Presidente da Fiesp diz que discutir urnas é perda de tempo

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Foto: Claudio Belli/Valor

Em resposta aos ataques ao sistema eleitoral feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) publicou, nesta sexta-feira, seu manifesto “Em defesa da Democracia e da Justiça” ao lado de mais de 100 entidades da sociedade civil. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, o presidente da federação, Josué Gomes da Silva, afirmou que não há liberalismo sem democracia e que a sociedade deveria estar discutindo uma agenda para o país.

— É natural que a Fiesp assine um manifesto em defesa da democracia, já que não existe liberalismo, economia de mercado ou propriedade privada, valores tão caros à entidade e ao setor industrial, sem que exista segurança jurídica, cujo pilar essencial é a democracia e o Estado de Direito — afirmou.

Na carta, as entidades defendem o respeito ao voto popular nas eleições, a harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), “que tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições respeitadas internacionalmente”.

— Não deveríamos estar discutindo, a esta altura do campeonato, a urna eletrônica, e sim uma agenda para o país, como fomentar o desenvolvimento. Não há como ignorarmos a insegurança criada pela contestação da confiabilidade do sistema eleitoral e do Judiciário — disse Josué.

O empresário destacou que o processo eleitoral é central para a democracia e já se provou seguro no país, com eleições em urnas eletrônicas desde 1996 sem qualquer questionamento. Ele ainda fez menção ao ocorrido nos Estados Unidos, quando o ex-presidente americano Donald Trump não aceitou a derrota para o democrata Joe Biden na eleição de 2020.

— E quando isso não ocorreu, acabamos vendo cenas lamentáveis como 6 de janeiro. Nós não podemos aceitar que um 6 de janeiro aconteça no Brasil — declarou o empresário, negando que o manifesto seja partidário ou em defesa do ex-presidente Lula.

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O texto foi subscrito por 107 entidades, entre elas a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Câmara Americana de Comércio, a Fecomercio e o Sindusfarma.

O manifesto das entidades será lançado no dia 11 pela Fiesp. No mesmo dia, empresários e membros da sociedade civil lançarão uma carta em defesa do Estado Democrático de Direito na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. O documento conta com o apoio de mais de 740 mil pessoas.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar o STF e o TSE com mais veemência nas últimas semanas. Ele continua a afirmar, mesmo sem provas, que o sistema eleitoral foi fraudado. Na semana passada, Bolsonaro criticou o presidente da Fiesp e o documento, classificando-o como “nota política em ano eleitoral”. O presidente disse que o manifesto defende “um ladrão” e referiu-se ao fato de Josué ser filho do vice do ex-presidente Lula (PT), José Alencar, morto em 2011.

A Fiesp convidou todos os candidatos a assinar o manifesto, mas Bolsonaro disse que não irá fazê-lo. O presidente também suspendeu encontros com empresários em São Paulo no dia 11 de agosto, entre eles uma reunião com Fiesp para discutir propostas para a indústria.

Até o momento, apenas Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT) e Luis Felipe Dávila (Novo), que já se reuniram com a entidade, assinaram o documento. O ex-presidente Lula deve ir à entidade na próxima terça-feira.

O Globo