Haddad pode quebrar conservadorismo paulista
Foto: Kaio Lakaio/VEJA
Líder com folga em todas as pesquisas de intenção de voto ao governo de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com 34,6 milhões de eleitores, o ex-prefeito da capital Fernando Haddad (PT) tem pela frente uma série de obstáculos a um inédito trunfo petista no estado, como mostra reportagem de VEJA nesta semana. O Palácio dos Bandeirantes é comandado há quase três décadas pelo PSDB, o PT não chega ao segundo turno desde 2002, o eleitorado paulista, sobretudo do interior, é conservador e antipetista e Haddad ostenta uma rejeição muito superior às de seus principais concorrentes, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) – ambos muito menos conhecidos que o petista, ressalte-se. Diante dos desafios, Fernando Haddad e aliados têm estratégias definidas e trunfos para manter o favoritismo e quebrar o tabu petista em São Paulo.
A começar pelo amplo palanque formado em sua coligação, que inclui partidos como PSB, Rede e PSOL, entre outros, e lideranças como os ex-governadores Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente ao lado do ex-presidente Lula, e Márcio França (PSB), que disputa uma vaga no Senado na chapa de Haddad, além de Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede). De Alckmin, espera-se uma atuação que ajude a reduzir a resistência a Haddad sobretudo no interior paulista, onde o ex-tucano sempre nadou de braçada nas três eleições que venceu no estado. “Ele governou por 14 anos, é muito respeitado, um grande aliado no diálogo com o interior, um grande fiador”, diz o coordenador do plano de governo de Haddad, deputado estadual Emídio de Souza, para quem as agendas com o ex-tucano serão “decisivas”.
A fama de ser um “petista com cara de tucano”, como brincam aliados, e o perfil mais moderado que o de Lula também são citados por integrantes da campanha como elementos a torná-lo mais simpático a um eleitorado tradicionalmente distante do PT. A ideia, dizem interlocutores, é tentar atrair a Haddad os paulistas com “perfil Mário Covas”, o ex-governador tucano que alçou Alckmin ao poder no estado. “É aquele eleitor com dificuldade de votar em Garcia, por considerá-lo mais conservador e liberal, e que não vota em Tarcísio. Esse é o sujeito a ser procurado, o covista”, resume Márcio França.
Entre o eleitorado mais conservador, aparições de Haddad ao lado da esposa, Ana Estela, assim como Alckmin e França com suas respectivas mulheres, são vistas como estratégia de imagem a ser usada – os três aliados costumam brincar entre si que eles, somados, já têm mais de cem anos de casados. Para o agro e os pequenos produtores, cogita-se um programa para dobrar as safras em quatro anos, além de propostas para expandir ferrovias que barateiem o escoamento da produção. Na capital, a ideia é defender marcas da gestão de Haddad como prefeito, em tópicos da mobilidade urbana, como corredores de ônibus, ciclovias, bilhete único mensal e passe livre a estudantes, e, na saúde, a Rede Hora Certa.
No campo da política, aliados de Haddad veem na reprodução da polarização nacional a nível estadual o caminho mais simples para uma vitória em segundo turno contra Tarcísio Gomes de Freitas, enquanto Rodrigo Garcia é visto como um adversário possivelmente mais duro de ser vencido na parte decisiva do pleito. “Para Haddad, numa situação em que Lula está à frente em São Paulo e a rejeição de Bolsonaro é maior, ter Tarcísio como adversário é o melhor dos cenários”, avalia o cientista político Cláudio Couto, da FGV.
No círculo do petista, por cálculo eleitoral ou “pensamento positivo”, espera-se também um rápido avanço de Tarcísio nas pesquisas à medida que a campanha engrenar e a associação entre ele e Bolsonaro ficar mais evidente. “É difícil ele não chegar a 24% ou 25%”, diz França, antevendo um espaço estreito para crescimento do tucano. Por outro lado, Garcia tem os trunfos da caneta na mão e de se ver fora da polarização – segundo a Quaest, 40% dos eleitores no estado querem um governador que não seja ligado nem a Lula nem a Bolsonaro. Já Tarcísio tentará colar imagem à de Bolsonaro. “O objetivo é fazer com que a população saiba que Tarcísio é o candidato de Bolsonaro. A prioridade número um é acompanhar a agenda do presidente em São Paulo”, sintetiza Felício Ramuth (PSD), o vice na chapa bolsonarista.