Lula diz à Fiesp que vai melhorar imagem do país

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Foto: André Penner/AP

Em uma apresentação para empresários realizada ontem na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato a presidente, afirmou que o Brasil atravessa uma severa crise de credibilidade internacional, fez acenos ao agronegócio, promessas de reformas e juras de responsabilidade fiscal.

Em uma crítica ao principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), reclamou da tentativa do que chamou de uso eleitoreiro do programa Auxílio Brasil, cujo benefício mínimo subiu de R$ 400 para R$ 600 em pleno período eleitoral e teve a sua primeira parcela com aumento paga ontem.

“É nesse clima que vamos concorrer a uma eleição, vendo um dos adversários fazendo a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu desde o fim do Império”, disse Lula. “Não se tem precedentes na história do Brasil de alguém que, faltando 57 dias para as eleições, resolva fazer uma distribuição de cinquenta e pouco bilhões de reais de um benefício que só dura até dezembro”. O custo estimado do aumento do Auxílio Brasil este ano é de R$ 26 bilhões.

Ao falar de reformas, o petista gastou mais tempo explicando como é difícil aprová-las do que detalhando o que pretende fazer se voltar à Presidência. Ele lembrou que em 2007, depois de uma longa costura com 27 governadores, empresários, sindicalistas e líderes partidários, apresentou um projeto convicto de que o pacote seria aprovado com facilidade. A matéria, porém, nunca andou no Congresso.

Lula prometeu repetir o esforço para tentar aprovar algo logo no início de um novo mandato. “Se a gente conseguir desonerar cada vez mais a produção e conseguir onerar o patrimônio, a gente pode estar fazendo justiça tanto com o produtor e com o consumidor”, afirmou.

“E nós vamos ter de fazer uma reforma administrativa, sim”, defendeu. “Tem pouca gente [em carreiras do setor público] ganhando muito e muita gente ganhando muito pouco. É preciso tentar fazer um equilíbrio.”

O ex-presidente afirmou que o país tem “muita gente preparada” na área administrativa para auxiliar o governo numa reforma desse tipo. “O Brasil precisa amoldar a burocracia a uma nova cultura”, defendeu.

Em vários trechos de sua apresentação Lula buscou dar ênfase à necessidade de resgate da credibilidade internacional do país e no cuidado fiscal.

Ele chamou a atenção para o fato de Bolsonaro não ser convidado para visitar outros países e de não existir chefes de Estado dispostos a visitar o Brasil.

Ao falar de responsabilidade fiscal, disse que o tema “é quase que uma profissão de fé” para ele. “Eu aprendi que a gente só pode gastar aquilo que a gente ganha, só o que arrecada. E só pode fazer dívida se não for para custeio.” No entanto, ele repetiu críticas à regra do teto de gastos, norma criada em 2016 durante o governo Michel Temer como reação a um déficit público de mais de R$ 100 bilhões, registrado em 2015, último ano de administração petista.

O petista afirmou que durante seus mandatos, de 2003 a 2010, a dívida do país foi reduzida de algo próximo a 65% do Produto Interno Bruto (PIB) para 40%. Na realidade, a relação estava em 57% em 2003. Disse ainda que quitou a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e depois chegou a emprestar para a instituição (isso aconteceu em 2009).

O petista também aproveitou a oportunidade para fazer acenos ao agronegócio. Acompanhado do empresário Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura em seu governo, afirmou não entender por que Bolsonaro é tão popular no meio.

“Eu queria saber por que o agronegócio gosta do Bolsonaro. O que o Bolsonaro fez de bom para o agronegócio? Nada. Eu duvido alguém dizer o que o Bolsonaro fez para o agronegócio. A última medida grande para o agronegócio foi feita por nós, 2008, quando a gente resolveu o problema de securitização da dívida. O resto é o Plano Safra normal.”

Lula reclamou então que muitas vezes ouve dizer que há antipatia de representantes do agronegócio com seu nome em razão das invasões de terras produtivas. Trata-se, segundo ele, de uma ideia falsa.

“Eu pedi todos os endereços das terras produtivas invadidas. Porque, na verdade, os sem-terra invadiam a terra, mas era o governo que pagava, desapropriava, depois dava dinheiro para a produção, comercialização, para construir casa e para a educação. Se alguém souber, por favor, me dê o endereço de uma terra produtiva que foi invadida pelos sem-terra”, provocou.

Lula manifestou interesse em debater com representantes do setor. “Queremos apenas a chance de conversar com o agronegócio”, disse, “até aqueles mais raivosos”. Na sequência, brincou que só será preciso verificar na entrada se alguns não irão armados para o encontro com ele.

A pedido de Lula, o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do plano de governo do PT, e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente, também falaram aos empresários.

Mercadante fez uma defesa da reindustrialização e do fortalecimento do Estado e deu ênfase à necessidade de atenção à questão climática. Alckmin agradeceu à Fiesp por liderar a confecção de uma carta a favor da democracia e do estado de direito.

Também acompanharam Lula no evento da Fiesp, entre outros, o economista André Lara Resende, ex-presidente do BNDES e um dos formuladores do Plano Real, em 1994. Nas eleições de 2018, Lara Resende colaborou para a campanha de Marina Silva. Ao Valor, o economista negou que esteja contribuindo com o programa petista.

Valor Econômico