Importados dos EUA, debates perdem importância no Brasil

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Foto: John F. Kennedy Library Foundation/U.S. National Archives/Handout

Acredita-se que o início dos debates em televisão, na forma como se espalharam pelo mundo, se deu em 1960, na disputa entre John Kennedy e Richard Nixon. Kennedy teria vencido pela aparência de juventude, Nixon teria perdido por não ter feito a barba direito —ou pela iluminação, que penetrava sua pele.

O avanço da TV comercial naquele momento fazia pensar numa sobreposição da imagem em relação ao conteúdo, âmbito em que o segundo havia se saído melhor. E a pequena diferença final de votos entre os dois poderia, em tese, ter resultado da apresentação no debate.

Mas Nixon via de outra maneira, nada de TV: acreditava ter perdido por fraude eleitoral, aliás quase certa, como publicou recentemente o Financial Times.

Ou seja, parte do que se vende como poder da imagem, por marqueteiros ou nas próprias emissoras, seria explicado por ações mais concretas, como encher as urnas com votos falsos, na Chicago de 1960.

O debate Kennedy-Nixon levou à publicação do livro “The Image” em 1962, o primeiro de muitos sobre o que se apelidou de sociedade do espetáculo ou, mais recentemente, pós-verdade. O autor, um acadêmico conservador, listava os “pseudo-acontecimentos”, principalmente na mídia.

A sobrevalorização dos debates estimula controvérsias, como aquela em torno da edição do debate de 1989 no Jornal Nacional, mas são espetáculos, com protagonistas experientes e preparados para esta ou aquela cena, com roteiros e ensaios.

No Brasil, o marco inicial dos debates eleitorais contemporâneos pode ser identificado em 1982, quando Bandeirantes e Folha reuniram os candidatos a governador em São Paulo, entre eles Franco Montoro, que foi eleito, e um jovem Lula, menos matreiro.

O que ficou daquele programa inaugural foram as ironias do ex-presidente e ex-governador Jânio Quadros contra Montoro, engraçadas, mas sem efeito no voto. Também não se pode creditar a derrota de Lula em 1989, ele próprio não o faz, ao debate ou à sua edição.

Assim como não se pode creditar a vitória do então presidente Fernando Henrique Cardoso em 1998 à decisão, de Bandeirantes e Globo, de não realizar debates, depois de estourar o escândalo da compra dos votos para a emenda da reeleição. FHC levaria de qualquer jeito.

A resistência dos protagonistas Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) a comparecer a esse tipo de programa nas eleições deste ano —com idas e vindas e definições de última hora— é mais um degrau na lenta corrosão dos debates de televisão, talvez parte do enfraquecimento no poder do próprio meio. O excesso de regras dos últimos anos, impostas pelas equipes dos candidatos, já era sinal nessa direção.

Folha