Bolsonaro se agarra ao antipetismo no debate todo

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Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

Cercado por uma retórica de mudança, Jair Bolsonaro (PL) direcionou o debate na TV para o terreno do antipetismo. Para amortecer críticas a seu governo, o presidente tentou reivindicar o monopólio do campo conservador e fragilizar seu principal adversário.

A dinâmica de qualquer eleição dá aos desafiantes um incentivo para lançar disparos contra os governantes. Não será diferente agora, quando até os candidatos nanicos usam os altos índices de rejeição a Bolsonaro como plataformas para ampliar sua exposição.

Foi isso que levou a uma sucessão de críticas ao atual governo e abriu caminho, por exemplo, para que a senadora Simone Tebet (MDB) dissesse, logo no início do programa, que era preciso “trocar o presidente da República”.

O volume de declarações nesse sentido construiu um cenário que dificulta esforços de Bolsonaro para melhorar a avaliação do governo, criar uma sensação de bem-estar e convencer os eleitores de que ele merece mais um mandato.

O presidente fez as defesas de praxe, mas só conseguiu partir para o contra-ataque graças a sua principal arma política: a aposta no antipetismo. Ele sabe que não precisa brigar com nenhum outro candidato caso consiga ampliar os índices de rejeição a Lula (PT).

Bolsonaro teve algum sucesso nessa tarefa, em especial ao insistir na tentativa de colar no PT e no ex-presidente a imagem das suspeitas de corrupção em governos passados.

Lula preferiu tocar a bola de lado –perdendo, inclusive, a oportunidade de enfatizar suspeitas sobre o atual governo, como aquelas ligadas ao orçamento secreto.

A resposta do petista mostrou um esforço para deixar o assunto em segundo plano, o que não foi suficiente para que o petista sentisse algum prejuízo.

Por outro lado, Bolsonaro não ergueu defesas muito eficazes no debate sobre a economia. O presidente levou o Auxílio Brasil ao debate como um amortecedor para os ataques dos rivais e buscou fragilizar a marca social comumente atribuída ao PT.

Além de repetir a promessa de manutenção do valor de R$ 600 do benefício, Bolsonaro tentou vincular os petistas a um cálculo puramente político nessa área –ainda que ele próprio só tenha articulado o aumento do Auxílio Brasil a poucos meses da eleição.

Bolsonaro precisou voltar ao terreno da corrupção e fustigar o rival, dizendo que basta não desviar dinheiro público para pagar benefícios sociais, em mais um movimento para aumentar a rejeição a Lula.

Os dois líderes nas pesquisas buscaram formular mensagens direcionadas a um público fiel, sem tanta chance de expandir consideravelmente sua adesão no eleitorado.

Lula só engatou o discurso com foco no eleitorado de baixa renda e na classe média na reta final. Já Bolsonaro repetiu bordões conservadores, inclusive quando se viu acuado em discussões sobre direitos das mulheres: tentou se vender às eleitoras como um defensor da família e um opositor ferrenho da legalização das drogas.

Folha