Evangélicos pró-Lula veem chance de crescimento da candidatura

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução e Cristiano Mariz

A 32 dias do primeiro turno da eleição presidencial, a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ainda tenta administrar divergências e acertar o passo quanto à estratégia para se aproximar do eleitorado evangélico, no qual Jair Bolsonaro tem sua maior vantagem sobre o petista segundo a pesquisa Ipec divulgada na última segunda-feira (29).

Nos bastidores, lideranças do segmento ligadas ao PT disputam espaço e influência na definição do rumo a ser tomado na campanha em relação ao tema.

Enquanto integrantes do núcleo duro de Lula ainda debatiam se o petista deveria adotar uma comunicação direta com evangélicos, líderes e articuladores fizeram chegar ao PT que a candidatura precisa de um choque de ordem – e, principalmente, de um porta-voz para o setor.

Lideranças petistas e evangélicas ouvidas pela equipe da coluna concordam em que que não será possível reverter a liderança de Bolsonaro a tempo do primeiro turno, mas há espaço para encurtar a distância – segundo o Ipec, Lula tem 26% das intenções de voto e sofre com 52% de rejeição no segmento – e fortalecer a estratégia do PT de faturar a eleição já no dia 2 de outubro.

Essa é a aposta da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que terá uma reunião com a campanha petista na próxima quinta (1) para discutir formas de ampliar as chances do ex-presidente no segmento. A entidade atua em 20 estados e conta com o suporte de 10 mil apoiadores, em especial nas periferias.

No próximo dia 9, está prevista uma reunião de Lula com lideranças evangélicas em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

Na avaliação de algumas dessas lideranças ouvidas pela equipe da coluna, que preferiram não se identificar, ao longo da pré-campanha ficou claro que havia uma resistência no PT em dialogar diretamente com o eleitorado evangélico – seja escolhendo um porta-voz para esse público ou mesmo um assessor dedicado à comunicação com o segmento.

Segundo essas fontes, parte da sigla “não entendeu” que o Brasil mudou nos últimos 30 anos. Embora os dados disponíveis sejam antigos, do Censo de 2010, a estimativa mais usada pelos estudiosos do tema é de que os evangélicos sejam 35% dos brasileiros. Projeções demográficas indicam que eles superarão os católicos até 2030.

A falta de estratégia da campanha petista para lidar com o eleitorado evangélico ficou evidente ao longo do último mês, quando Bolsonaro e Lula travaram uma espécie de “guerra santa” tendo o segmento como pano de fundo.

Após pastores bolsonaristas difundirem fake news de que o PT planejaria fechar igrejas caso ganhe a eleição, Lula reagiu acusando Bolsonaro de estar “possuído por demônios” em um comício em São Bernardo doCampo.

Aliados do petista divulgaram também uma arte que dizia “Bolsonaro usa Deus, e Deus usa Lula”. Houve troca de farpas até entre a primeira-dama Michelle Bolsonaro, evangélica, e a esposa de Lula, Janja.

Depois, Lula mudou de tom. O PT foi às redes defender que Lula é cristão e “governará para todos”, e o ex-presidente não usou figuras religiosas para se contrapor a Bolsonaro em nenhuma outra ocasião.

Para o coordenador nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, pastor Ariovaldo Ramos, a campanha do PT deve evitar “iscas” lançadas pelo bolsonarismo. “Entrar na lógica da guerra religiosa seria absolutamente contraproducente”, defende.

A proposta de convocar artistas e celebridades gospels para declararem apoio a Lula também enfrenta oposição de lideranças evangélicas, que a veem como outro exemplo da falta de conexão entre a campanha lulista e a realidade do eleitor evangélico por parte do segmento.

Na reunião desta semana, os interlocutores evangélicos de Lula dirão que a medida traria pouco impacto na conversão de votos ou na redução da rejeição: a carreira dos cantores é muito ligada aos pastores e, dessa forma, a sigla dificilmente conseguirá a adesão daqueles que já são vistos como simpáticos ao PT.

Já um integrante do núcleo duro da campanha de Lula defende que a coalizão do petista invista em todas as frentes.

“Ninguém melhor que evangélicos para dialogar e conquistar voto de confiança com o povo evangélico. Pastores, missionários, irmãos, cantores gospels, quem puder ajudar”, declarou, sob reserva.

Ariovaldo Ramos, por exemplo, já está conduzindo na Frente Evangélica um trabalho para diminuir a resistência do segmento ao PT. Segundo ele, o caminho para reduzir a diferença de Lula para Bolsonaro é trabalhar nas periferias, onde predominam os eleitores que ganham até dois salários mínimos e são ligados a igrejas independentes, ou seja, sem ligação com as denominações hoje alinhadas ao bolsonarismo.

“Imprimimos milhares de panfletos para distribuir nas periferias, dizendo que as propostas do PT têm respaldo bíblico e esclarecendo as fake news em torno das eleições e do candidato”, explica o pastor. “É preciso que se diga que Lula nunca ameaçou igreja alguma. No seu governo, houve um crescimento de 169% no número de igrejas registradas no país”.

Outra ação prevista pela Frente, que formalizou apoio a Lula no último dia 18, é a distribuição de lambe-lambes no caminho de igrejas do Rio e de Salvador abordando o aumento da violência com a flexibilização do acesso a armas e munições no governo Bolsonaro. O tema do armamento é sensível para a comunidade evangélica.

Essas são algumas das sugestões que a Frente Evangélica fará à equipe de Lula na próxima quinta-feira. Seja qual for a estratégia adotada, porém, precisa ser colocada em prática rapidamente, caso a campanha de Lula realmente esteja interessada em reduzir sua diferença para Bolsonaro antes do primeiro turno, que não é pequena.

Hoje, a distância entre os dois no segmento é de 22%, quatro pontos percentuais a mais do que no último levantamento Ipec há duas semanas.

O Globo