Extremismo entre bolsonaristas e petistas dispara em 2022
Foto: André Mello
A décima quarta rodada da série de pesquisas Genial/Quaest revelou uma ligeira alta no índice de polarização afetiva, uma forma de estimar o tamanho da divisão do eleitorado brasileiro e que o Pulso vai publicar com exclusividade até o fim do primeiro turno.
Os entrevistados responderam se amavam; gostavam, mas não chegavam a amar; não gostavam nem desgostavam; não gostavam, mas não chegavam a odiar; e, finalmente, se odiavam os pré-candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Inspirada em estudos mais comuns de empresas americanas de opinião pública, a série Genial/Quaest decidiu medir a distância entre os polos a partir dessas perguntas.
Foi criado um índice geral, que subiu ligeiramente, de 5,83 para 5,93, entre julho e agosto. Ao comparar com outras eleições usando dados de perguntas semelhantes do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), a Quaest mostra que esses índices já foram menores, sempre em torno de 4,3 a 4,4 entre 2002 e 2014. Em outras palavras, a divisão política no Brasil de hoje nem se compara com 20, 16 ou oito anos atrás.
A polarização afetiva, no entanto, está em queda entre eleitores de Lula e em alta entre os de Bolsonaro. Embora 51% dos que têm intenção de voto em Lula não gostem de Bolsonaro ou até o odeiem, esse percentual já foi de 58% em junho. Por outro lado, 32% dos apoiadores de Bolsonaro estão no rol dos polarizados que desgostam de Lula, mas esse resultado já foi menor (25%) em junho.
Cruzar respostas sobre gostar, desgostar, amar ou odiar um candidato ajuda a entender um pouco do que está por trás do apoio a pautas extremistas, por exemplo. Entre o grupo dos polarizados bolsonaristas, 23% afirmam que, caso o presidente seja derrotado em outubro, ele não deve aceitar o resultado. São minoria, uma vez que 71% desse grupo defendem o respeito aos números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, entre os polarizados lulistas, 92% afirmam que ele deve aceitar a derrota contra 4% que não aceitariam o resultado.
Embora em menor número no geral, os polarizados bolsonaristas são mais numerosos do que os lulistas entre os que ganham mais de cinco salários mínimos como renda familiar (44% a 41%). Na maior faixa do eleitorado, a que ganha até dois salários, os lulistas que não gostam de Bolsonaro são 58% contra 24% dos bolsonaristas que não gostam de Lula. Entre as duas religiões mais populares do país, a diferença também é notável. Diferentemente do resultado geral, entre os evangélicos são 47% os polarizados bolsonaristas contra 35% de lulistas antibolsonaristas. Entre católicos, por outro lado, 58% lulistas e 26% polarizados bolsonaristas.
— Lentamente a polarização vai aumentando, principalmente o volume de bolsonaristas polarizados, que cresce em vários setores, como evangélicos, muitos deles da base lulista, com menor renda, jovens, não brancos. Assim como antes, a polarização se associa à descrença nas urnas e apoio a golpes — analisa o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, que escreveu sobre o tema para o Pulso.
A confiança nas urnas eletrônicas é baixa entre os polarizados bolsonaristas, ou seja, aqueles que ficam posicionados mais longe entre o “amo/gosto” de Bolsonaro e “odeio/desgosto” de Lula. São 31% que dizem não confiar nas urnas eletrônicas e 41% cofiando “um pouco” ou “mais ou menos”. Outros 26%, no campo bolsonarista, dizem confiar muito nos equipamentos. No lado polarizado lulista, a situação é inversa: “confio muito” (59%); “confio um pouco/mais ou menos” (23%), “não confio” (15%).
Embora em menor número no total de eleitores de Bolsonaro, 59% dos polarizados no campo do presidente dizem que as chances de votar pela reeleição aumentaram após a reunião com os embaixadores na qual as urnas eletrônicas e todo o processo de votação do TSE foram questionados sem fundamento. Somente 8% dos polarizados bolsonaristas disseram que o encontro diminui a intenção de voto e 31% afirmaram que a reunião não faz diferença. No lado do polarizado Lulista, 66% dizem que as chances diminuem, enquanto, para 25%, não fez diferença e 7% responderam que houve um aumento na chance de votar em Bolsonaro após os ataques ao sistema eleitoral.
A pesquisa Genial/Quaest fez 2.000 entrevistas presenciais entre 28 e 31 de julho com eleitores de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mai sou menos, dentro de um intervalo de confiança de 95%. O levantamento está registrado no TSE com o número BR-02546/2022.