Ciro imita Bolsonaro e mente no JN

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Foto: Reprodução

O candidato do PDT, Ciro Gomes, aproveitou bem os 40 minutos do Jornal Nacional, sendo propositivo, gentil e pedindo votos no final, com humildade. A grande questão com Ciro Gomes é o excesso. Ele promete mudar tudo ao mesmo tempo, como se os complexos problemas brasileiros fossem simples.

Vai assumir o controle sobre o território da Amazônia no primeiro dia, federalizar os grandes crimes para vencer as facções criminosas nas cidades, fazer uma reforma completa do modelo econômico, mudar integralmente o modelo político, fazer uma reforma tributária, ter R$ 290 bilhões para um programa social de renda mínima, realizar um plebiscito popular para referendar suas reformas. E tudo em quatro anos de governo, nos quais faria uma mudança de 30 anos. As promessas são sempre grandiosas, os números são confusos, e ele sempre diz que saberá como fazer.

Ciro demonstra confiança invejável em si, como sendo ele mesmo a garantia de todas as mudanças, mas pouco reconhece de reformas feitas por antecessores. Por duas vezes ele afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nada fez com o capital político do primeiro ano deixando escorrer o tempo. Não é verdade. Fernando Henrique aprovou nos primeiros meses de 1995 a reforma do capítulo da ordem econômica da Constituição, acabando com o monopólio da Telebrás, Petrobras, mudando o conceito de empresa nacional, o que abriu caminho para uma série de reformas.

Para o seu objetivo de se apresentar como uma alternativa a Lula e a Bolsonaro, ele foi bem na entrevista, mas não tem ido bem na campanha. Em dezembro de 2021, pelo Datafolha, Ciro estava com 7% das intenções de voto. Na pesquisa da semana passada estava com 7%. Houve momentos de 8%, mas não mais do que isso.

Nessa eleição das decisões antecipadas, nada pode ser pior do que ficar parado. Ciro tem pela frente apenas 40 dias para sair da situação em que está, por isso a entrevista ao Jornal Nacional e o começo do programa eleitoral são as últimas cartadas de um jogo já praticamente perdido. E como explicou ontem, criou seu próprio canal para ter mais interação com os eleitores.

Ciro se preparou para esta quarta campanha presidencial para ser o candidato que chegaria com uma proposta elaborada, alternativa, diferente dos dois candidatos favoritos. Algumas ideias que defende são muito ruins. Ele não foi perguntado ontem, mas a sua proposta para os combustíveis é a de usar as reservas cambiais para comprar ações da Petrobras e aumentar a participação do governo na estatal.

Fica difícil entender a justificativa para o Tesouro gastar dinheiro para comprar o que já tem. E para completar a má ideia, ele quer reduzir e controlar o preço dos combustíveis através de uma fórmula do custo local de produção mais um lucro arbitrado pelo governo. Certamente levaria aos mesmos prejuízos da Petrobras do governo Dilma.

Até agora, Ciro Gomes não conseguiu ainda passar uma ideia força. E ele poderia, porque fez uma boa gestão no Ceará, notadamente na educação.

Normalmente, o eleitor termina uma entrevista dele concluindo que ele é “preparado”, mas poucos conseguem explicar o que ele quis mesmo dizer com aquele turbilhão de ideias. Algumas das suas ideias parecem boas, mas são inexequíveis, outras parecem simples e são complexas.

O Globo