Em SP, direita quer eliminar câmeras corporais da PM

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Foto: Zanone Fraissat/Folhapress e Divulgação

Reduzir a violência, valorizar os policiais e integrar as forças de segurança pública são propostas de consenso nos planos dos candidatos a governador de São Paulo. Mas há divergências em pontos-chave, como a gestão do policiamento e o uso de câmeras nos uniformes policiais —apesar de pesquisa ter indicado que 91% da população apoia a medida.

Juntos, os nove candidatos que pontuaram na mais recente pesquisa Datafolha destinaram mais de 22 páginas —ou 6,8 mil palavras— em seus planos para analisar e fazer propostas para o setor. Levantamento feito pela Lupa e publicado na Folha mostrou que a segurança era o principal tema levantado pelos então pré-candidatos em julho, no Twitter.

Haddad (PT), com 38% das intenções de voto na pesquisa Datafolha, critica a política “beligerante e de confronto” da gestão passada, pontua que ela não foi capaz de diminuir os furtos e roubos e reclama da baixa taxa de esclarecimento de crimes. O candidato também defende fortalecer as delegacias da mulher para coibir feminicídios e violência doméstica, além de ampliar o projeto que instalou câmeras corporais e a integração entre as polícias.

Um dos pontos principais do plano do petista é diminuir ainda mais a letalidade policial, que caiu 30% entre 2020 e 2021 com o uso de câmeras nas fardas, mas ainda atinge, principalmente, jovens negros. Para isso, Haddad propõe criar protocolos operacionais e disciplinas na formação policial, fortalecer a ouvidoria e valorizar a carreira policial.

Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem 16% das intenções de voto, propõe o uso de tecnologia e a integração entre as polícias militar e civil e a guarda municipal para impedir que a população “sofra nas mãos dos criminosos”. Ele ainda elenca a valorização policial, incluindo aumento de efetivo e revisão do regime de trabalho e dos planos de carreira, como um dos pontos-chave para o setor.

Freitas também defende o fortalecimento das delegacias da mulher. Porém, o ex-ministro da Infraestrutura se posiciona contrário ao uso de câmeras nas fardas policiais. Em seu plano de governo, ele promete “rever a política das câmeras corporais” —ele já chegou a dizer que as câmeras representam perigo aos agentes de segurança.

Rodrigo Garcia (PSDB), com 11% das intenções de voto, promete “tolerância zero” com a criminalidade. Em seu plano, o governador defende as medidas implementadas por ele e João Doria (PSDB) e promete valorizar a carreira dos policiais, fortalecer o policiamento nas divisas do estado e ampliar a atuação das delegacias da mulher.

Após dizer que tinha dúvidas em relação às câmeras nos uniformes policiais, Garcia agora defende a ampliação da política. Afirma ainda que pretende integrá-las com as câmeras de monitoramento das cidades para criar uma espécie de “delegacia virtual”.

Ele ainda propõe pautar projetos de lei que endureçam penas para o crime organizado e o tráfico de drogas, além de dificultar a possibilidade de progressão de regime para quem já está preso.

Carol Vigliar (UP), com 2% das intenções de voto, propõe uma reorganização total da política estadual de segurança pública com participação popular. Para isso, ela pede a desmilitarização das polícias e o fim da violência policial contra a juventude, o que, segundo ela, passa por uma reestruturação na formação dos agentes.

Gabriel Colombo (PCB), também com 2% no Datafolha, promete lutar pela extinção da polícia militar, pela criação de um conselho popular de segurança e por uma reestruturação completa do setor. Também elenca como prioridade reduzir homicídios e feminicídios. O candidato ainda pretende expandir o uso de câmeras corporais para 100% do efetivo.

Elvis Cezar (PDT), com 1% das intenções de voto, classifica como “essencial” investir nos policiais, seja com maiores salários ou novas tecnologias. Ainda propõe combater o tráfico de armas e drogas, o contrabando, a lavagem de dinheiro e a violência contra as mulheres. Cezar não cita as câmeras nos uniformes policiais em seu plano, mas sinalizou, durante sabatina de Folha e UOL, que tem ressalvas à política por ser “desumana”.

Altino Junior (PSTU), com 1% no Datafolha, defende a desmilitarização da polícia militar, para impedir o assassinato de jovens negros na periferia, a criação de um polícia civil unificada com eleição dos comandantes e a descriminalização das drogas. Também propõe instituir o direito de “autodefesa” das comunidades contra a violência policial.

Edson Dorta (PCO), também com 1%, segue o mesmo caminho. Ele defende a dissolução da polícia militar e de “todo o aparato repressivo”, sugerindo a criação de comitês de autodefesa para trabalhadores.

Vinicius Poit (Novo), que soma 1% das intenções de voto, pretende criar um órgão de gestão integrada das forças de segurança e apoiar a implementação das guardas municipais. Em relação à violência contra a mulher, ele propõe qualificar delegados e policiais femininas, além de campanhas contra o assédio. Poit não cita as câmeras corporais em seu plano, mas já se posicionou a favor da medida.

Especialistas em segurança afirmam que propostas como a integração das polícias e o combate à violência contra a mulher são importantes, mas pontuam a importância de os candidatos se aprofundarem nas ações que pretendem tomar.

“A integração surge como uma conversa ampla em toda eleição, mas como isso será feito é a pergunta mais importante. É interessante pensar em modelos de força-tarefa para problemas específicos, como uma para o crime organizado, juntando as polícias e a Justiça, ou para combater a violência contra a mulher”, analisa Rafael Alcadipani, membro do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).

Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz, observa que o modelo que divide o patrulhamento e as investigações dos crimes praticamente só existe no Brasil. “É um ciclo fragmentado e traz uma série de problemas, como a perda de informações e um mesmo trabalho feito duas vezes”, observa.

Para Langeani, o uso de câmeras corporais deve estar inserido em um contexto que dê mais ferramentas ao policial, como a revisão de protocolos e a introdução de armas menos letais. “Tem muita evidência que mostra que as câmeras trazem benefícios à sociedade e a redução das mortes dos policiais”, ressalta.

Quanto ao combate à violência contra as mulheres, os especialistas ponderam que as medidas não devem se limitar a ampliar delegacias. “A prática é complexa porque as polícias já estão com falta de efetivo.

E nós precisamos de mais lugares como a Casa da Mulher Brasileira, com um atendimento multidimensional, além de campanhas e conscientização”, opina Alcadipani. Para Langeani, é necessário acompanhamento dos casos, como ocorreu com a patrulha Maria da Penha, e assistência social.

Folha