Janones usa tática da internet no mundo real

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Foto: Reprodução

O deputado federal André Janones (Avante-MG) ganhou ainda mais protagonismo na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após levar para o primeiro debate entre presidenciáveis as mesmas técnicas que usa nas redes sociais contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores. Nos bastidores do evento, Janones e o ex-ministro Ricardo Salles (PL) se envolveram em uma briga depois de o deputado afirmar que “plantaria uma árvore na porta da casa” do antigo titular da pasta de Meio Ambiente.

Nas redes sociais, a briga se tornou um dos assuntos mais comentados sobre o debate. Janones publicou um vídeo que, segundo ele, “mostra quem começou a confusão”. Na gravação, Salles aparece questionando uma fala de Lula no debate e chamando o ex-presidente de “mentiroso”.

 

O deputado aproveitou para provocar o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) em publicação nesta terça-feira, 30. Segundo Janones, o filho do presidente foi à Justiça pedir R$ 20 mil como indenização por ter sido chamado de “miliciano bandido e vagabundo”. “Faz por 10 não? Eu pago em dinheiro vivo”, escreveu o parlamentar, em alusão à reportagem que revelou a compra de dezenas de imóveis com dinheiro em espécie realizadas pelo clã Bolsonaro.

Janones entrou para valer na campanha de Lula recentemente, mas já ficou claro a que veio. Sua atuação combina os “melhores” piores momentos de Carlos Bolsonaro e do deputado estadual cassado Mamãe Falei, como mostra a análise de Leonardo Mendes Júnior. Com atuação incisiva nas redes sociais, o apoiador de Lula carrega milhares de comentários e curtidas – métricas usadas para medir engajamento – em vídeos publicados com o título “Urgente”.

 

Advogado de formação, o deputado era pouco conhecido até cinco anos atrás, quando se destacou durante a greve dos caminhoneiros de 2018. A exposição foi essencial para garantir sua eleição à Câmara naquele ano. Na época, ele ganhou milhares de seguidores ao criticar o então presidente Michel Temer (MDB) e apoiar a categoria por meio de vários vídeos que viralizaram na web. Um deles ultrapassou 15 milhões de visualizações.

Dados levantados pela consultoria Bites a pedido do Estadão mostram que Janones teve quase 1000% mais seguidores no período entre 2019 e o começo de maio. O mineiro saiu de cerca de 1 milhão para 11 milhões e meio de usuários em seus perfis, aumento de 983%. Em 2020, em um vídeo sem preocupação estética e aos gritos de “agora” e “atenção”, Janones ostentou o título de dono da live mais comentada no mundo ocidental no Facebook.

Na ocasião, o tema principal de apelo em suas redes era a divulgação dos trâmites do Auxílio Emergencial. Sua exposição foi tamanha que chegou a pontuar em pesquisas de intenção de voto para presidente, mesmo sem ter colocado de pé uma pré-campanha incisiva. Ele rivalizou, inclusive, com o então governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e com outros nomes conhecidos do cenário nacional, como o da senadora Simone Tebet (MDB).

Com o embarque na candidatura de Lula, porém, Janones passou a ganhar ainda mais atenção nas buscas e importar as estratégias de redes para impulsionar o nome do petista.

 

Como mostrou o Estadão, com mais de 10 milhões de seguidores nas redes, ele se tornou um ativo valioso na campanha de Lula, principalmente por ser o único nome da esquerda capaz de rivalizar como cabo eleitoral digital com os filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL). Na campanha de 2018, a atuação de bolsonaristas nas redes foi considerada definidora na conversão de eleitores para o voto no atual presidente.

Agora, Janones diz liderar um “Gabinete do Bem” para divulgar informações sobre a campanha do petista para provocar a família Bolsonaro com denúncias. Em publicações recentes, alegou que Bolsonaro mandou “capangas armados” contra ele no Palácio do Planalto, questionou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro sobre esquemas de rachadinha, e disse ter sido autorizado pelos seguidores a “descer o sarrafo no lombo” de apoiadores de Bolsonaro durante a entrevista do presidente no Jornal Nacional.

Na semana passada, Janones fez subir aos Trending Topics do Twitter a hashtag “Janones eu autorizo”. Era a resposta da militância lulista a um pedido do deputado federal para “dar no lombo dos bolsonaristas”. Alguns tweets depois, ele deixou clara sua inspiração: publicou uma charge em que fazia Carlos Bolsonaro engolir um líquido verde de uma garrafa com o rótulo “próprio veneno”. Era uma referência ao “gabinete do ódio” articulado com a ajuda do filho “02″ do presidente e revelado pelo Estadão em 2019.

Interlocutores da campanha de Lula afirmam que Janones atua de forma independente nas redes sociais, como colaborador, e não integra o núcleo formal de comunicação, que é coordenado por Edinho Silva e Rui Falcão. Janones, porém, tem falado regularmente com Lula e dado conselhos ao ex-presidente.

 

A repercussão de sua postura no debate eleitoral e nas redes dividiu a campanha do ex-presidente. Ainda que elogiem declaradamente a atuação do parlamentar como um escudo para Lula nas redes sociais, território fértil de ataques de bolsonaristas, nos bastidores, integrantes do partido e de legendas aliadas adotam o discurso de que Janones age sem procuração da campanha.

Estadão