Campanha de Lula usa gestos de mãos

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Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

A propaganda eleitoral dos candidatos à Presidência da República começou, ontem, em ritmo de críticas pouco contundentes e, para os novatos da disputa, em tom de apresentação. Enquanto Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfatizaram as qualidades e acertos dos seus governos, e Ciro Gomes (PDT) lastimou o pouco tempo que dispõe para apresentar as propostas que tem para o país, Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Ávila (Novo) buscaram dizer ao eleitor quem eles são — e passaram um pouco daquilo que pretendem realizar caso cheguem ao Palácio do Planalto.

Em comparação com aquilo que Bolsonaro apresentou no horário eleitoral, a propaganda de Lula foi mais agressiva e mandou algumas farpas no atual presidente. Além de destacar “o voto da esperança”, quando apareceu no vídeo o petista pediu aos telespectadores para que “nos ajude a reconstruir o Brasil”. Mais: convidou os telespectadores a conversarem sobre o futuro. “Como é que o país retrocedeu tanto?”, questionou.

Com 3m39, Lula reforçou a polarização ao iniciar o vídeo comparando sua presidência com a de Bolsonaro e recorreu ao apelo emocional para traçar a linha divisória. Ao fundo das imagens, a narração pergunta: “Que Brasil você quer? O do ódio? Ou o do amor?” — enquanto cada frase é anunciada, um gesto imitando uma arma e outro fazendo o L aparecem para representar cada um dos governantes.

A campanha de Lula, que usou o bordão “Já fizemos uma vez e vamos fazer melhor”, abriu espaço para o vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB). Ele salientou que mesmo que “não pense igual” ao presidenciável e ao PT, o que os une é “o desejo de melhorar o Brasil”.

Já o programa eleitoral de Bolsonaro trouxe imagens do presidente junto a apoiadores — em uma delas está visivelmente emocionado —, trechos do discurso de posse em janeiro de 2019 e em eventos, inclusive citando frases repetidas diversas vezes, como sobre a defesa pela “liberdade do povo”. O presidente destacou alguns feitos de sua gestão, como a distribuição de vacinas, a redução nos preços dos combustíveis e o apoio a estados e municípios para enfrentamento da pandemia da covid-19. Ele também citou o Auxílio Brasil de R$ 600 e afirmou que o valor atual do benefício será “mantido” — embora não tenha anunciado como fará isso, uma vez que não existe previsão de pagamento do benefício no orçamento de 2023.

Ao dar ênfase aos temas econômicos, a propaganda de Bolsonaro lembrou que existem, hoje, 98,3 milhões de brasileiros inseridos no mercado de trabalho. De acordo com a última pesquisa do Instituto de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), houve a criação de 2,5 milhões de vagas e queda no desemprego — de 11,1% em dezembro de 2021 para 9,3% em junho.

“Assumimos o Brasil, em janeiro de 2019, com sérios problemas éticos, morais e econômicos. Com o tempo, fomos arrumando o nosso país”, lembrou o presidente.

Um ponto em comum nas propagandas de Lula e Bolsonaro foi a menção a Deus. O petista abriu a apresentação na tevê agradecendo por estar concorrendo mais uma vez, enquanto o candidato à reeleição voltou a citar a passagem bíblica João 8:32, em aceno à sua base eleitoral evangélica. Trata-se de uma tentativa dos dois de cooptação do eleitorado neopentecostal, na qual o presidente tem ampla maioria.

A bandeira do Brasil também esteve presente nas identidades visuais das propagandas de Lula e de Bolsonaro. No caso da campanha do petista, o vermelho da bandeira do partido em momento algum aparece e dá vez a cenas de pessoas, de diversos perfis, vestidas com uma faixa presidencial em verde e amarelo. “Garanto a vocês: a vida do povo vai melhorar. Já fizemos uma vez e vamos fazer melhor!”, assegurou Lula.

Veterano de corridas presidenciais, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) abriu a participação lastimando que dispõe do menor tempo de tevê no horário eleitoral. Mas, para tentar contornar a limitação, divulgou um QR Code para que os eleitores possam acessar a plataforma Ciro TV — onde ele aprofunda o programa de governo e pretende interagir com o eleitorado.

Mesmo assim, teve tempo de fazer críticas tanto de uiz Inácio Lula da Silva quando de Jair Bolsonaro. Afirmou, dirigindo-se aos dois, que o Brasil é um dos países que menos cresce, pois há “coisas erradas por todo lado”. Em um supermercado, Ciro criticou os preços dos alimentos e afirmou que ir às compras é “levar susto atrás de susto com o preço das coisas.” A mulher do candidato, a produtora cultural Giselle Bezerra, tem uma participação na propaganda convocando o eleitor a buscar as propostas do pedetista em outras palataformas além da tevê.

No caso de Simone Tebet (MDB), ela preferiu se apresentar ao eleitorado contando parte da história de vida, enfatizando o papel que assumiu de liderança como mulher. O programa citou a atuação que teve como prefeita de Campo Grande e senadora, com destaque para a participação na CPI da Covid — que a catapultou para a corrida presidencial. Por conta exatamente de ter participado da comissão parlamentar de inquérito, fez a Bolsonaro uma crítica mais contundente de que a Lula.

“A postura do presidente chocou todo mundo. Onde já se viu negar vacina no momento em que o Brasil mais precisava, vacina que ia salvar vidas”, cobrou.

Simone também lamentou a polarização da corrida presidencial. “A política está sendo uma decepção para todo mundo. Enquanto eles brigam, eu vou trabalhar sério, assumindo compromissos, fazendo propostas para mudar de verdade a vida dos brasileiros”, propôs.

A também senadora Soraya Thronicke (União Brasil), cuja propaganda abriu o horário eleitoral, também preferiu começar a participação contando a trajetória de vida. E aproveitou o tempo para deixar claro que se em 2018 elegeu-se pelo Mato Grosso do Sul na febre do antipetismo e no rastro aberto por Bolsonaro, atualmente ocupa um campo político oposto ao do presidente. A propaganda da candidata enfatiza, ainda, a erradicação da fome e chama a atenção para a valorização do “suor do trabalho”.

Já Luiz Felipe D’Avila (Novo), com um tempo ínfimo para o programa eleitoral na tevê, tentou passar a mensagem de que é uma alternativa aos candidatos que disputasm o Palácio do Planalto.

Os programas estão divididos em dois horários — às 7h e ao meio-dia no rádio e às 13h e às 20h30 na tevê — e serão exibidos até 29 de setembro, quando se encerra a propaganda para o primeiro turno.

Correio Braziliense