Lula prepara reação a ataques de Bolsonaro
Foto: AFP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotará a máxima de que a melhor defesa é o ataque para lidar com um dos temas com maior potencial de desgaste, os escândalos de corrupção nas gestões petistas. A estratégia da campanha está apoiada em três eixos: lembrar as acusações de malfeitos contra o seu principal adversário, presidente Jair Bolsonaro (PL), e os aliados dele; pregar a tese de que o partido foi o que mais deu liberdade e investiu em órgãos de investigação; e desconstruir a Operação Lava-Jato.
O PT não pretende pautar o assunto durante a corrida presidencial, mas já elabora a narrativa para enfrentá-lo. A maior preocupação passa pelos ataques que deverão ser feitos por Bolsonaro. Nesse caso, o plano é apontar que o presidente “colocou a corrupção para debaixo do tapete”, instrumentalizando instituições de repressão e controle para sufocar apurações sufocando investigações.
Para isso, o petista vai lembrar do suposto esquema de recolhimento de salários de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro (PL) quando ele era deputado estadual no Rio, prática conhecida como “rachadinha”. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), porém, anulou essa ação por questões processuais. Também baterá na atuação de pastores junto ao Ministério da Educação, escândalo que custou o cargo do então ministro Milton Ribeiro. A campanha falará ainda a respeito dos episódios em que o presidente foi acusado de interferir no trabalho da Polícia Federal, sobretudo, trocando delegados de cargos estratégicos.
Uma peça publicitária já pronta, que circula nas redes sociais, cita alguns desses casos e também aborda o sigilo de 100 anos que Bolsonaro impôs sobre documentos sensíveis ao governo, entre os quais sua carteira de vacinação e os crachás de acesso de determinados personagens ao Palácio do Planalto. No vídeo de 29 segundos, pessoas tentam falar sobre casos que incomodam o Executivo, mas têm a boca tampada por um esparadrapo.
O tema da corrupção é um dos mais utilizados por Bolsonaro para atacar os governos de Lula e Dilma, estratégia que deve continua na campanha eleitoral. O presidente costuma dizer que antes havia escândalos toda semana, e cita a delação do ex-ministro Antonio Palocci para afirmar que todos os principais órgãos foram loteados nas administrações petistas.
Nas últimas semanas, para criticar Lula, o presidente também tem utilizado com frequência uma analogia de uma pessoa demitida por roubar seu patrão, mas que anos depois volta a pedir emprego para a mesma pessoa.
— Imagine uma pessoa que durante anos roubou o teu banco. E 14 anos depois descobriu que roubava seu banco, e você manda ele embora. Seis anos depois, essa pessoa procura o teu banco pedindo emprego. Você vai dar emprego pra essa pessoa? Então para de querer apoiar o cara errado, pô! Que te roubou durante 14 anos. Quer botar esse cara pra voltar a roubar teu banco de novo? — disse Bolsonaro, em entrevista ao podcast Flow, há duas semanas.
Por outro lado, o presidente também já adota estratégias para rebater acusações contra seu governo. Em relação à suspeita de irregularidade na compra da vacina indiana Covaxin, que foi investigada na CPI da Covid, Bolsonaro repete sempre que nenhuma dose foi comprada.
Sobre a suspeita de “rachadinha” no gabinete de Flávio, Bolsonaro minimiza os repasses feitos pelo ex-assessor Fabricio Queiroz. Também na entrevista ao Flow, o presidente afirmou que se arrependeu de ter autorizado que Queiroz depositasse cheques que somaram R$ 89 mil na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro — que, segundo ele, seriam o pagamento de um empréstimo. Os repasses foram detectados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
— Quando apareceu isso, de imediato, eu falei que o cheque era para mim. Eu conheço o Queiroz desde 1985 na Brigada Paraquedista, foi meu soldado, pessoa de confiança minha, pagava conta minha. Emprestei para ele, é comum, tinha toda a liberdade. Pagou em cheque para mim, e eu botei na conta da Michelle. Eu me arrependo, poderia ter botado na minha conta, porque ela sofreu. O dinheiro foi para mim, ponto final.
Petistas reconhecem que uma parcela do eleitorado cola o selo de corrupto à imagem de Lula. Ele foi investigado pelo escândalo do mensalão, que consistiu na compra de apoio parlamentar no Congresso, em 2005, durante seu primeiro mandato. Anos mais tarde, foi preso pela Lava-Jato, acusado de receber propina de empresários. O Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, anulou essa condenação, também por questões processuais.
O PT avalia que, após a decisão do Supremo que beneficiou Lula, o partido conseguiu avançar na narrativa de desconstrução da Lava-Jato, principalmente em setores mais refratários ao ex-presidente, como em parte da classe média e do empresariado. Os estrategistas da campanha acreditam que a dúvida a respeito de legitimidade dos processos, dado o tamanho do desgaste que causaram a Lula, já o favorece.
Sobretudo quanto for alvo de ataques por parte dos demais candidatos, que não sejam Bolsonaro, Lula deverá insistir na tese de que ele e sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), deram autonomia à Controladoria-Geral da União (CGU), Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Além disso, a campanha está reunindo dados de investimentos em estrutura e inteligência, informações de valorização das carreiras e o número de operações policiais na PF durante o governo Lula.
— Se antes o tema da corrupção era um tabu, hoje, sob nenhum aspecto ele é. Se Bolsonaro pautar essa discussão, ele vai cair em uma armadilha — afirma o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Grupo Prerrogativas e próximo ao ex-presidente.
Em relação a Petrobras, foco do maior escândalo de corrupção das gestões petistas, caso os valores de propina recuperados à estatal pela Lava-Jato sejam apontados, o PT planeja usar dados de uma pesquisa de 2021 feita pelo DIEESE, entidade mantida pelo movimento sindical e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). O levantamento aponta que as consequências da operação custaram 4,4 milhões de empregos e a redução de 172 milhões de investimentos previstos para a Petrobras e a construção civil no país entre 2014 a 2017.