Campanha no Twitter se restringe a “bolhas” dos candidatos

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Foto: Montagem de fotos/O Globo

Líderes nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) interagem em seus perfis nas redes sociais majoritariamente com contas que estão em suas bolhas de engajamento. É o que revela um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/ FGV) com base em publicações dos presidenciáveis no Twitter entre 27 de junho e 24 de julho.

Os números mostram que mais de 99% das interações (curtidas, retuítes e comentários) de ambos os candidatos na rede — conhecida pela capacidade de pautar debates públicos — ficam restritas a contas que já integram suas respectivas bases digitais. No caso de Ciro Gomes (PDT), nome da terceira via com melhor desempenho nas pesquisas, o índice é um pouco menor, mas ainda alto: 93,7% de suas interações ocorrem entre grupos que já integram sua rede de apoiadores.

Mapa de intrações dos candidatos — Foto: Infografia/O Globo

André Janones (Avante), que já admitiu a possibilidade de desistir da candidatura para apoiar Lula, tem o perfil que mais interage com grupos que apoiam outros candidatos: 62,5% das curtidas, retuítes e comentários partem de fora da sua bolha habitual. Já no caso da escolhida pelo MDB para a disputa presidencial, Simone Tebet, 12% das interações conseguem atingir grupos que não estão na sua órbita.

Diretor da DAPP/FGV, Marco Aurélio Ruediger vê, de um lado, isolamento de Bolsonaro pela escolha de agendas que só engajam sua base mais fiel, como os ataques às urnas eletrônicas e instituições e a defesa de mais armas em circulação, e, do outro, o desafio de Lula em se comunicar com eleitores mais ao centro:

— Bolsonaro ganha tração na base ao defender agendas como as das armas, mas amplia a resistência fora dela. Já Lula tem mais facilidade de furar a bolha, foi hábil em construir aliança com (Geraldo) Alckmin, a despeito de resistências, mas esse é um processo mais lento e que encontra ainda um centro muito resistente a ele, o que pode mudar ao longo da campanha.

Segundo os dados da pesquisa, as postagens do ex-presidente Lula são compartilhadas por 2% dos perfis ligados à terceira via, mesmo percentual da direita, enquanto Bolsonaro alcança pouco mais de 0,1% das interações com perfis do conjunto de esquerda e 0,1% com aqueles ligados à terceira via.

A postagem do petista, no período, com maior alcance “fora da bolha” falava sobre a criação do Portal da Transparência em seu governo e trazia críticas a sigilos de 100 anos impostos no governo Bolsonaro. Já a publicação do presidente que mais gerou interações de perfis de outros grupos celebrava a redução de impostos sobre os combustíveis.

O monitoramento da DAPP também indica no último mês o campo da esquerda ampliou sua participação no debate sobre os presidenciáveis no Twitter, embora o campo bolsonarista ainda predomine na plataforma. Com forte influência de artistas e impulsionada pela declaração de apoio da cantora Anitta a Lula, o grupo de apoio à candidatura do ex-presidente Lula representou 53,8% dos perfis que comentaram o assunto em julho, contra 46,5% no mês passado. Os perfis de apoio a Bolsonaro passaram de 41,4% para 33,9% do total, mas ainda geram mais engajamento e concentram mais da metade das interações na rede.

Os perfis de Bolsonaro seguem à frente dos demais presidenciáveis em todas as plataformas, com exceção do YouTube, rede em que Ciro Gomes alcança o maior número de visualizações, seguido por Lula. O atual presidente viu o petista crescer no TikTok em julho — Lula criou um perfil no último dia 6. Na rede marcada por vídeos curtos, o ex-presidente conseguiu ultrapassar as visualizações de Bolsonaro na semana entre 11 e 18 de julho. Seu vídeo com maior número de visualizações, no período, é o relato de uma moradora de Serra Talhada (PE) sobre o impacto de programas sociais do governo Lula. Já o de Bolsonaro mostra declarações contra Anitta e Lula. Nele, o presidente afirma que vai garantir a liberdade de expressão nas redes sociais aos jovens.

O Globo