Haddad usará prêmios internacionais para defender sua gestão
Foto: Bruno Santos/Folhapress
Uma provocação de Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante o primeiro debate na TV dos candidatos ao governo paulista gerou uma disputa a respeito do legado de Fernando Haddad (PT) à frente da Prefeitura de São Paulo.
Tarcísio pediu para que a população pesquisasse no Google “quem foi o pior prefeito de São Paulo”, numa provocação ao petista. Haddad rebateu pedindo para a população pesquisar a palavra genocida, em referência a Jair Bolsonaro (PL), que apoia Tarcísio.
Em resposta à estratégia que deve ser explorada pelos adversários, como mostrou a Folha, Haddad comprou um anúncio no Google para dizer que foi o melhor prefeito da cidade, mas o assunto deu novo fôlego para os bolsonaristas.
Segundo a assessoria do ex-prefeito, a estratégia de comprar o anúncio tinha como objetivo reduzir o volume de fake news.
Segundo o último Datafolha, do fim de junho, Haddad lidera a corrida para o Palácio dos Bandeirantes, com 34%. Em seguida, estão empatados, com 13%, Tarcísio e o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB).
As críticas ao ex-prefeito se embasam no fato de que Haddad teve a pior avaliação de um prefeito da cidade desde Celso Pitta (1997-2000).
Com três anos e sete meses, a administração era avaliada como ótima ou boa só por 14% do eleitorado —Pitta, na mesma época, tinha o índice de 7%. Para 48%, a gestão Haddad era ruim ou péssima.
Em 2016, quando tentou a reeleição, Haddad foi derrotado por João Doria (PSDB) no primeiro turno.
De acordo com integrantes da campanha de Tarcísio ouvidos pela Folha, haverá um esforço para citar ao eleitor que Haddad, na sua visão, foi um péssimo gestor. E, dizem eles, a pesquisa Datafolha será um meio de comprovar essa tese.
Na campanha de Haddad, o tema é visto como sensível, dado seu potencial de dano. O assunto vem reverberando nos últimos dias, com influencers bolsonaristas batendo na tecla da pecha de pior prefeito.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), por exemplo, fez uma montagem ironizando o anúncio comprado por Haddad. “Tarcísio mexeu com a estrutura do poste!”, escreveu.
A leitura de aliados de Haddad, no entanto, é a de que a acusação de pior prefeito não tem mais o mesmo efeito que teve em 2016, já que, de lá para cá, muitas ações contestadas na época acabaram aceitas pela sociedade, como a redução da velocidade e as faixas exclusivas de ônibus.
O anúncio de Haddad leva a um texto na página oficial do candidato intitulado “13 motivos que fizeram Haddad ser eleito o melhor prefeito da América Latina”.
“Já quando o assunto é o prefeito de São Paulo Fernando Haddad, a palavra imediata para definir a sua gestão é humanização e prêmios. Muitos prêmios”, diz o texto.
O anúncio foi exibido de 4 a 14 de agosto e foi direcionado para internautas do estado de São Paulo. O custo foi de R$ 500.
Em termos objetivos, Haddad cumpriu 67 das 123 metas propostas. Entre os pontos estão a entrega de apenas um CEU (Centro Educacional Unificado) entre 20 prometidos e a de um hospital (a meta eram 3).
A gestão que se seguiu afirmou ter herdado ao menos 35 obras suspensas, incluindo um hospital, corredores de ônibus e terminal de transporte.
Haddad foi eleito num cenário de crescimento econômico que, posteriormente, se inverteu. Esse ponto é citado por aliados do ex-prefeito para justificar as metas descumpridas.
Eles lembram que, apesar da falta de repasses prometidos pelo governo Dilma Rousseff (PT), várias obras foram deixadas em andamento e licitadas, citando ainda as finanças organizadas.
Entre os principais pontos positivos lembrados pelos petistas está a renegociação da dívida com a União, fazendo com que o saldo devedor da prefeitura diminuísse de R$ 76 bilhões para menos de R$ 30 bilhões, abrindo espaço para investimentos. A gestão de Haddad conseguiu grau de investimento da agência Fitch Ratings.
Além disso, houve a implantação de medidas baratas de mobilidade, como faixas de ônibus, ciclovias e redução de velocidades das vias. Embora tenham gerado desgaste numa cidade centrada nos carros, essas marcas são vistas de forma positiva pela maioria dos especialistas.
Na zeladoria, porém, houve muitas críticas, com diminuição do lixo varrido nas ruas e do serviço de tapa-buraco no fim do governo. Esse ponto e a questão das diminuições das velocidades nas marginais Tietê e Pinheiros viraram arma para João Doria nas eleições de 2016.
De acordo com o Google Trends, o termo “pior prefeito de São Paulo” teve um pico de buscas em 8 de agosto, dia seguinte ao debate, mostrando que a tática de Tarcísio teve efeito.
Fabio Malini, pesquisador de ciência de dados e redes sociais da Universidade Federal do Espírito Santo, afirma que o contra-ataque de Haddad, por meio da compra de palavras ou expressões no Google como forma de propaganda política, é uma tendência forte na campanha de 2022. “É uma estratégia de baixo custo e massiva”, diz ele.
O Datafolha mostrou que 30% dos eleitores não têm contas em redes sociais, mas esse público é impactado por anúncios no Google e YouTube.
Malini diz que a estratégia usada por Haddad é muito importante. “Quem não investir em compras de palavras possivelmente não vai ser visto, sobretudo neste momento antes da propaganda de rádio e TV, em que a campanha é totalmente digital.”
“Esses anúncios têm um elemento de muita capilaridade, dá pra saber de onde veio a busca, que público atingiu, então é um nível de assertividade absurdo”, completa.
No caso de Haddad e seus adversários, a dificuldade, segundo Malini, é encontrar termos de busca relacionados ao cotidiano das pessoas, que são mais acessados.
“Esses termos de ‘pior’ ou ‘melhor’, que têm um compromisso ideológico, não são tão buscados. Servem de efeito retórico para animar torcidas, acaba sendo a reprodução da briga de uma bolha ideológica”, diz.
Questionada sobre o anúncio, a campanha de Haddad afirmou que “a estratégia de comprar um anúncio tinha como objetivo tentar reduzir o volume de fake news, que passaram a ser divulgadas após o debate”.
Segundo a nota da assessoria de Haddad, Tarcísio fez uma “provocação no debate da Rede Bandeirantes ao incitar as pessoas a consultar o Google, articulada com o gabinete do ódio, para disseminar fake news”.
“Além de legal, todos os candidatos têm suas estratégias de rede”, completa a nota, citando que Tarcísio e Rodrigo também gastaram com anúncios nas redes sociais.