Bolsonaro tenta criar uma “guerra santa”

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Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

Nos últimos dias, na reunião da coordenação de campanha do PT, o ex-presidente Lula quis ouvir a opinião de aliados sobre como deveria se aproximar do eleitorado evangélico. Recebeu várias sugestões, entre elas as de que deveria articular agendas com pastores e fazer discursos direcionados ao segmento.

Após a rodada de ideias, o petista preferiu dizer que seguia com a opinião de que o melhor a ser feito é ignorar a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de transformar a eleição em uma “guerra santa” e que quer tratar de economia nos debates. Surpreendeu, portanto, o que foram as 48 horas iniciais da primeira semana da campanha presidencial do ex-presidente.

Na terça-feira, Lula chamou Bolsonaro de “fariseu”, possuído pelo demônio” e afirmou que ele tenta manipular os evangélicos. Ontem, ao voltar ao tema, disse que “não seria candidato de uma facção religiosa”. Os líderes evangélicos opositores aproveitaram as falas, e a internet em dois dias falou muito mais de igrejas do que do preço da comida, por exemplo.

São muitas as brechas que a esquerda vem dando para que seus discursos sejam explorados por Silas Malafaia, Edir Macedo e outros. Na segunda-feira, em um ato com a presença de Lula, a professora da USP Ermínia Maricato saiu-se com a seguinte frase ao falar da ausência do Estado em áreas pobres das grandes metrópoles: “O que significa isso? Significa periferias violentas e dominadas pelo crime organizado. Dominadas pela milícia. Dominadas por igrejas que fazem parte de uma verdadeira máfia”.

No ano passado, o próprio Lula deu mais munição para quem quer criar a narrativa de um PT que tem preconceito com evangélicos. “O papel das igrejas é orientar as pessoas, não é vender grão de feijão ou fazer culto cheio de gente sem máscara”, disse o ex-presidente, ironizando lideranças que promovem vendas em seus cultos com a promessa de que terão impacto no futuro da pessoa e atacando pastores que foram contra o isolamento social ao longo da pandemia da covid-19.

Na semana passada, em entrevista à plataforma Pulso do GLOBO sobre a diferença crescente nas pesquisas de Bolsonaro e Lula entre os evangélicos, o pastor Marcelo Schallenberger, da Assembleia de Deus, que em tese fora escalado para fazer a interlocução do PT com os evangélicos, demonstrou a sua frustração: “O Lula não acena da forma como deveria. Ele acha que esse público virá naturalmente, mas falta um aceno. Abrir espaço na agenda, marcar encontro com líderes ou uma live que seja. Já passou da hora”.

O Globo