma pauta cada vez mais ampla e transversal”, diz o texto de cinco parágrafos.
“Desta vez, no entanto, nosso movimento vem a público em apoio a uma bandeira sem a qual nenhuma das demais é possível: a defesa da democracia”, diz o texto.
“Nos últimos 37 anos, o Brasil dedicou-se a edificar um regime cidadão, de instituições sólidas e calcado no respeito à lei e no equilíbrio de direitos e deveres. Em seu alicerce estão eleições limpas, onde se manifesta a vontade popular. É sobre elas que se pavimenta o caminho para um país melhor, mais maduro, melhor conceituado na comunidade internacional, mais apto a liderar o debate e a implementação de agendas urgentes e que provocam mobilização crescente no mundo inteiro, como a da sustentabilidade e das mudanças climáticas”, diz a carta.
“O futuro que queremos depende do diálogo entre divergentes e do respeito ao resultado das eleições. Este deve ser um ponto pacífico entre todos os atores que se dispõem a representar a sociedade brasileira à frente de um Estado democrático de Direito”, segue o texto.
O manifesto lembra que a Coalizão Brasil divulgou recentemente propostas para os candidatos e que giram em torno a três eixos: o combate ao desmatamento e à perda de recursos naturais, a produção de alimentos e o combate à fome e a geração de emprego e renda.
“Ressaltamos que o processo eleitoral é inquestionável e imprescindível para toda e qualquer discussão que vise a prosperidade do país”, diz o manifesto.
Na interpretação de Roberto Waack, membro fundador da Coalizão e do conselho executivo, a manifestação tem duas mensagens. “A primeira delas é que, além das ongs, a Coalizão concentra uma parte relevante do agronegócio brasileiro. Isso tem um simbolismo importante”, diz ele.
“A segunda mensagem é a principal – que é a relação do uso do solo e da questão climática com a democracia”, diz Waack, que é membro do Conselho da Marfrig.
“Não se trata de um posicionamento partidário ou relacionado à polarização existente, mas de uma manifestação de alerta de como o tema da mudança do clima está relacionado à democracia”.
“Este ponto tangencia os direitos civis, o direito dos povos originais e o reconhecimento de seu papel na conservação nas florestas, do cumprimento de leis voltadas ao uso da terra, como o Código Florestal, que foi amplamente discutido no Parlamento e que foi fruto de um processo democrático robusto com debates durante muitos anos”, cita Waack.
O documento será enviado ao Supremo Tribunal Federal e a alguns ministérios, para membros do Congresso e embaixadas, bancos e instituições de desenvolvimento.