Bolsonaristas se desesperam com ataque a jornalista
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Num debate em que as mulheres tiveram protagonismo, aliados de Jair Bolsonaro (PL) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os dois principais candidatos ao Palácio do Planalto, avaliaram como positivo o desempenho deles, mas admitem que houve escorregões. Para petistas, Lula poderia ter sido mais combativo e confrontar o atual presidente ao ser questionado sobre corrupção. Entre bolsonaristas, a avaliação é que embora tenha ido bem no embate direto com o petista, ele foi mal ao atacar mulheres durante o programa.
Bolsonaro chegou ao debate com três missões: relembrar casos de corrupção das gestões petistas, reforçar que o PT inicialmente votou contra a criação do Auxílio Brasil — ao se opor à PEC dos Precatórios, e repetir a todo o momento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mente, acusando o petista de uma conduta que geralmente é atribuída a ele por disseminar fake news.
A orientação foi repassada por auxiliares insistemente nos últimos dias e a avaliação após o programa foi que Bolsonaro conseguiu atingir o objetivo. Na visão do grupo, o presidente só “perdeu a linha” — nas palavras de um deles — quando atacou a jornalista Vera Magalhães.
A colunista do GLOBO fez uma pergunta sobre o quanto a desinformação propagada pelo atual presidente na pandemia contribuiu para o baixo índice de vacinação no país. Em resposta, Bolsonaro a atacou.
— Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim, tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro.
Minutos depois, a defesa da jornalista feita pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil), em que atribui a fala de Bolsonaro a machismo, também foi avaliado pela campanha bolsonarista muito ruim para o atual titular do Palácio do Planalto.
— Quando vejo o que aconteceu agora com a jornalista Vera, fico extremamente chateada. Quando homens são “tchutchucas” com outros homens, mas vêm pra cima da gente sendo tigrão, fico extremamente incomodada. Lá no meu estado tem mulher que vira onça e eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento — disse Soraya.
Mesmo assim, após as entrevistas no Jornal Nacional, quando Bolsonaro teve um desempenho considerado aquém do seu principal adversário, o debate foi considerado essencial para ele reequilibrar o jogo.
— Quando é o próximo debate? — questionou o coordenador de comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, sugerindo que o presidente poderá participar de outros.
Sobre o desempenho de Lula, Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara dos Deputados, disse que é difícil debater com “quem só mente”, mas que o ex-presidente conseguiu manter uma postura “serena”.
— Muito difícil debater com quem só mente! Bolsonaro não pode usar debate para produzir fake news! — disse ao GLOBO. Segundo ele, apesar das mentiras, o petista elogiou o fato de ele não ter caído em provocações: — Postura de quem vai unificar, conciliar e unir o Brasil para melhorar a vida do nosso povo.
Parlamentares de oposição também avaliaram que Lula poderia ter citado suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro quando o petista foi questionado sobre o tema. “(Lula) poderia ter falado das rachadinhas, os sigilos, orçamento secreto”, disse a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Petistas comemoraram especialmente o momento em que Lula falou sobre a melhoria de qualidade de vida nos governos do PT. Soraya Thronicke, candidata do União Brasil, o questionou, dizendo que os avanços propagandeados por apoiadores de Lula não ocorreram.
“Para candidata que disse que as mudanças que os governos do PT produziram só existe na propaganda eleitoral, Lula responde à altura: ‘seu motorista viu, sua empregada viu, seu jardineiro viu'”, registrou a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) no Twitter.
Apoiadores compartilharam o trecho em que Lula diz, ainda, que “a sua empregada doméstica viu este país melhorar, viu que ela podia almoçar e jantar todo dia, viu que o filho dela poderia entrar na universidade”.
Para a campanha de Simone Tebet (MDB), a senadora foi a “craque do jogo” do debate, termo usado pelo aliado Baleia Rossi, presidente da sigla. Ele esteve no grupo levada pela emedebista à sede da emissora, em São Paulo.
Dentre os aliados da emedebista, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, foi um dos que mais se empolgou com o seu desempenho — se disse “em êxtase”. Ele escreveu que Lula e Bolsonaro ficaram “atordoados” com a “ofensiva de Simone” e que ela conseguiu “virar votos” a seu favor.
Na campanha de Ciro Gomes (PDT), a avaliação de Carlos Lupi, presidente do partido, foi que se saiu “melhor do que esperavam”.
— Tranquilo, objetivo e o único que apresentou propostas para cada setor. Feliz com o resultado. Bolsonaro investe na direita sectária e o Lula, no que já fez. Penso que as próximas pesquisas vão começar a mostrar a virada do Ciro — afirmou ao GLOBO.