Trabalhadores usam vale-refeição para comer carne
O avanço da inflação e a queda na renda tem mudado o comportamento do brasileiro quando se trata do uso do vale-refeição. Diante da disparada do preço da carne no supermercado, consumir mais proteínas na hora do almoço tem sido uma prioridade para os trabalhadores que se alimentam fora de casa. É o que revela pesquisa da Associação Brasileira de Benefícios ao Trabalhador (ABBT). Nos últimos seis meses, o consumo de proteínas de origem animal foi o que mais cresceu no horário do almoço nos restaurantes, se comparado com outros itens que compõem uma refeição.
Para 46% dos estabelecimentos, o consumo de proteína animal pelos clientes que utilizam o benefício foi o que mais cresceu. A pesquisa foi feita em parceria com a Mosaiclab, empresa especialista em pesquisa de mercado, e ouviu proprietários de 4.487 restaurantes divididos entre as cinco regiões brasileiras, entre fevereiro e abril deste ano.
Jessica Srour, diretora-executiva da ABBT, explica que a pandemia modificou a relação do consumidor com a alimentação, o que tem levado o brasileiro de forma geral a optar por alimentos mais saudáveis nas refeições.
Mas há também a inflação como fator relevante no horizonte, que faz com que o trabalhador priorize o consumo de proteínas e verduras em tempos de crise e diminua os gastos com fast foods e lanches não-saudáveis através do benefício-refeição.
— Os sucessivos aumentos do gás de cozinha e dos alimentos levaram o trabalhador a usar o benefício-refeição para consumir no almoço aqueles produtos que estavam mais caros no supermercado, como a carne vermelha. Muitas pessoas passaram a fazer uma alimentação mais robusta no almoço e, de noite, uma refeição mais leve como sanduíche, sopa ou lanche — diz a porta-voz da ABBT, entidade que reúne 16 principais empresas do ramo em atuação no país, como Alelo, Sodexo e VR.
Jessica destaca ainda que os restaurantes conseguem ter mais condições de driblar o aumento dos preços se comparado com as famílias. O vale-alimentação e o vale-refeição fazem parte do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que traz benefícios fiscais para as empresas e tem como foco os trabalhadores de baixa renda. Aproximadamente 85% dos trabalhadores que recebem o benefício ganham até cinco salários mínimos mensais.
Margens pressionadas
Segundo a executiva, os restaurantes foram duramente afetados pela pandemia de Covid-19 e, embora tenham lidado com o aumento dos custos do gás, diesel, aluguel e eletricidade, passaram a adotar estratégias para manter a competitividade e contornar parte da alta dos preços.
Jessica lembra ainda que o percentual de aumento da inflação dentro de casa foi maior do que fora de casa nos restaurantes no período da pesquisa. No acumulado de seis meses até abril, a inflação da alimentação no domicílio no país já alcançava a casa dos 10%, pressionada pelos preços das carnes, pescados, aves e ovos nos supermercados. No mesmo período, a inflação da alimentação fora do domicílio ficou em 2,6%.
— A gente viu que houve adaptação de cardápio e um enxugamento de custos. Os restaurantes diminuíram significativamente a margem de lucro, operando com uma margem menor do que no passado para conseguir sobreviver — completou Jessica.
Globo