Ciro se recusa a encarar os fatos
Apesar de estar estacionado em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, pretende manter a estratégia de se colocar como alternativa à polarização política entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que lideram a disputa.
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (18) mostra que Ciro mantém 7% —distante do petista, com 47%, e do atual presidente, com 32%. Trata-se do mesmo percentual registrado pelo pedetista no levantamento divulgado no fim de maio.
Apesar de ele estar 25 pontos percentuais atrás do segundo colocado, a campanha do PDT diz ter expectativa de que a situação mude depois do início da propaganda eleitoral em rádio e TV, que será veiculada a partir da próxima sexta-feira (26). Por isso, afirma que não pretende mudar os rumos.
“As eleições ainda não começaram para a maioria da população”, diz Carlos Lupi, presidente da sigla.
Ciro, porém, levará desvantagem nos tempos da propaganda eleitoral. Lula deve ter 3 minutos e 39 segundos em cada bloco, contra 2 minutos e 38 segundos da coligação de Bolsonaro e apenas 52 segundos do candidato do PDT —inferior também aos tempos de Simone Tebet (MDB, com 2 minutos e 20 segundos) e Soraya Thronicke (União Brasil, com 2 minutos e 10 segundos).
Lupi reconhece a dificuldade de Ciro para furar a bolha da polarização em uma disputa presidencial que “parece ter apenas dois candidatos”, Lula e Bolsonaro, segundo ele. Juntos, os dois primeiros colocados concentram 79% das intenções de votos, segundo a pesquisa Datafolha.
Mesmo assim, a campanha de Ciro diz que ainda busca pelo “furo que irá estourar a barragem de votos” represados pelo ambiente político polarizado, imagem compartilhada por integrantes do partido com frequência. Ainda em relação à metáfora, os discursos do candidato têm sido modulados para tentar furar as bolhas de influência de Lula e Bolsonaro, principalmente, nas redes sociais.
Para abocanhar parte do eleitorado petista beneficiado por programas sociais, Ciro anunciou programa de renda mínima de R$ 1.000 por família abaixo da linha da pobreza. Nas redes sociais, o candidato ataca o auxílio emergencial de R$ 600 do governo Bolsonaro e promete que a ajuda mensal será perene e prevista pela Constituição Federal.
A aproximação dos mais pobres foi definida como prioridade pelo marqueteiro João Santana, que determinou que a primeira agenda de campanha fosse na periferia de São Paulo. Na terça-feira (16), Ciro chegou antes das 8h ao bairro de Guaianases, no extremo leste e um dos locais mais pobres da cidade.
Na agenda, entre pedidos de desculpas por interromper o trânsito no bairro, ele falou sobre seu programa de transferência de renda batizado de Eduardo Suplicy, um dos quadros mais tradicionais do PT em São Paulo, o que incomodou alas petistas. Ciro também anunciou projeto de financiar smartphones em 36 vezes e ampliação de redes wi-fi gratuitas na periferia.
Imagens do candidato em bairros pobres e respondendo a perguntas de moradores serão usadas nos programas políticos para a TV.
Ciro se mune da sua artilharia contra o PT até para atacar Bolsonaro e atribui a eleição do atual presidente ao mensalão, escândalo de corrupção que envolveu a cúpula do governo Lula.
Para se colocar como a principal opção de candidato contra a polarização política entre Lula e Bolsonaro, e também para criticar o modelo econômico vigente no país, Ciro cita o cientista Albert Einstein em todas as suas agendas para dizer que a definição de insanidade é repetir as mesmas coisas e esperar resultados diferentes.
“Essa frase é muito importante para falar sobre o atual momento do Brasil, em que uma bola de ferro nos prende a um passado que tem que ser banido”, disse durante sabatina na Associação Comercial de São Paulo na quinta-feira (18).
A pouca margem para mudanças significativas até o primeiro turno é corroborada pelo dado de que 75% dos entrevistados afirmaram já estarem totalmente decididos sobre o voto para presidente, segundo pesquisa Datafolha. Esse índice era de 71% no levantamento anterior, em julho.
Sem ter conseguido negociar coligações com outros partidos na chapa presidencial, o PDT terá pouco tempo de propaganda política.
Houve tentativas para fechar o apoio da União Brasil para obter mais tempo de TV e rádio, mas acabaram frustradas, mesmo após Ciro ter dado o posto de vice na chapa a Ana Paula Matos (PDT), vice-prefeita de Salvador e próxima de ACM Neto, candidato ao Governo da Bahia pela União Brasil.
A estratégia para driblar o pouco tempo de TV será criar programas para o YouTube. A plataforma tem sido trabalhada por Ciro desde o ano passado, quando João Santana assumiu a campanha e a definiu como principal aposta na comunicação digital.
Folha de SP