Bolsonaro usa arsenal de mentiras no JN
Foto: Reprodução/TV Globo
O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) foi entrevistado no Jornal Nacional, na TV Globo, nesta segunda-feira (22). No programa, Bolsonaro voltou a defender a atuação do governo federal na pandemia e citou dados sobre o desempenho da sua gestão na economia.
A Lupa checou algumas das frases ditas pelo presidente na entrevista. A assessoria de imprensa de Bolsonaro foi procurada, e esta checagem será atualizada se houver respostas. Veja, a seguir, o resultado:
Você não está falando a verdade quando fala em xingar ministros [do STF]. (…) É fake news da sua parte. Jair Bolsonaro
presidente e candidato à reeleição, em entrevista ao Jornal Nacional de 22 de agosto de 2022
O presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) publicamente mais de uma vez. Embora o chefe do Executivo tenha dito durante a entrevista ao Jornal Nacional que xingou apenas um ministro, referindo-se a Alexandre de Moraes, Bolsonaro também já atacou o ministro Luís Roberto Barroso.
No ato em celebração ao 7 de setembro de 2021, na avenida Paulista, o presidente chamou Moraes de “canalha” para apoiadores. No discurso, Bolsonaro disse que o ministro “se enquadrava” ou deveria “pedir para sair”. Em julho de 2021, o presidente já havia xingado o ministro de “otário”.
Moraes não foi o único ministro do STF que sofreu ataques de Bolsonaro. Em agosto de 2021, Barroso foi chamado de “filho da puta” pelo presidente. Em julho do mesmo ano, Bolsonaro já havia chamado Barroso de “imbecil” e “idiota” ao defender o voto impresso.
[Em] 2018 houve uma denúncia de fraude, e a senhora Rosa Weber determinou que fosse aberto inquérito pela Polícia Federal para apurar fraude. Jair Bolsonaro (PL) presidente e candidato à reeleição, em entrevista ao Jornal Nacional de 22 de agosto de 2022
É falso que a ministra Rosa Weber tenha determinado abertura de inquérito para apurar possibilidade de fraude nas eleições de 2018. De fato, uma acusação foi protocolada pelo advogado Ricardo Freire Vasconcellos (requerimento 2018.00.000013829-4) no Tribunal Superior Eleitoral alegando “fraude matemática” nas urnas. No entanto, o requerimento foi analisado pela Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE e arquivado por falta de provas, sem abertura de inquérito.
Outro caso, sem relação com fraudes nas urnas, foi alvo de investigação da Polícia Federal em 2018. Trata-se de um ataque hacker contra o sistema eletrônico do TSE. O inquérito foi aberto a pedido do secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Dutra Janino (página 102 do documento), em novembro de 2018. A determinação não veio de Weber, que apenas designou uma equipe para constituir uma Comissão de Sindicância a apurar a denúncia (página 118 do inquérito).
A primeira vacina do mundo [contra Covid-19] foi dada em dezembro de 2020. Em janeiro, nós já estávamos vacinando no Brasil. Jair Bolsonaro (PL) presidente e candidato à reeleição, em entrevista ao Jornal Nacional de 22 de agosto de 2022
A vacinação contra a Covid-19 no Brasil começou em 17 de janeiro de 2021 — 41 dias depois de a primeira pessoa do mundo, exceto voluntários em testes, ter recebido o imunizante no Reino Unido, em 8 de dezembro de 2020. Antes do Brasil, no entanto, pelo menos 47 países já haviam iniciado a imunização contra a doença.
Vale pontuar que a primeira vacina contra o SARS-CoV-2 no país foi a CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Essa fórmula foi criticada por Jair Bolsonaro em pelo menos 10 ocasiões antes de ela começar a ser aplicada na população brasileira.
Em 21 de outubro de 2020, por exemplo, o presidente afirmou que o governo federal não compraria as doses da CoronaVac e que o povo brasileiro não seria “cobaia de ninguém”. Ele também chamou a CoronaVac de “vacina chinesa de João Doria”.
Além disso, a campanha de vacinação no Brasil começou em ritmo lento. Até 18 de abril de 2021, apenas 4,5% da população já tinha recebido a segunda dose das vacinas até então disponíveis. Em maio daquele ano, o ritmo de aplicação caiu ainda mais.
Em julho de 2021, seis meses após o início da campanha, apenas 13% da população brasileira tinha vacinação completa contra a doença —naquela altura, 525 mil pessoas tinham perdido a vida em decorrência do novo coronavírus.
O que eu falei é que, quando foi decidido o que era essencial, o trabalho essencial, eu falei: deve ser todo aquele necessário para um homem e uma mulher levar o pão pra dentro de casa. A própria OMS concordou comigo nessa questão. Jair Bolsonaro (PL) presidente e candidato à reeleição, em entrevista ao Jornal Nacional de 22 de agosto de 2022
Desde 2020, Bolsonaro distorce uma declaração do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante uma entrevista coletiva de 30 de março daquele ano. Na ocasião, o diretor ponderou que, em alguns países, as pessoas mais pobres têm que trabalhar “todo santo dia para conseguir o seu pão”. No entanto, não defendeu que todos os trabalhos fossem considerados essenciais naquele momento.
Adhanom afirmou apenas que essas pessoas deveriam ser “levadas em conta” na hora de os países decidirem sobre políticas públicas para mitigar os impactos da Covid-19, sem especificar, exatamente, como.
Nós pretendemos diminuir impostos de 4 mil produtos em 35% de IPI. (…) É que a proposta parou no Supremo Tribunal Federal. Jair Bolsonaro (PL) presidente e candidato à reeleição, em entrevista ao Jornal Nacional de 22 de agosto de 2022
Em 29 de julho, o presidente Jair Bolsonaro editou um decreto (Nº 11.158/2022) para ampliar o corte nas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 25%, já anunciado em fevereiro deste ano, para 35%.
A medida, no entanto, foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em 8 de agosto. O magistrado determinou que a redução não valesse para itens que também são produzidos pelas indústrias da ZFM (Zona Franca de Manaus).
O ministro argumentou que o decreto poderia impactar na competitividade e no modelo de desenvolvimento regional mantido pela Constituição Federal, “que assegura o tratamento diferenciado da região como compensação pelos maiores custos decorrentes dos desafios enfrentados pela indústria local”. A Zona Franca de Manaus tem, por lei, isenção do IPI sobre produtos produzidos na região como forma de estimular a economia regional.
Em maio deste ano, Moraes já havia suspendido os efeitos de outros decretos presidenciais que reduziram as alíquotas de IPI sem medidas compensatórias para os produtos do polo amazonense. Apesar das decisões do ministro, o governo federal planeja a edição de um novo decreto para reduzir o IPI.